Tipo de corrupção, nepotismo sobrevive onde clãs ainda dominam o poder, diz livro.
- Da Folha Online - Por que o homem sente a tentação de empregar amigos e parentes?Já imaginou chamar os amigos para uma farra no motel financiada com o dinheiro do contribuinte? Ou colocar seu irmão para negociar com grandes empresas interessadas em pagar menos impostos? Início de governo é sempre assim: pipocam notícias sobre as vantagens de ter um amigo ou parente no poder. Quem realmente se importa? A revolta é por motivos éticos ou por inveja de não ser o beneficiado?
Em mais de 700 páginas, o livro "Em Louvor do Nepotismo" mostra que isso é um tipo de corrupção, os ocupantes de cargos deveriam ser escolhidos pelos seus méritos, e não por relações de parentesco. O favorecimento de familiares é um insulto ao nosso senso de justiça e ao nosso credo da meritocracia, defende Adam Bellow, que escreveu a obra.Para ele, em países como o Brasil, o nepotismo ganha terreno porque aqui ainda sobrevivem práticas feudais, ou seja, o poder político e econômico ainda está concentrado nas mãos de poucas famílias, clãs que resistem aos sistemas contemporâneos de contratação de pessoal.Em muitos casos, colocar amigos e parentes em cargos importantes é uma salvaguarda contra denúncias de irregularidades no uso do dinheiro público, pois se conta com um apoio cego, irrestrito, em que todas as decisões do governante devem ser aplaudidas sem pestanejar, sem questionamentos.A obra relembra os casos clássicos de nepotismo na história da humanidade, como os Borgia, Bonaparte e Rothschild e outras dinastias famosas. Dividido em duas partes, o livro dedica uma inteira para o problema nos Estados Unidos. A primeira parte discorre sobre as origens biológicas da tendência do homem de beneficiar quem faz parte do seu círculo mais íntimo, em tese, quem pode retribuir favores e garantir que seu sobrenome se perpetue.
Leia alguns trechos de "Em Louvor do Nepotismo":*Segundo recente pesquisa de empresários de vários lugares, o Brasil figura entre os quinze países mais corruptos do mundo. "Como quase sempre conseguem escapar impunes", escreveu um jornalista, os políticos e funcionários públicos brasileiros "usam a máquina do Estado para obter vantagens pessoais e ajudar amigos e parentes." O rei do nepotismo brasileiro era um juiz que empregava sessenta e três parentes --entre eles mulher e filhos, sobrinhos, sobrinhas, primos e noras. Todo mês os membros do seu clã embolsavam cerca de 250 mil dólares, ou quase 10% do total da folha de pagamento do Tribunal.(...)
Parece que entramos em um mundo de espelhos, onde os nossos valores de eficiência, mérito e correção estão invertidos. E entramos mesmo, pois nessas sociedades o nepotismo é realmente considerado "bom", coisa de dar orgulho, não um vício que se deva esconder.
A tolerância ao nepotismo em muitas partes do mundo em desenvolvimento pode ser um enigma para estrangeiros, mas não é nem um pouco acidental. Longe de ser o problema que é nos Estados Unidos, o nepotismo nessas sociedades é (ou era) uma solução cultural engenhosa de problemas sociais e políticos de um período anterior, e os sistemas de relações fundadas nele têm sido o alicerce da sociedade por centenas ou até milhares de anos. Em contraposição, a burocracia moderna é um fenômeno recente e importado e quase sempre imposto a um povo desgostoso. Assim, presenciamos nesses países não uma deplorável ausência de espírito público, mas o embate entre dois sistemas éticos inteiramente incompatíveis. É o conflito não solucionado entre esses sistemas conflitantes que origina o tipo de corrupção a que chamamos nepotismo.
Os valores modernos que adotamos são os do liberalismo tecnocrático. A alternativa se apresenta sob diferentes formas, com denominações tão variadas como familismo, tribalismo ou nacionalismo étnico. Todas podem ser classificadas no que rotulamos de Nepotismo Primevo. A era do Nepotismo Primevo é uma fase distinta da história, com cerca de dez mil anos, na qual os princípios do parentesco que evoluíram nas primeiras etapas da vida humana originaram uma ampla gama de instituições sociais. Consideramos aqui as principais manifestações coletivas do Nepotismo Primevo: a tribo, o clã e a casta. Cada qual representa uma adaptação cultural do nepotismo a desafios ecológicos singulares, e cada uma das grandes civilização antigas baseia-se em algumas dessas formas ou em todas elas. A "tribo" é encontrada em todo o mundo, mas nõs a analisaremos principalmente no contexto africano. O "clã" é uma particularidade da tribo que teve maior desenvolvimento na China. A Índia é palco clássico para o exame da "casta" e dos complexos desafios do nacionalismo étnico. Todas se mantêm profundamente escravizadas a essas instituições arcaicas e somente agora lutam para se libertar delas, até aqui com pouco sucesso.
*"Em Louvor do Nepotismo"Autor: Adam BellowEditora: GirafaPáginas: 712Quanto: R$ 12,90 (preço promocional, por tempo limitado)e comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha