Com a forte lembrança do dia em que perderam seus mandatos, 18 ex-parlamentares voltaram hoje à Câmara para reaver, simbolicamente, o diploma de deputado e o broche que identifica os membros do Congresso.
Palco de embates políticos ao longo de sua história, o plenário da Câmara dos Deputados foi transformado nesta quinta-feira (6/12) em local de emoção e lembranças do período mais difícil do Parlamento.
- Da Agência Brasil -
Nos olhos marejados de parentes e de deputados que tiveram os mandatos cassados pelo regime militar estavam expresso o sentimento de justiça na sessão de devolução simbólica dos mandatos dos 173 cassados pela ditadura militar.
Com a forte lembrança do dia em que perderam seus mandatos, 18 ex-parlamentares voltaram hoje à Câmara para reaver, simbolicamente, o diploma de deputado e o broche que identifica os membros do Congresso. Ao todo, 28 estão vivos e 145 morreram antes de ter os seus direitos reconhecidos.
Cassado em 16 de janeiro de 1969, o ex-deputado Milton Reis (MDB-MG) ressaltou que o gesto representa um manifesto contra a ditadura e a favor da democracia. “Esta homenagem representa um resgate. Se a ditadura nos tirou o mandato de maneira discricionária foi porque não podíamos nos dobrar e permitir que a ditadura sobrepujasse à democracia. Entramos na política para defender e fortalecer o regime democrático”, disse.
“A devolução simbólica dos mandatos é um dos momentos mais altos das nossas vidas ao mesmo tempo em que é um protesto contra a ditadura e em favor da democracia”, completou Reis.
Com a lembrança ainda viva do dia em que teve o pai, Vital do Rêgo (Arena), e o avô Pedro Gondim (Arena), cassados, o senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) declarou que a devolução dos mandatos ajuda a reescrever a história e reparar injustiças. “Talvez, entre os 173 homenageados, eu tenha sido o único atingido duas vezes. No dia 13 de setembro de 1969 dois deputados, Pedro Godinho e Vital do Rêgo, foram cassados pela ditadura. A Paraíba os trouxe aqui em 1966 e a ditadura os tirou daqui em 1969. Senti isso vivamente durante toda a minha infância e juventude”, ressaltou o senador.
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, foi um dos 28 deputados vivos cassados na ditadura que receberam simbolicamente o mandato de novo. Ao todo foram cassados 173 parlamentares durante a ditadura. Destes, apenas 28 estão vivos. Entre eles, Plínio de Arruda Sampaio.A devolução simbólica dos mandatos cassados foi feita pela Câmara, em sessão solene neste dia 04 de dezembro, Dia de Santa Bárbara, e foi acompanhada da exposição "Democracia interrompida" e de um documentário na TV Câmara.
Para a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, a homenagem faz justiça e serve de alerta para que a sociedade esteja sempre vigilante contra atos autoritários. “É o resgate da memória e da justiça. A Câmara está fazendo algo que é certo, porque os mandatos eram legítimos do povo e o povo foi aviltado quando esses parlamentares foram cassados. É um capítulo que precisa ser conhecido por todas as gerações. O Brasil precisa saber que essas pessoas são honradas e se arriscaram para defender ideais de liberdade. A vigilância democrática sempre deve haver”, disse a ministra.
Ex-ministro do trabalho durante o governo João Goulart, o ex-deputado Almino Affonso (PTB-SP) declarou que a homenagem é uma “condenação explícita” à ditadura. “Muito mais do que algo de caráter significativo pessoal, que também é, esta homenagem tem um significado político importante de condenação explicita a atitude militar da época que anulou decisões do povo. Creio que ajuda a uma retomada de compreensão política do que significou o golpe de 64”, ressaltou.
Na avaliação do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio (PDC-SP) a homenagem serve de exemplo para mostrar às novas gerações que a democracia precisa ser permanentemente defendida. “Ela [a democracia] não está imune nunca a golpes. Então, a lembrança dessas pessoas que foram violentadas pela ditadura trás à memória o golpe e, portanto, mostra às novas gerações que é preciso cuidar da democracia”, alertou.
Câmara dos Deputados recebe painel de Elifas Andreato sobre tortura na ditadura
O artista plástico paranaense radicado em São Paulo, Elifas Andreato, inaugurou hoje (6) um painel sobre a tortura na ditadura militar, chamado A Verdade Ainda que Tardia, montado no corredor de acesso ao plenário da Câmara dos Deputados. A obra faz parte da exposição Parlamento Mutilado: Deputados Federais Cassados pela Ditadura de 1964, que homenageia os 173 deputados que tiveram seus mandatos cassados no período.