A hora de Aécio
4 de jun. de 2011
A hora de Aécio
- Por Kennedy Alencar, da Folha.com - Nas últimas três eleições presidenciais, Fernando Henrique Cardoso jogou a favor da candidatura de José Serra ao Palácio do Planalto pelo PSDB. Para 2014, a aposta de FHC mudou. Ela se chama Aécio Neves, senador tucano por Minas Gerais.
Na disputa de 2002, FHC atuou para viabilizar a candidatura presidencial do então ministro da Saúde, José Serra. Na época, ele bombardeou a hipótese de o à época governador do Ceará, Tasso Jereissati, conquistar a indicação tucana.FHC considerava Tasso um coronel. Via em Serra um político moderno. Serra disputou e perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva.
Quando aconteceu a crise do mensalão em 2005, FHC foi um dos autores da tese de que seria melhor deixar Lula sangrar para ser derrotado em 2006. E deu impulso a Serra para disputar a indicação contra Aécio e o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Mas Lula se recuperou politicamente. O fato é que Serra se assustou. Teve medo de perder para o petista e abriu caminho para Alckmin, que acabaria derrotado por Lula.
No ano passado, FHC interveio na disputa tucana a favor de Serra. Contrariou Aécio, que tinha sentimentos contraditórios. Ora achava que poderia ser candidato contra Dilma Rousseff. Ora julgava melhor aguardar um pouco mais.
Serra liderava em todas as pesquisas. Ele considerava que seria sua melhor chance de conquistar o Palácio do Planalto. Mas a força de Lula o derrotou novamente. O petista elegeu a sucessora.
FHC acha que a fila andou no PSDB. Não acredita que Serra possa ser o candidato em 2014. Avalia que a vez é de Aécio. O diagnóstico do ex-presidente é o mesmo de quase todas as principais lideranças tucanas, com exceção de Serra e de Alckmin, agora reinstalado no governo paulista. Com a briga Serra-Aécio, alckmistas apostam que o governador de São Paulo poderá ser uma opção concreta para concorrer ao Palácio do Planalto pela segunda vez.
É essa esperança, digamos assim, que fez Alckmin dar a Serra algum gás para obter a presidência do Conselho Político da legenda --uma ficção na estrutura partidária do PSDB. O resultado da recente convenção tucana é inegável: Aécio foi o grande vencedor.Contra a vontade de Serra, o senador mineiro patrocinou a reeleição de Sérgio Guerra para presidir o PSDB. Não abriu mão de entregar a Tasso a presidência do ITV (Instituto Teotônio Vilela), fundação ligada ao partido que fora rejeitada por Serra meses atrás. Manteve o fiel aliado, o deputado federal Rodrigo de Castro (MG), no segundo posto mais importante do partido, a secretaria-geral.
Aliados de Aécio dizem que era a hora de assumir o controle do PSDB. Deixar essa articulação para 2014 equivaleria a fortalecer a pretensão presidencial de Serra. O resultado da convenção e as avaliações feitas por FHC a tucanos em geral não deixam dúvida: Aécio venceu o combate no PSDB e deverá ser o candidato a presidente do partido em 2014.
PSD e SerraMotivado pela crise Palocci, o afastamento entre o Palácio do Planalto e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, produziu alguns efeitos.O PSD, sigla recém-criada por Kassab, não contará com empenho do governo para que seus quadros cresçam na proporção imaginada pelo prefeito.O novo partido se distancia do governo Dilma, apesar do desejo de aderir de muitos que migraram da oposição para a legenda.
O Palácio do Planalto ficou contrariado porque Kassab recuou da promessa feita a Dilma, com quem falou diretamente, de abrir uma investigação para saber se dados da empresa do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) teriam vazado da Prefeitura de São Paulo.
Integrantes do novo partido dizem que dificilmente Serra será candidato a presidente pelo PSD. Afirmam que o prefeito Kassab é o primeiro a lhes garantir isso em conversas reservadas. No entanto, há tucanos que afirmam que Serra conta com o PSD como plano B. Ele deseja muito disputar novamente o Palácio do Planalto.
Fritura terceirizadaA gravidade da prematura crise do governo Dilma mostra como é inútil julgar a oposição cachorro morto para a disputa presidencial de 2014. Aécio, dizem aliados, está quieto por avaliar que a fritura de Antonio Palocci Filho (Casa Civil) pelo próprio PT permite à oposição assistir de camarote ao enfraquecimento do governo Dilma.
Kennedy Alencar escreve na Folha.com às sextas. Apresenta o programa de entrevistas "É Notícia", da RedeTV!, à 0h30 de domingo para segunda. Faz comentários no "RedeTVNews", telejornal que começa às 21h10. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", que vai ao ar às 8h55 de terças e quintas no "Jornal da CBN".Twitter: @KennedyAlencar
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