- Do Valor Online/O GLOBO -
O dólar reforçou a queda ante o real e atingiu a menor cotação desde janeiro de 1999. Às 11h23, a moeda americana bateu R$ 1,555 para venda. Já por volta das 15h25, o dólar comercial estava a R$ 1,558, queda de 0,25%
A cotação é a menor desde o R$ 1,538 do valor de fechamento de 18 de janeiro de 1999. Nesse mês, o governo promoveu uma maxidesvalorização do real. Desde então, o patamar de R$ 1,55 já havia sido atingido no fechamento de 1º de agosto de 2008, mas o valor preciso foi um pouco maior que o de hoje: R$ 1,559. Na quinta-feira a moeda já tinha recuado ao menor nível desde 4 de agosto de 2008, com queda de 0,63%, a R$ 1,562.
A partir desta sexta-feira, a Ptax (média das cotações) será calculada como uma média aritmética de quatro consultas feitas pelo Banco Central (BC) entre 10h e 13h. O objetivo é evitar a manipulação dos agentes do mercado na formação da taxa.No entanto, justamente por conta dessa mudança, o volume de negócios está mais fraco nesta jornada, o que favorece oscilações mais bruscas no preço do dólar. Isso era esperado pelo mercado, já que haverá uma redução nas operações casadas (que combinam mercado à vista com mercado futuro).
Pouco depois de o dólar despencar, o BC realizou um leilão para compra de dólares no mercado à vista. De acordo com comunicado do Departamento de Operações de Reservas Internacionais (Depin), a operação teve início às 12h12 e terminou às 12h17. A taxa aceita ficou em R$ 1,5554.
MaxidesvalorizaçãoO derretimento do dólar ao patamar de 1999 remonta ao início de regime de câmbio flutuante no Brasil, em 1998, quando o país deixou de ter câmbio fixo. Em janeiro de 1999, o Brasil acordou com uma maxidesvalorização do real e um pacote de medidas econômicas, que ficou conhecido, na época, como "pacote das maldades", que incluiu aumentos de impostos, juros, recessão e baixo crescimento econômico. Com as mudanças no câmbio, quando começou a vigorar o sistema de bandas cambiais, a moeda passou a valer R$ 1,20 no começo de janeiro.O diretor de tesouraria do banco Prosper, Jorge Knauer, avalia que o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nesta sexta-feira e a manutenção da taxa básica de juros, pela Selic, a 12,25% ao ano, patamar mais elevado do mundo, contribuem para uma enxurrada cada vez maior de dólares no Brasil, o que valoriza o real ante a moeda americana.
- O principal motivo ainda é a taxa de juros ainda elevada em relação ao resto do mundo e a probabilidade da taxa de juros nos Estados Unidos não se elevar nos próximos tempos - diz Knauer. - E hoje tem Bolsa subindo forte aqui.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora de Câmbio, Reginaldo Galhardo, também acredita que o ingresso de dólares no país está mais forte por conta do avanço do Índice Bovespa.
- Apostas em IPOs (ofertas iniciais de ações) e a recuperação de algumas ações estão fazendo com que os investidores estrangeiros voltem para a bolsa de valores brasileira. De olho nesse forte fluxo de recursos, o Banco Central voltou a fazer dois leilões de compra de dólares no mercado à vista na quarta-feira - acrescenta.Desde 3 de junho, o BC estava promovendo apenas uma operação desse tipo por dia.O operador de câmbio da Renascença Corretora, José Carlos Amado, lembra ainda as inúmeras captações já em andamento:
- A verdade é que o mercado sabe que o real seguirá valorizado. Nem nos dias de muita aversão ao risco, o dólar teve força para subir. Houve bastante resistência, por exemplo, por volta de R$ 1,60, quando aparecem muitos vendedores.Além disso, ele observa que é altamente esperado um novo aumento da taxa de juros da zona do euro, de forma que a moeda comum europeia deve continuar em recuperação ante o dólar.
Outro fator que deve ser considerado é a queda nos preços das commodities.Leia mais sobre esse assunto em O Globo