O aumento do tempo de vida da população mundial e da média de sobrevida das pessoas eleva a probabilidade de que elas venham a desenvolver a doença de Alzheimer, disse à Agência Brasil a neurologista Soniza Leon, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Todas as pessoas que viverem muitos e muitos anos podem ter Alzheimer. Quanto mais se vive, maior a chance de ter uma demência”, ressaltou a especialista, que também é professora de neurologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Segundo ela, recursos como a nanotecnologia, que permite diminuir o mecanismo oxidativo de neurônios, podem contribuir para prevenir a deterioração natural do organismo com o envelhecimento. Em determinadas populações cujos indivíduos vivem até mais de 100 anos, está sendo estudado se o fator genético contribui para protegê-los desse tipo de demência.
A doença de Alzheimer provoca a degeneração do sistema nervoso. Ela se caracteriza, principalmente, pela demência ou perda das funções corticais, entre as quais se destacam a linguagem, a capacidade de percepção, o raciocínio abstrato, o juízo crítico e a memória. “De todos os fenômenos que envolvem a tomada de decisão, a afetividade, o humor. Todas essas funções corticais são comprometidas nessa doença.”
No caso de comprometimento da linguagem, por exemplo, a pessoa acaba perdendo a capacidade de se comunicar ou de entender o que lhe é perguntado; a memória também começa a ficar prejudicada para fatos recentes. Para fatos passados, ela é preservada, embora durante algum tempo, antes de se perder.
Quanto à capacidade de movimentar-se, o paciente com Alzheimer não tem paralisia, mas apresenta o que os médicos chamam de apraxia da marcha. “É a perda da capacidade de elaborar um ato motor, de início voluntário e, depois, automático e involuntário. É como a criança, quando está aprendendo a andar: ela anda com a perna aberta, com dificuldade, porque não tem a automatização da marcha”, explicou.
Médico alemão identificou doença de Alzheimer em 1906
Em 1906, o médico alemão
Alois Alzheimer descobriu que pacientes que tinham um tipo específico de demência apresentavam um quadro com característica degenerativa. De modo geral, a demência do tipo Alzheimer costuma ocorrer em pessoas com mais de 70 anos de idade, embora haja casos de doença mais precoce, aos 60 anos, explica a neurologista Soniza Leon, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Segundo a neurologista, existe relação entre Alzheimer e depressão.
“Como o humor e todo o conjunto de funções dependem das atividades corticais, a alteração do humor pode fazer parte da doença, tanto a depressão quanto a perda do juízo crítico, a mania, uma agitação psicomotora.” Ela destaca que alguns pacientes não ficam parados, andam a noite toda, mantêm-se acordados, enquanto outros permanecem totalmente parados, deprimidos. “Cada um tem uma manifestação de humor, maior ou menos grave, para depressão ou mania. Isso vai variar de paciente para paciente.”
Apesar de não existirem estudos que determinem qual é o percentual da população mundial ou brasileira que sofre da doença, a neurologista informa que isso varia de acordo com as populações e com as faixas etárias. De acordo com Soniza, é possível encontrar pelo menos 20% de pacientes com demência na faixa etária entre 80 e 90 anos, que pode ser provocada por outros problema, como colesterol alto, hipertensão arterial sem tratamento e diabetes. “Então, 60% dos pacientes que têm demência têm a demência do tipo Alzheimer junto com uma demência por síndrome metabólica de outras causas.”
A médica admite que é muito difícil para a família conviver com um paciente com Alzheimer e destaca a importância dos cuidadores de idosos. O trabalho desses profissionais vem ganhando importância, pois, como as pessoas vivem mais, ficam mais sujeitas a desenvolver demência e a depender de terceiros.
Os cuidadores hoje têm treinamento especial para lidar com esses casos. Em geral, são técnicos de enfermagem ou de fisioterapia.
Soniza destaca, porém, a responsabilidade da família:
“o cuidador é uma figura importante, mas a família não pode deixar de fazer tudo para cuidar daquela pessoa”.
Ao suspeitar que um parente pode estar iniciando um quadro de demência, a família deve buscar a avaliação de um neurologista, “porque esses sinais podem estar presentes em demências que podem ser tratadas”, aconselha a médica. O hipotireoidismo no idoso apresenta sinais semelhantes aos da doença de Alzheimer, mas se houver tratamento de reposição do hormônio ou as causas forem tratadas, o paciente pode recuperar a memória.
Existem outros tipos de demência que não decorrem de degeneração, entre elas as demências por deficiência de vitamina B12, por diminuição de hormônio tireoidiano, por hidrocefalia e por sífilis, além das que têm causas infecciosas, como a encefalopatia do HIV.
- Da Agência Brasil -