Espuma de colchão revestia boate em Santa Maria, afirma comerciante.
- Por Lucas Azevedo, do Estadão - SANTA MARIA - Em coletiva de imprensa na tarde desta segunda-feira, 4, as autoridades de segurança do Rio Grande do Sul reafirmaram que um conjunto de erros gerou a tragédia na boate Kiss, na madrugada do dia 27, em Santa Maria.
O responsável pela investigação, delegado Marcelo Arigony não deu detalhes sobre o progresso dos trabalhos, apenas ressaltou que a espuma utilizada como vedação acústica na casa noturna era inadequada.
Polícia procura o responsável pela instalação da espuma no teto da boate Kiss. Foto: Evelson de Freitas/AE.
"Tudo leva a crer que foi um conjunto de circunstâncias que levaram ao evento trágico. Mas foi a espuma sem retardante [material que dificulta a queima] gerou a fumaça.
Conforme o delegado, há uma lei municipal em Santa Maria que proíbe que bares e boates utilizem em determinadas partes de suas estruturas materiais inflamáveis. Entretanto, essa legislação está sendo estudada para verificar o que ela abrange mais precisamente.
Uma perícia será realizada novamente na Kiss na manhã desta terça-feira. Além disso, a polícia está atrás de quem foi o responsável pela instalação da espuma, que teria sido comprada em uma loja de colchões da cidade.
Entenda O incêndio com mais mortes nos últimos 50 anos no Brasil causou comoção nacional e grande repercussão internacional. Em poucos minutos, mais de 230 pessoas - na maioria jovens - morreram na boate Kiss de Santa Maria - cidade universitária de 261 mil habitantes na região central do Rio Grande do Sul.
A tragédia começou às 2h30 de domingo (27/01), quando um músico acendeu um sinalizador para dar início ao show pirotécnico da banda
Gurizada Fandangueira.
No momento, cerca de 2 mil pessoas acompanhavam a festa organizada por estudantes do primeiro ano das faculdades de Tecnologia de Alimentos, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A maioria das vítimas, porém, não foi atingida pelas chamas - 90% morreram asfixiadas.
Sem porta de emergência nem sinalização, muitas pessoas em pânico e no escuro não conseguiram achar a única saída existente na boate. Com a fumaça, várias morreram perto do banheiro. Na rua estreita, o escoamento do público foi difícil. Bombeiros e voluntários quebraram as paredes externas da boate para aumentar a passagem. Mas, ao tentarem entrar, tiveram de abrir caminho no meio dos corpos para chegar às pessoas que ainda estavam agonizando. Muitos celulares tocavam ao mesmo tempo - eram pais e amigos em busca de informações.
Como o Instituto Médico-Legal não comportava, os corpos foram levados a um ginásio da cidade, onde parentes desesperados passaram o dia fazendo reconhecimento. Lá também foi realizado o velório coletivo.
Em entrevista à Radio Estadão na manhã da última quinta-feira, 31, o governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro disse que a Prefeitura não deveria ter concedido alvará para a casa noturna.
"Mesmo que (a boate) estivesse dentro de normas legais de engenharia, qualquer leigo olharia aquele local e não daria alvará. Não tinha portas laterais, era uma espécie de alçapão, uma estrutura predatória da vida humana. E era visível que a casa estava preparada para receber mais gente do que o autorizado, cerca de 600 pessoas", afirmou Genro.
O governador disse, ainda, que a Prefeitura deveria ter lacrado a boate em agosto, quando venceu o alvará dado pelo Corpo de Bombeiros. "Mesmo que o documento esteja em análise, a casa deveria estar fechada até o documento sair."