- Por Jorge Wamburg - A manifestação contra a Copa do Mundo de 2014 realizada em Brasília hoje (04/4), como parte de um protesto nacional organizado por movimentos sociais, teve como cenário a entrada dos operários da obra do Estádio Nacional Mané Garrincha e como principal alvo a Terracap, por estar, segundo a liderança da manifestação, investindo no estádio dinheiro que deveria ser aplicado na construção de casas para os sem terra que estão acampados num terreno da estatal do Governo do Distrito Federal (GDF) em Planaltina (DF).O grupo permaneceu por quase toda a manhã em frente à entrada da obra, e chegou a bloquear o portão, como protesto por não ter sido autorizada sua entrada no canteiro de obras para dialogar com os operários. A Polícia Militar enviou uma guarnição, que conseguiu dialogar com os manifestantes e convencê-los a desbloquear o portão pacificamente, até darem por encerrado o protesto.
O protesto foi organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e um dos líderes da manifestação, Vitor Guimarães, disse que cerca de 70 famílias estão acampadas em Planaltina (DF) e querem que a Terracap lhes dê o terreno e casas para morar, mas em vez disso ela gasta R$ 1 bilhão na construção do novo estádio de Brasília para a Copa do Mundo. Ele também reclamou das condições de trabalho dos operários na obra, alegando que eles são maltaratados e mal alimentados pelo consórcio construtor.
Entre os manifestantes havia muitas crianças em idade escolar e até mesmo bebês no colo dos pais ou mesmo levados em carrinhos pelos seus responsáveis. Diversos manifestantes disseram ter inscrição em programa habitacional do Governo do Distrito Federal há mais de dez anos, sem que nunca tenham sido contemplados com a moradia.
Procurada pela Agência Brasil, a Assessoria de comunicação da Terracap informou que o presidente Antônio Carlos Rebouças Lins estava em reunião de diretoria e não poderia dar entrevista. Já a Assessoria de Comunicação do GDF informou que a obra do Estádio Nacional de Brasília deverá custar R$ 800 milhões e não R$ 1 bilhão, conforme alegaram os líderes do protesto de hoje. Além disso, segundo a assessoria, a Terracap, que é proprietária do estádio, não está desviando dinheiro de nenhum programa do governo para custear a obra, mas utilizando recursos da venda de terrenos que possui em Brasília.
A assessoria do GDF ressaltou ainda que a construção do estádio tem como benefício adicional um investimento de R$ 3 bilhões do governo federal em obras de mobilidade urbana, infraestrutura e em segurança na cidade, que ficarão como um legado pós Copa. Outro ponto positivo da obra do estádio, de acordo com o GDF, é que ele não será apenas esportivo, com 70 mil lugares, mas uma arena multiuso que poderá ser utilizada para espetáculos diversos.
Quanto às denúncias de maus tratos aos operários, a Assessoria de Comunicação do GDF desmentiu as denúncias feitas na manifestação. Segundo a assessoria, uma prova de que as alegações são infundadas é que a obra obteve o certificado SA 8000 (Social AccountAbility 8000). Este selo atesta a aplicação de práticas sociais do emprego e foi criado com base nas normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU).
A manifestação em Brasília fez parte da Campanha Nacional Contra os Crimes da Copa e seu lançamento ocorreu hoje em 10 cidades brasileiras, promovida pela Frente Nacional de Movimentos Populares Resistência Urbana, com ações em São Paulo, Manaus, Brasília, Belo Horizonte, Cuiabá, Natal, Fortaleza, Rio de Janeiro e Curitiba (cidades que vão sediar jogos da Copa), além, de São Luis e Belém - embora não sejam cidades-sede.O objetivo da campanha é denunciar os reflexos e consequências das ações empreendidas para a preparação da Copa, que estariam prejudicando a população, como despejos e remoções relacionados às obras. A campanha também questiona a atuação da Federação Internacional de Futebol (Fifa) no país e o uso de dinheiro público para os eventos que ela promoverá.