O senador ocupa o cargo para o qual foi obrigado a renunciar em 2007, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais dele
- Por Jacqueline Saraiva, Paulo de Tarso Lyra/Correio Braziliense -O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito, nesta sexta-feira (1°/2), o presidente do Senado Federal.
A vitória avassaladora - com 53 votos, contra 18 para o senador Pedro Taques (PDT-MT)-, já era esperada pela maioria dos parlamentares e até mesmo pelo concorrente, que discursou hoje em plenário como “titular da perda anunciada”, nas próprias palavras dele. Foram contabilizados dois votos em branco e dois nulos.
No total, 78 senadores votaram.
Faltaram à votação os senadores Humberto Costa (PT-PE), Luis Henrique (PMDB-SC) e João Ribeiro (PR/TO).
Com a vitória, Renan agora retoma o cargo para o qual foi obrigado a renunciar em 2007, para fugir da cassação.
Terminada a contagem de votos, Calheiros fez o primeiro discurso como presidente da Casa, no qual defendeu a modernização constante do Legislativo.
"Temos agora a oportunidade de aprofundar a mudança de costumes e práticas. O Senado precisa se modernizar e se abrir ainda mais à sociedade”, disse.
A vitória avassaladora - com 53 votos, contra 18 para o senador Pedro Taques (PDT-MT)-, já era esperada
A bancada do PMDB comemora a vitória de Renan Calheiros à presidência do Senado.
Calheiros ressaltou que sua gestão será pautada no diálogo, equilíbrio, transparência e respeito aos parlamentares. Disse também que, a partir de agora, o Senado e o Congresso não serão mais “subalternos”. “Não acredito na política do fim do mundo, mas também não é o fim do mundo o Senado derrubar vetor presidenciais”, acrescentou ao afirmar que tratará de criar mecanismos para limpar a pauta de vetos. “Teremos um Legislativo mais forte”.
PERFIL - RENAN CALHEIROS
“Em política, se morre muitas vezes”
Em 1885, foi inaugurada uma linha de trem ligando Recife a Maceió. A última estação, já em solo pernambucano, é Quipapá, usada em uma piada popular no Nordeste, que se aplica à carreira política de Renan Calheiros. Um passageiro, sem bilhete, foi expulso por seguranças do vagão, mas insistiu e entrou no seguinte. Acabou retirado novamente e entrou em outro vagão. Mais sopapos dos fiscais. De tanto vê-lo sendo agredido, uma senhora se compadeceu. “Meu filho, até onde o senhor vai apanhando desse jeito?” E ele respondeu: “Se meu pescoço aguentar, eu chego até Quipapá”.
Renan aprendeu a fazer política em silêncio, pois sabe que precisa ter um pescoço firme para apanhar. Costuma dizer aos aliados que faz reuniões à noite,
“depois que os jornais fecham, pois sabe que reuniões públicas servem de pauta para a imprensa”. Prefere encontros em residências de aliados, regados a bons vinhos e muita, muita conversa. E só entra em reuniões com tudo acertado anteriormente.
Também foi apelidado de
“fígado de aço” porque, por pragmatismo, alia-se, sem qualquer remorso, com quem brigou no passado. Perdeu muito após o rompimento com Fernando Collor, em 1990, e com a renúncia à presidência do Senado, em 2007. Tenta, agora, voltar aos holofotes. E cita uma frase de Getúlio Vargas: “Em política, se morre muitas vezes”. (PTL)
LINHA DO TEMPOConfira a trajetória política de Renan Calheiros» Fim da década de 1970. Líder estudantil na adolescência, presidiu o diretório acadêmico da área de ciências humanas e sociais da Universidade Federal de Alagoas. Filiou-se ao MDB, de oposição ao regime militar.
» Em novembro de 1978, candidatou-se e foi eleito deputado estadual pelo MDB.
» Entre 1980 e 1981, após o fim do bipartidarismo, foi líder da bancada do PMDB na Assembleia do Estado de Alagoas. Chamava o então prefeito de Maceió, Fernando Collor de Melo, de “príncipe herdeiro da corrupção”.
» Em 1982, mudou-se para Brasília após ser eleito deputado federal e se formou em direito pela Universidade Federal de Alagoas.
» Em 1985, perdeu para Djalma Falcão a disputa interna para ser candidato à prefeitura de Maceió. Virou presidente regional do partido, com o apoio do usineiro João Lyra.
» Reeleito em 1986 para deputado federal com a maior votação do estado.
» Em junho de 1988, tornou-se um dos fundadores do PSDB.
» Deixou o PSDB em 1989 para se filiar ao PRN e ser assessor pessoal da candidatura de Fernando Collor à presidência da República (foto).
» Em 1990, tornou-se líder do governo no Congresso. Perdeu para Geraldo Bulhões a disputa pelo governo de Alagoas. Acusou Bulhões, aliado de Collor, de fraude nas eleições estaduais de 1990. Paulo César Farias foi o tesoureiro de Bulhões. Abandonou o PRN, acusando Collor de traição.
» Em 1992, acusou PC Farias de montar um governo paralelo e ajudou no pedido de impeachment de Collor.
» Entre 1993 e 1994, tornou-se vice-presidente executivo da Petrobras Química SA (Petroquisa).
» Em outubro de 1994, elegeu-se senador, com 235.332 votos.
» Em abril de 1998, com o apoio do senador Jader Barbalho, tornou-se ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. Deixou o cargo em julho de 1999.
» Em 2002, com José Sarney, apoiou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
» Em 2005, elegeu-se presidente do Senado.
» Em outubro de 2007, teve que renunciar ao cargo, após denúncias de que um lobista pagara contas pessoais. O capítulo final foi a apresentação de notas frias de vendas de cabeça de gado para justificar a renda. Fez o anúncio em rede nacional de tevê (foto).
» Em 2010, reelegeu-se para mais oito anos no Senado.
- Com informações de Paulo de Tarso Lyra e Karla Correia -