- De O Estado de S.Paulo - Falsificadores apostam no desconhecimento da maioria das pessoas em relação às notas
Há cerca de 40 dias, em um fim de semana, o movimento na Padaria e Confeitaria Capricho era grande. Pães para cá, frios para lá e muita gente. A vizinhança havia acabado de receber o salário e muitos clientes pagavam com notas de grande valor contas de valor não tão grande assim. Ao fim de tanto movimento, o dono da padaria teve uma surpresa nada agradável.
"Só vi na segunda-feira, quando me preparava para levar tudo para o banco. Fiquei triste, mas fazer o quê?", lamenta o dono, José Maria de Camargo, ao lembrar do dia em que recebeu por engano uma das novas cédulas de R$ 100. Triste porque
a nota era tão falsa como uma cédula de R$ 3.
Lançadas no fim do ano passado, as novas cédulas foram cuidadosamente desenvolvidas por anos pelo Banco Central e pela Casa da Moeda exatamente com um único objetivo: atrapalhar a ação de falsificadores espertinhos como aqueles que visitaram a pequena padaria na periferia de Brasília, a 30 quilômetros da sede do Banco Central.
Mas, exatamente ao contrário dos planos das autoridades, as novas cédulas são proporcionalmente mais falsificadas do que as antigas, que estão nas carteiras dos brasileiros desde 1994.
Números do próprio Banco Central revelam que
a cédula mais falsificada no Brasil atualmente é a azul e branca recebida por engano na padaria Capricho: a nova de R$ 100. De janeiro a julho deste ano, foi apreendida uma nota falsa dessas para cada 4.446 originais em circulação.
A possibilidade de encontrar uma nota falsa dessas é mais que o dobro do registrado entre as antigas de R$ 100: uma ruim para cada 8.983 boas.
Ou seja: pelos números, quem recebe uma nota nova de R$ 100 tem duas vezes mais probabilidade de receber uma falsa que o sujeito que receber os mesmos R$ 100 com uma das antigas. Em fenômeno idêntico, proporcionalmente é mais fácil encontrar uma nova nota falsa de R$ 50 do que entre as antigas.
Novidade.
Responsável pelo dinheiro em circulação no Brasil, o chefe do departamento do meio circulante do Banco Central, João Sidney de Figueiredo, não demonstra muita surpresa com os números e diz que a proporção de falsificações sempre é maior quando as cédulas começam a circular. "Essa ocorrência maior na segunda família do real também aconteceu quando lançamos a cédula de R$ 20. Ela também era muito falsificada no começo porque os criminosos viam uma oportunidade, já que as pessoas ainda não estavam habituadas com o dinheiro novo.
Sem saber como é a verdadeira, algumas pessoas acabam recebendo a falsa.".
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Desde o lançamento das novas cédulas,
o Banco Central tem se esforçado em ensinar como reconhecer o dinheiro: as cédulas novas têm tamanhos diferentes, faixa holográfica, imagens que se completam na contraluz e marcas d"água com o valor da cédula e o desenho do animal impresso - no caso dos R$ 100, uma bonita garoupa.
"Mas uma coisa é mostrar todas essas coisas num papel colado na parede de um banco e outra coisa é entregar o dinheiro na mão do cara para ele pegar, olhar de perto", diz Zé Maria. Figueiredo, do Banco Central, concorda.
Para ele, a própria popularização das cédulas será o principal inimigo do trabalho dos falsificadores. "Normalmente, após um ano os casos caem bastante porque muitas pessoas já conhecem o dinheiro."
A poucos metros da sede do BC, porém, a Polícia Federal não quer esperar. Há três equipes de investigação trabalhando para tentar desmantelar o trabalho dos falsificadores, que já despejaram mais de 16 mil falsas notas no mercado. São Paulo e Minas Gerais são os destinos preferidos dos falsificadores.
Entre as notas recolhidas há de tudo, algumas cópias um pouco mais elaboradas e outras toscas, como uma que, em vez da faixa holográfica, tinha um adesivo prateado de papelaria cheio de glitter (espécie de pó cintilante, usado em maquiagem).
Na Padaria e Confeitaria Capricho, depois do caso dos R$ 100 falsos, o próprio dono chamou os funcionários para uma aulinha: levou o dinheiro falso para comparar com uma nota boa e mostrar como reconhecer o dinheiro verdadeiro.
Além disso, Zé Maria conta discretamente que, agora, também está armado contra os falsificadores: acabou de comprar uma caneta daquelas que, quando riscam o dinheiro, mostram se é original ou falso.