- Do Correio Braziliense - Foto: TV Globo - O Ministério da Saúde (MS) estuda mudanças na vacinação contra a poliomielite para o próximo ano. A proposta seria combinar a atual vacina oral, que tem o vírus atenuado, com a injetável, feita com o vírus inativo.A informação só foi oficializada depois que veio a público um caso suspeito de paralisia pós-vacinal, que teria sido desenvolvida por um menino de 1 ano e 4 meses em Pouso Alegre (MG). Autoridades sanitárias argumentam que a possibilidade de mudança no programa de imunização vem sendo analisada desde a metade do ano e que não tem relação direta com o episódio. A decisão só será tomada em dezembro, quando a pasta divulga o calendário de vacinação para o ano seguinte.
O caso da paralisia pós-vacinal veio à tona esta semana, após o MS receber relatório da Secretaria Municipal de Saúde de Pouso Alegre informando sobre o quadro da criança, que recebeu a terceira dose da vacina em 27 de outubro de 2010. No mesmo ano, o menino apresentou os primeiros sintomas de paralisia, mas o diagnóstico de paralisia pós-vacinal só foi feito em março deste ano por um neuropediatra, que comunicou o fato à secretaria. O caso só chegou ao conhecimento das autoridades federais de saúde no último dia 26, cinco meses depois do diagnóstico.
Uma comissão técnica internacional formada por representantes do ministério e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) vai analisar o ocorrido. O grupo terá a incumbência de definir se a criança adquiriu a doença devido à vacina ou se os problemas de saúde são decorrentes de outro fator.
A criação da comissão foi anunciada ontem pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Antes de o assunto ser avaliado pela Opas, especialistas da SES-MG e do ministério vão elaborar um documento que servirá de base para o laudo internacional.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, a combinação das vacinas oral e injetável diminuiria os riscos de contágio pelo vírus com a vacina em gotas. “É um evento raríssimo, mas acontece”, diz. De acordo com o MS, a cada 3 milhões de doses orais, somente uma pode causar a paralisia infantil.
No Brasil, onde já foram aplicadas 457 milhões de doses orais da vacina, foram registrados 46 casos de paralisia infantil em 10 anos. No mundo, a média anual é de 500 casos depois da imunização.
Caso seja implementada, a modalidade injetável seria usada nas duas primeiras doses, quando o risco de contrair a doença é maior. No reforço e nas doses aplicadas durante campanhas, a vacina oral continuaria sendo usada, pelas facilidades logísticas que oferece. “Em um dia de campanha com a vacina oral, são montados 115 mil pontos de imunização. Ela pode ser feita em um centro comunitário, em uma igreja ou em uma praça. A injetável só pode ser dada em posto de saúde e isso reduz pela metade os postos de atendimento”, explica o secretário de Vigilância em Saúde.
ENTENDA O CASO:
Uma criança de 1 ano e 4 meses apresentou suspeita de ter desenvolvido uma paralisia após ser vacinada em Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais. Segundo a mãe da criança, o menino começou a apresentar o quadro após tomar uma das doses da vacina contra a poliomielite, no final de outubro de 2010, quando tinha apenas 6 meses.Ainda de acordo com a mãe, Sidnéia Branco Teixeira, 38, a suspeita foi diagnosticada em março deste ano por um neuropediatra da cidade.
O médico, Walter Magalhães, elaborou um diagnóstico que apontou paralisia flácida aguda. A condição que pode ser provocada por uma série de doenças e, em casos raros, pela vacina, segundo o médico.
Probabilidade é de um caso para cada 3,2 milhões de doses
Apesar de diagnósticos desse tipo de paralisia serem de notificação compulsória e imediata ao Ministério da Saúde, o caso só chegou a Brasília meses depois.
O ministério afirma que a falha foi da Prefeitura de Pouso Alegre, mas o município diz que informou o caso à GRS (Gerência Regional de Saúde) local, ligada ao governo de Minas Gerais, e que tem feito tudo para dar assistência à criança.
Segundo um manual do Ministério da Saúde sobre eventos adversos pós-vacinação, esse tipo de caso é muito raro. O risco é de aproximadamente um caso a cada 3,2 milhões de doses distribuídas. No Brasil, segundo o ministério, entre 1989 e 2003 foram registrados 40 casos confirmados de poliomielite associados à vacina oral.
A mãe da criança afirma que a criança tem mostrado melhora no quadro de paralisia nos últimos meses, mas que ainda tem dificuldade para ficar de pé. Ela também afirma que o Ministério da Saúde já entrou em contato para realizar mais exames na criança.
Teixeira diz que ainda não sabe se pretende entrar com uma ação contra os responsáveis pela produção da vacina.