José Genoino, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, anunciou, nesta quarta-feira (10/10), sua saída do Ministério da Defesa após ser condenado no Supremo Tribunal Federal pelo crime de corrupção ativa
- Do Correio Braziliense - Em uma carta aberta publicada no site do partido, ele deixou o cargo de assessor especial do ministério, onde ganhava um salário de R$ 9 mil.
Na carta, o ex-presidente afirmou que não sente vergonha dos fatos.
“Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz”, afirmou. Ele foi condenado na última sessão plenária, na terça-feira (9/10), pelo voto de seis ministros.
Genoino foi nomeado para o Ministério da Defesa ainda na gestão de Nelson Jobim, mas continuou no cargo quando Celso Amorim assumiu. Seu nome foi publicado no Diário Oficial da União em 10 de março de 2011, o que gerou queixas na caserna. Militares publicaram textos na internet reclamando da nomeação de um acusado de corrupção que, na visão deles, ainda tinha uma história “de luta armada contra o Exército” — em referência à participação de Genoino na Guerrilha do Araguaia. “Sua presença corresponde a uma ofensa aos nossos brios de soldados”, afirmou à época um militar.
Ele ficou de licença médica até hoje porque foi submetido a um cateterismo em setembro. O exame apontou que o sistema circulatório do ex-presidente do PT é normal para a idade. Genoino, que é fumante há mais de quatro décadas, recebeu a indicação para tomar remédios anti-hipertensivos.
Leia a carta de Genoino na íntegraEles passarão, eu passarinho. Mário Quintana
Dizem, no Brasil, que as decisões do Supremo Tribunal Federal não se discutem, apenas são cumpridas. Devem ser assumidas, portanto, como verdades irrefutáveis. Discordo. Reservo-me o direito de discutir, aberta e democraticamente com todos os cidadãos do meu país, a sentença que me foi imposta e que serei obrigado a cumprir.
Estou indignado. Uma injustiça monumental foi cometida! A Corte errou. A Corte foi, sobretudo, injusta. Condenou um inocente. Condenou-me sem provas. Com efeito, baseada na teoria do domínio funcional do fato, que, nessas paragens de teorias mal-digeridas, se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida, construiu-se uma acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências, testemunhas e provas.
Sem provas para me condenar, basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT. Isso é o suficiente? É o suficiente para fazerem tabula rasa de todo uma vida dedicada, com grande sacrifício pessoal, à causa da democracia e a um projeto político que vem libertando o Brasil da desigualdade e da injustiça.
Pouco importa se não houve compra de votos. A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de “provar” o que não houve. Pouco importa se eu não cuidava das questões financeiras do partido. A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de afirmar o contrário. Pouco importa se, após mais de 40 anos de política, o meu patrimônio pessoal continua o de um modesto cidadão de classe média. Esta tirania afirma, contra todas as evidências, que não posso ser probo.
Nesse julgamento, transformaram ficção em realidade. Quanto maior a posição do sujeito na estrutura do poder, maior sua culpa. Se o indivíduo tinha uma posição de destaque, ele tinha de ter conhecimento do suposto crime e condições de encobrir evidências e provas. Portanto, quanto menos provas e evidências contra ele, maior é a determinação de condená-lo. Trata-se de uma brutal inversão dos valores básicos da Justiça e de uma criminalização da política.
Esse julgamento ocorre em meio a uma diuturna e sistemática campanha de ódio contra o meu partido e contra um projeto político exitoso, que incomoda setores reacionários incrustados em parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas que nunca aceitaram a nossa vitória. Nessas condições, como ter um julgamento justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos?
Além de fazer coincidir matematicamente o julgamento com as eleições.
Mas não se enganem. Na realidade, a minha condenação é a tentativa de condenar todo um partido, todo um projeto político que vem mudando, para melhor, o Brasil. Sobretudo para os que mais precisam.
Mas eles fracassarão. O julgamento da população sempre nos favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem trabalha por seus justos interesses. Ela também sabe reconhecer a hipocrisia dos moralistas de ocasião.
Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz.Essa é a história dos apaixonados pelo Brasil que decidiram, em plena ditadura, fundar um partido que se propôs a mudar o país, vencendo o medo. E conseguiram. E, para desgosto de alguns, conseguirão. Sempre.São Paulo, 10 de outubro de 2012José Genoino Neto - Por Ana Letícia Leão e Helena Mader, do Correio Braziliense -