Agnello cala sobre herança maldita de Roriz e Arruda
- Do blog de João Bosco Rabello - - Do Estado de São Paulo - Ainda no cargo, o ex-governador José Roberto Arruda, explicava suas ligações com o submundo dos governos de Joaquim Roriz, dos quais participou, como decorrência natural das alianças necessárias à estabilidade política dos governos.Ia mais longe quando cobrado pelo silêncio em relação à notória chantagem que o prendia ao cúmplice e algoz, Durval Barbosa. “Vocês precisam entender que ganhei a eleição por dentro”, repetia sempre.Ou seja, Arruda elegeu-se à base de acordos costurados com o que de pior havia em Brasília, uma máfia cujo núcleo de poder era centralizado na Câmara Distrital com ramificações no empresariado local e no ministério público.Deu no que deu: uma cidade, a Capital da República, assaltada por uma quadrilha suprapartidária que levou os setores de Saúde, Educação, Transportes e Infraestrutura à falência. E um governador deposto e preso.O Supremo Tribunal Federal recusou o pedido de intervenção do Procurador Geral, Roberto Gurgel, deixando à própria quadrilha a tarefa de encontrar uma saída política para a crise.O vice-governador, Paulo Octávio, não pôde assumir e renunciou; a Câmara, com mais de 90% de seus integrantes envolvidos na sucessão de crimes contra o erário, elegeu um desconhecido para um mandato-tampão logo interrompido para que assumisse o posto um outro, Rogério Rosso. Não por virtudes, posto que demonstrou não tê-las, mas pela capacidade de fazer o que fosse preciso para salvar interesses sob risco.Cria de Roriz, governou sob suas ordens e de Durval Barbosa, entregou-se ao deboche, dando-se ao desplante de despachar de bermudas e de casa. Agravou a crise e deixou o posto com Brasília numa situação de pleno abandono. Recusou-se a fazer a transição para o sucessor eleito, Agnelo Queiroz, do PT. Cancelou contratos com empresas de limpeza para que o mato crescesse à volta de toda a cidade.O novo governador é , pois, provavelmente o único com legitimidade para se dizer vítima de uma “herança maldita”, acusação banalizada por governantes populistas de discurso político desonesto.Mas estranhamente não o faz. Agnelo não denuncia o que já foi levantado na sua gestão – e que não foi pouco. Desvios de dinheiro em todas as áreas do governo, estado de calamidade na Saúde e na Educação, trânsito desgovernado, polícia civil em uma briga intestina que já produziu afastamentos e processos internos.Denunciar não é uma opção no caso de Agnelo, mas um dever. Sobretudo porque não anunciou até agora – e nem na campanha – sequer uma linha sobre políticas para as áreas destruídas pelos seus antecessores.Não se conhece que políticas tem – se é que tem – para a Saúde, Educação, Trânsito (que continua entregue aos radares arrecadadores), Segurança, entre outras.Considerando que Agnelo tomou conhecimento, ainda candidato, dos famosos vídeos de Durval Barbosa sem jamais mencioná-los, o silêncio após a posse é, no mínimo, constrangedor.O governador aplicou a mesma receita de seu antecessor para eleger-se: costurou acordos “por dentro”, com parcela significativa dos cúmplices de Arruda, que já o foram também de Roriz.Tudo bem, que se debite isso à inevitabilidade das alianças pela estabilidade política. Mas é preciso levar em conta que a Câmara Distrital mantém entre seus integrantes, aliados envolvidos nas falcatruas anteriores, entre os quais parlamentares-empresários com contratos milionários com o governo, caso da deputada Eliana Pedrosa.O cidadão brasiliense continua com a sensação de desgoverno. Nenhuma medida saneadora anunciada, nem uma menção a perspectivas de mudança, nenhum sinal de luz no fim do túnel.Por ora, a “herança maldita” de Agnelo serviu apenas para justificar mais contratos sem licitação, dada a emergência real na Saúde e Educação.O governador deve à população uma detalhada radiografia do que encontrou, com responsáveis e providências identificados claramente.Não é opção, é dever. Sob pena de começar a construir a imagem de refém também do obscuro método de vencer “por dentro”.Afinal, Durval continua livre, leve e solto, desenhando uma das páginas mais vergonhosas para o Judiciário brasileiro.