'Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma', afirmou.
Rossi era alvo de denúncias de irregularidades no ministério.
- Do G1, em Brasília -
Leia abaixo a íntegra da carta de demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi:"Brasília, 17 de agosto de 2011Neste ano e meio na condição de ministro da Agricultura do Brasil, consegui importantes conquistas. O presidente Lula fez tanto pela agricultura e a presidenta Dilma continuou esse apoio integralmente.Fiz o acordo da citricultura, anseio de mais de 40 anos de pequenos e médios produtores de laranja, a quem foi garantido um preço mínimo por sua produção.Construí o consenso na cadeia produtiva do café, setor onde antes os vários agentes sequer se sentavam à mesma mesa, com ganhos para todos, em especial os produtores.Lancei novos financiamentos para a pecuária, recuperação de pastagens, aquisição e retenção de matrizes e para renovação de canaviais.Aumentei o volume de financiamento agrícola a números jamais pensados e também os limites por produtor, protegendo o médio agricultor sempre tão esquecido.Criei e implantei o Programa ABC, Agricultura de Baixo Carbono, primeiro programa mundial que combina o aumento de produção de alimentos a preservação do meio ambiente, numa antecipação do que será a agricultura do futuro.Apoiei os produtores de milho, soja, algodão e outras culturas que hoje desfrutam de excelentes condições em prol do Brasil.Lutei por nossos criadores e produtores de carne bovina, suína e de aves que são protagonistas do mercado internacional.Melhorei a atenção a fruticultura, a apicultura e a produtos regionais, extrativistas e outras culturas.Apoiei os grandes, os médios e os pequenos produtores da agricultura familiar, mostrando que no Brasil há espaço para todos.Deus me permitiu estar no comando do Ministério da Agricultura neste momento mágico da agropecuária brasileira.Mas, durante os últimos 30 das, tenho enfrentado diariamente uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova, nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública.Respondi a cada acusação. Com documentos comprobatórios que a imprensa solenemente ignorou. Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas. As provas exibidas de sua falsidade nem sequer eram lembradas.Nada achando contra mim e no desespero de terem que confessar seu fracasso, alguns órgãos de imprensa partiram para a tentativa de achincalhe moral: faziam um enorme número de pretensas “denúncias” para que o leitor tivesse a falsa impressão de escândalo, de descontrole administrativo, de descalabro. Chegou-se à capa infame da “Veja”.Tudo falso, tudo rebatido. Mas a campanha insidiosa não parava.Usaram para me acusar, sem qualquer prova, pessoas a quem tive de afastar de suas funções por atos irregulares ou insinuações de que tinham atuado com interesses menos republicanos nas funções ocupadas. O principal suspeito de má conduta no setor de licitações passou a ser o acusador de seus pares. Deram voz até a figuras abomináveis que minha cidade já relegou ao sítio dos derrotados e dos invejosos crônicos. Alguns deles não passariam por um simples exame de sanidade.Ainda assim nada conseguiram contra mim. Aí tentaram chantagear meus colaboradores dizendo que contra eles tinham revelações terríveis a fazer, mas que não as publicariam se fizessem uma só acusação contra mim. Torpeza rejeitada.Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares. Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios.Embora me mova a vontade de confrontá-los, não os temo, nem a essa parte po dre da imprensa brasileira, mas não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares.Contra mim nem uma só acusação conseguiram provar. Mas me fizeram sofrer e aos meus. Não será por qualquer vaidade ou soberba minha que permitirei que levem sofrimento a inocentes.Hoje, minha esposa e meus filhos me fizeram carinhosamente um ultimato para que deixasse essa minha luta estóica mas inglória contra forças muito maiores do que eu possa ter. Minha única força é a verdade. Foi o elemento final da minha decisão irrevogável.Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma, do vice-presidente Michel Temer, do presidente Lula e dos líderes, deputados, senadores e companheiros do PMDB e de todos os partidos que tanto respaldo me deram.Agradeço também a todos os leais colaboradores do Ministério da Agricultura, da Conab, da Embrapa e de todos os órgãos afins. Penso assim ajudar o governo a continuar seu importante trabalho, retomando a normalidade na agricultura.Finalmente, reafirmo: continuo na luta pela agropecuária brasileira que tanto tem feito pelo bem de nosso Brasil. Agradeço as inúmeras manifestações de apoio incondicional da parte dos líderes maiores do agronegócio e de suas entidades e também aos simples produtores que nos enviaram sua solidariedade.Deus proteja o produtor rural e tantos quanto lutem na terra para produzir alimentos para o mundo. Deus permita que tenham a segurança jurídica necessária a seu trabalho que o Congresso há de lhes garantir. Lutei pela reforma do Código Florestal. É importante para o Brasil. Outros, talvez mais capazes, haverão de continuar essa luta até a vitória.Confio que o governo da querida presidenta Dilma Rousseff supere essa campanha sórdida e possa continuar a fazer tanto bem ao nosso país.Sei de onde partiu a campanha contra mim. Só um político brasileiro tem capacidade de pautar “Veja” e “Folha” e de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias.Mas minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra.Wagner RossiMinistro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento"A Polícia Federal abriu inquérito para investigar denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. De acordo com a assessoria de imprensa da PF, o inquérito de número 1526 foi instaurado na segunda-feira (15).
De acordo com o jornal "
O Globo", na própria segunda-feira a PF ouviu o ex-chefe da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista, que afirmou em reportagem da revista "
Veja" do fim de semana que o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, tinha conhecimento de fraudes em licitações. A PF não confirmou o depoimento de Batista.
Após a publicação da reportagem da "
Veja", durante o fim de semana, o ministro afirmou em nota oficial que Batista responde a processo administrativo disciplinar por sua conduta no Ministério da Agricultura. Rossi acusou ainda a revista de tentativa de "assassinato de reputação".
Nesta quarta-feira (17), o Ministério da Agricultura publicou no "Diário Oficial da União" a instauração de uma comissão de sindicância para apurar as denúncias da "Veja".A Controladoria Geral da União (CGU) havia informado na semana passada ter criado comissão para investigar denúncias sobre a atuação de um suposto lobista dentro do Ministério da Agricultura.
No último mês, o ministro da Agricultura foi alvo de diversas denúncias. Em depoimentos no Congresso, ele negou ter conhecimentos de irregularidades na pasta.
LobbyReportagem da revista "Veja" afirmou que um lobista que atuaria em uma sala no prédio do ministério e intermediaria negócios com empresas. De acordo com a revista,
Julio Fróes, o suposto lobista, teria um "escritório clandestino" dentro do ministério no qual prepararia editais, analisaria processos de licitação e defenderia os interesses de empresas nesses processos. O ministro negou que o lobista atue no ministério.
Irregularidades na ConabOutra denúncia da revista havia motivado a instauração de auditoria da Controladoria-Geral da República (CGU) para apurar
denúncias de irregularidades na pasta feitas pelo ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab),
Oscar Jucá Neto. Jucá Neto
afirmou que havia desvio de dinheiro da Conab.
Wagner Rossi afirmou que Jucá Neto criou "caso político" após ser demitido por ter cometido irregularidades.
LicitaçãoNeste fim de semana, a "Veja" trouxe o depoimento de Israel Batista dizendo que Rossi pode ter recebido propina em uma licitação. Em nota oficial, o ministro negou as denúncias.
Jatinho
Em nota divulgada nesta terça-feira (15), o ministro admitiu que já viajou de carona em um jatinho de uma empresa do ramo agropecuário que recebeu autorizações do ministério para produzir medicamento contra a febre aftosa, mas nega que a empresa tenha recebido "privilégios ou tratamento especial".A informação de que Rossi viajou no jatinho da
Ourofino Agronegócios foi divulgada na edição desta terça do jornal
"Correio Braziliense". De acordo com o jornal, Rossi e o filho, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), são vistos frequentemente desembarcando do avião no aeroporto de Ribeirão Preto, onde o ministro mantém residência.
VEJA A REPORTAGEM SOBRE O EX-MINISTRO E O JATINHO -AQUI-