- Por Leilane Menezes/Correio Braziliense -
Em uma tarde de trabalho de março de 2004, a vida de Francisco mudou
Enquanto observava aviões levantarem voo do Aeroporto Internacional de Brasília, o funcionário da limpeza Francisco Bazílio Cavalcante tinha a sensação de que todos podiam alcançar o céu, menos ele.
Gente chegava e partia e Francisco permanecia no mesmo lugar. Esperava pelo dia no qual entraria pela primeira vez em uma daquelas aeronaves, rumo à sua cidade natal, Sobral, no Ceará, ou a qualquer outro destino que lhe permitisse conhecer o mundo, que girava tão rápido sem lhe deixar sair do mesmo ponto.
Ontem, Francisco retornou ao cargo de servente: burocracia. Fotos: Monique Renne/CB-DA Press.
Em uma tarde de trabalho de março de 2004, a vida de Francisco mudou. Ele, que mora no Céu Azul (GO) e ganhava R$ 370 mensais, encontrou uma maleta com mais de US$ 10 mil, equivalentes, à época, a R$ 30 mil, esquecida em um banheiro. Francisco não hesitou. Usou o sistema de som do saguão para anunciar o achado. Momentos depois, o dono do dinheiro, um turista suíço, apareceu.
O servente terceirizado ganhava R$ 370 mensais. Passou a receber R$ 1,2 mil, como supervisor-geral. Com reajustes, chegou a ganhar R$ 1,9 mil, até este ano.
Em 21 de setembro próximo, Francisco poderá se aposentar. Já fazia planos e contas para ter o merecido descanso, após 34 anos com carteira assinada, todos no Aeroporto Internacional de Brasília. Uma mudança no contrato das empresas que prestam serviços gerais no local, entretanto, atrapalhou os planos de Francisco.