O ministro da Fazenda Guido Mantega está de volta ao trabalho. Durante sua ausência, a presidente Dilma Rousseff teve que lidar com um clima mais azedo entre o secretário executivo do ministério, Nelson Barbosa, e o secretario do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Eles se revezaram na cadeira durante as férias do ministro.A volta de Mantega não representa exatamente uma volta à normalidade. Dilma não está mais com aquela segurança toda de que o “pibão” vai ser realizar em 2013. O que se sente em Brasília, segundo uma fonte muito próxima à Presidência da República, é que Dilma está mais preocupada com o “climão” entre Barbosa e Arno, ou com o que ele pode causar, do que com o futuro de seu ministro.
O secretário executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Foto: Antonio Cruz/ABr.
No período em que ficaram no comando da Fazenda, os dois executivos deram declarações que demonstram claramente divergências sobre a condução da política econômica, principalmente da política fiscal. Numa eventual saída de Mantega, se ela viesse mesmo a acontecer, a presidente teria que administrar mais essa “crise caseira”, entre os nomes possíveis para assumir a cadeira.
O que está cristalino para muitos analistas é que a política econômica está carente de liderança, mesmo com a presidente Dilma assumindo para si a centralização das decisões. O retorno de Guido Mantega não significa, nem de longe, uma retomada dessa liderança.
Olhando a briga de fora, está o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Seu nome já apareceu nas cotações para possíveis substitutos de Mantega na Fazenda. Mas Tombini parece preferir falar pouco do que se comprometer com a agitação entre os colegas de governo. Até porque, ele já tem seus próprios desafios – explicar melhor o que pretende fazer para conter a inflação.
Um reflexo desse ambiente é a deterioração das expectativas para a economia, o que não é bom para ninguém. O que pode ser um sinal do contágio desse “climão” apareceu no relatório Focus, instrumento de pesquisa utilizado pelo Banco Central para colher as expectativas dos analistas do mercado financeiro. Esta semana ele trouxe uma mudança considerável na projeção da inflação para 2013.
É a terceira vez consecutiva que o IPCA esperado sofre alta, mas desta vez o salto foi maior – saiu de 5,53% para 5,65% ao ano. Para o PIB, houve um pequeno ajuste, mas para baixo – de 3,20% para 3,19%. Claro que os resultados recentes da economia colaboram muito para os cálculos, mas a economia não é livre das interpretações e percepções sobre o futuro, independentemente do que dizem os números.
O “climão” em Brasília precisa ser dissolvido para que não espante quem realmente pode ajudar o país a alcançar um PIB acima de 3% em 2013: os investimentos.
- Por Thais Herédia/Do G1 -