A Corrida de São Silvestre virou agora uma prova de Rua como outra qualquer.
Perdeu de vez o charme - que já tinham conseguido quase acabar com a mudança da largada na virada do ano para o final da tarde, anos atrás - com a realização de manhã cedo, este ano.
Procurei uma explicação para a mudança e só encontrei uma vaga menção a “razões logísticas” da organização, sem entrar em detalhes.
Mas desconfio que foi a Globo, detentora da exclusividade da transmissão, que impôs o novo horário, para não atrapalhar a programação do 31 de dezembro, principalmente o show da virada do ano.Li declarações de atletas elogiando o novo horário, principalmente os quenianos, que acabaram mais uma vez sendo os vencedores. E também do técnico brasileiro que prepara a maioria deles aqui no Brasil, Moacir Marconi. A alegação é que esse tipo de prova é sempre disputado pela manhã, que o organismo responde melhor ao esforço no início do dia e que, por isso, não é preciso um treinamento especial, já que seus atletas estão acostumados a correr pela manhã o ano inteiro pelo mundo afora.
Mas isso não é uma unanimidade. Claro que os quenianos são os maiores beneficiados, como ficou claro na corrida de hoje. Mas há quem discorde e é justamente o brasileiro Giovani dos Santos, que foi 4º colocado nesta São Silvestre de 2012. Vencedor da Volta da Pampulha há três semanas, seu técnico, Henrique Viana, reclamou: “A prova perde com esta mudança. No aspecto de performance, o atleta vai muito melhor no fim da tarde ou à noite. Há uma desvalorização da São Silvestre”.
O fato é que pelo jeito, o horário matutino vai tornar mais difícil ainda uma vitória brasileira nos próximos e a quebra da hegemonia queniana. Mas, para mim, o pior mesmo é mais uma tradição que a gente perdeu, de saudar o Ano Novo, acompanhando a São Silvestre pela TV e, eventualmente, comemorando vitórias brasileiras dos atletas e das atletas brasileiras, que há muito tempo não fazem a festa na capital paulista.
E por mais que a turma da Globo se esforce, não dá pra torcer por queniano (a), gente!
Agora, só falta, pelas mesmas “razões logísticas”, passarem a corrida para o dia 30 ou apenas gravarem para exigir o teipe no horário que mais convier à Globo.
E para marcar mais ainda essa corrida de 2012, tivemos a morte do cadeirante Israel Cruz Jackson de Barros, que se chocou com um muro do Pacaembu, ao perder o controle de sua cadeira de rodas na descida de uma ladeira.
O paratleta Israel Cruz Jackson de Barros momentos após a largada na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta (Foto: Ricardo Biserra/VC no G1).
Foi uma fatalidade, mas contribuiu para tornar São Silvestre de 2012 ainda mais lamentável!