Apesar do crescimento da economia e do avanço das políticas sociais, o Brasil está longe de reduzir o fosso entre as regiões. Ao longo da última década, as diferenças apenas ganharam novos formatos. E nenhum outro Estado do País, representa tanto esse abismo entre a riqueza e a pobreza do que o Pará. A diferença entre a região do Estado com a maior renda per capita chega a ser 8,83 vezes superior a das áreas mais pobres.
Não à toa, o Pará ainda está no topo das disparidades em relação ao ritmo de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios que o compõem. Enquanto uma pequena parte do Estado ganhou musculatura para se tornar uma das maiores economias do País, o restante encolheu no mesmo período. É inevitável a constatação de que o Pará, dentre todas as unidades federativas, é a que melhor se associa à feição da "Belíndia", termo criado pelo economista Edmar Bacha, na década de 70, para ilustrar o modelo econômico que unia a riqueza da pequena Bélgica com a pobreza da continental Índia. Vista aérea da cidade de Belém - PA
Feira do Porto da Palha - Belém - PA
Essas discrepâncias foram desvendadas pelo Mapa da Distribuição Espacial da Renda no Brasil, levantamento elaborado pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon), ao qual O LIBERAL teve acesso com exclusividade. Feito em 220 áreas de todo o País, com base em dados de 2008, o estudo mostra que os resultados acumulados até hoje não são nada relevantes. O Norte e Nordeste do País continuam na rabeira do desenvolvimento nacional, sendo que as áreas avaliadas dentro do Estado do Pará tem um papel protagonista na totalidade das análises.
No geral, o PIB per capita do Estado é de R$ 8.301,00, o sexto menor do País, no entanto, entre 1999 e 2008, a taxa de crescimento do PIB foi a 12ª maior entre todos os Estados (5,04%). Em relação ao PIB per capita, a taxa foi de 3,03%, a 14ª do Brasil. Os últimos números são puxados pela evolução da região do Carajás, cujo polo regional é o município de Marabá, detentor do maior PIB per capita (R$ 24.179,70) entre todas as áreas nortistas e nordestinas pesquisadas. Na comparação nacional, a região aparece como a 12ª mais rica do País. Já o ritmo de evolução na última década foi de 12,32% ao ano, a terceira posição do ranking brasileiro.
CARÊNCIASRegião do Marajó aparece como a de menor renda per capita nacional
O mesmo tempo que concentra uma das área que mais crescem no País, cerca de o dobro da média nacional, o Pará também é palco das regiõs com os maiores “bolsões de pobreza do País”. A região do Marajó, com destaque para o pólo de Breves, tem a menor renda média per capita do país: R$ 2.739,10. Na região do Rio Caetés, nas proximidades de Bragança, a renda média é de apenas R$ 3.439,00. Ainda aparece entre as trinta regiões de menor PIB per capita, os municípios do Tapajós, com média de R$ 4.026,20. Segundo o levantamento, com exceção do Carajás e da Região Metropolitana de Belém, a quase totalidade dos municípios paraenses tiveram crescimentos bem inferior à média nacional.
Em quatro municípios, o crescimento do PIB per capita foi negativo: Redenção (-3,897), Breves (-3,402), Altamira (-3,122) e Paragominas (-2,023). “O Estado do Pará, em oposição aos distintos graus de dinamismo observado nas regiões de baixa renda,especialmente nos Estados do Maranhão e Amazonas, apresenta um quadro grave, de uma maioria das régios que combinam a condição de baixa renda e estagnadas”, diz o levantamento.
Na avaliação do economista Julio Miragaya, coordenador do estudo, os dados de desigualdade encontrados no Pará são “impressionantes” e “preocupantes”. Ele observa que a renda per capita notada nas regiões mais pobres do Sul do País, tem valores muito próximos da renda per capita identificada em todo o Estado. “A situação no Pará é muito ruim. É ruim no ponto de vista do tamanho da dimensão da renda, uma vez que a maior parte da região tem uma renda per capita reduzida, com um desempenho nos últimos anos bem modesto, com exceção da região do Carajás, por conta dos grandes investimentos minerais. E também pela extrema disparidade da renda. Nós temos a região de Carajás, que é a renda mais elevada das regiões Norte e Nordeste, que, inclusive é uma vez e meia a média da renda nacional, mas também temos uma grande quantidade de regiões pobres no Pará, inclusive as de menores PIBs per capita do Brasil. Das dez regiões mais pobres do Norte, cinco são paraenses. É um quadro muito ruim repito”, destaca. Miragaya destaca a estagnação econômica e a conseqüente falta de desenvolvimento nessas regiões desemboca nas situações de violência que tem se presenciado atualmente, como os conflitos agrários que nas últimas semanas culminaram na morte de cinco camponeses no Estado.
SEPARATISMOAlém disso, segundo ele, o retrato apontado pelo mapa da distribuição espacial da renda no Pará também justifica o movimento separatistas. “O Pará não conseguiu fazer com que os investimentos desenvolvessem industrialmente todo Estado. Então isso desdobra para aspectos políticos, onde nenhum dos últimos três governadores deve ser acusado isoladamente, mas sim considerar que foi irresponsabilidade dos três juntos. E diante dessa estagnação, sem dar essa esperança de desenvolvimento integrado para o conjunto do Estado, cresce o discurso separatista”, afirma.
O estudo indica ainda que a Região Metropolitana de Belém teve uma taxa de crescimento de 2,757% ao ano, na última década. A evolução, dentro da margem nacional, não foi suficiente para tirar a capital do Estado da penúltima posição no valor do PIB per capita, com valor de R$ 9.584,30. Só fica na frente da RM de Teresina (PI) que ficou com R$ 8.745,20.
“Esse baixo PIB per capita de Belém com certeza, tem uma relação baixa taxa de industrialização da região metropolitana. A região é que tem a menor taxa de ocupação na indústria no País”, explica o economista. - Com informações do jornal O Liberal -