Marcha da Maconha, ou por extensão, em prol dos traficantes
“Essa vai para todos os cantores de reggae que defendem a maconha em seu uso romântico, terapêutico e que passa de pai para filho. Oro a Deus para que os filhos deles sejam adeptos dessa paz mantida pela droga.”
- Por Anna Carvalho, do blog Literatura Clandestina - Num país sem redução e danos, os imbecis, talvez os mesmos que não se sentem a vontade com a estada da polícia na USP e que, por extensão, apertam os gatilhos que deram fim em gente como Tim Lopes, o estudante da USP e que defendem sem nostalgia que a maconha mereça um ritual árcade e próximo do recreativo, tomaram porrada nas ruas de São Paulo, mas que, provavelmente, são descendentes alternativos das lindas palavras não hipócritas da banda Ponto de Equilíbrio (*que cabe uma ressalva: a banda, ETICAMENTE, defende que se plante a droga para consumo, são os arautos da boa fé, não irei dizer que para se ouvir o cantor só DROGADO...).
Os moleques, todos com as suas características montadas de contracultura de luta contra o sistema e se instaurando em outro: do back, os filhos de Jah, da liberdade com muitas aspas, da maconha sendo distribuída em torno dos irmãos e um monte de chapados dizendo que a vida não presta se ela for reduzida ao consumo. Só que eles também consomem e chamam os outros de hipócritas, militantes de coisa nenhuma com as suas sandálias salgabundas, pregam respeito, mas são incapazes de manterem a sua covardia ostentada de que se fumam, se não plantam, mantêm o mercado do tráfico em franca franquia e sucesso. Como se convicção, como se gênero alternativo seja se digladiar gente que produz e que questiona o sistema, trabalhando, sendo assalariado e não tendo líderes de nada, contra gente que se recusa em tese a discutir o sistema e o nega usando a maconha.
Discutir descriminalização de maconha é discutir criminalização de políticos, de debates claros em torno do prazer do alucinógeno de uma geração de jovens experimentalistas que se sentem inéditos e nem conhecem o Fernando Gabeira no auge da sua determinação hippie.
Mas se em Brasília há viúvas da ditadura, no Brasil há viúvos de uma cultura no seu limbo, na inércia, um bando de jovens que são mantidos pelos pais que, incapazes de se manifestarem com relativa inteligência ou indulgência, sendo produtivos, trabalhando, sendo capazes de entrarem para uma discussão com sustentação e vão, por puro comodismo, atrás desses deuses em mocambos, e, portanto, sendo hipócritas, que falam de favelas, de casebres, de crianças pobres, mas que vendem seus CDs, compram como se conspirar contra o sistema fosse se portar com uma aparência igual, reticente, maltrapilha, mas é só na aparência porque é uma luta vã, se vista de cima da maré, ou do muro onde muitos desses hipócritas vivem.
Discutir maconha, sem discutir traficante, sem discutir políticas públicas de redução de danos, sem discutir a nova droga, se dizer que a maconha como a cerveja é a ponta de um iceberg cumulativo e que pode parar em Ramon, meu primo que hoje é alma do osso (*começou com a "excelente e romântica" maconha", não bebia, e agora terminou como um ciclo que deveria ser seguido por esses que defendem a droga, no crack: doente, mendigo, pedinte e que se recusa a se ambientar diante do seu vício levado ao estágio do roubo sumário da própria família.
Enfim, como emissão de juízo de valor e com certa coragem num país em que o sistema é questionado com outros sistemas tão convenientes como o sistema convencional (*vide o sistema do tráfico ou do crime organizado, hierarquizado pela violência, um reggae hierarquizado pela paz), onde você que faz apologia da maconha, durma com seu back em paz e, mesmo ostentando uma burrice digna de quem usa a droga, finja que vive numa aldeia feliz e por hora segura, relaxe, o seu Q.I. não processa que você também seja um criminoso. - Do Blog Literatura Clandestina-