Ruralistas criticam 'favelização' do campo.
- AE - Agência Estado - A possibilidade de uma alteração na política de governo na área de reforma agrária não surpreende a oposição. Segundo a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), mais de uma pesquisa já teria demonstrado a ineficácia do atual modelo. "É o mais ineficiente programa de combate à pobreza", diz ela. "Como programa para o desenvolvimento econômico tem resultado zero."Para a senadora, os assentados vivem precariamente, com graves deficiências nas áreas de saúde e educação. "A reforma virou mais uma bandeira de luta política que uma solução de fato. O modelo está errado: patrimônio não transfere renda, o que gera renda é eficiência, gestão e competitividade", conclui.O vice-presidente do DEM e membro da Frente Parlamentar do Agronegócio, deputado Ronaldo Caiado (GO), também acha que a mudança de rota seria o caminho mais "lógico e racional". Na mesma linha de Kátia Abreu, ele afirma que o atual modelo de reforma agrária não tem como sobreviver, porque a população dos assentamentos vive na miséria, com baixa escolaridade e renda mínima. "É um modelo falido, o governo precisa ver que o jogo é outro, tem de ser o da eficiência, do resultado. O que não é possível é continuar esse processo de favelização do campo", afirma.Para o deputado Dr. Rosinha, filiado ao PT do Paraná e defensor dos movimentos de sem-terra, a política de melhoria dos assentamentos não deve impedir a criação de outros. Para ele, as duas políticas não são excludentes.
Estrela das mais brilhantes no início do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, o Ministério do Desenvolvimento Agrário adentra o governo de Dilma Rousseff em meio a uma polêmica envolvendo seu papel no programa de erradicação da miséria - que está sendo desenhado pelo Ministério do Desenvolvimento Social. A polêmica teve início dias atrás, quando, ao ser convocado para apresentar sugestões para o programa, técnicos do Desenvolvimento Agrário apresentaram uma série de números que, em vez de esclarecer, provocaram dúvidas sobre o futuro da reforma agrária no governo Dilma.Os dados, coletados no final do ano passado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) revelam que 38% do total de 924 mil famílias já instaladas em assentamentos da reforma agrária no Brasil não conseguem obter com seu trabalho sequer um salário mínimo por mês. Os números também apontam que a pobreza se concentra de maneira dramática nas regiões Norte e Nordeste: do total de 38% de famílias em condições de pobreza nos assentamentos, 95% se encontram nessas duas regiões.
O contraste pode ser melhor demonstrado na comparação entre dois Estados. Enquanto no Ceará 47% dos assentados alcançam no máximo um salário mínimo mensal e 27% não atingem sequer meio salário, em Santa Catarina 73% dos beneficiados pela reforma têm renda superior a dois salários e 29% ultrapassam cinco salários.A dúvida instalada no governo é se, diante desses números, vale a pena continuar com a política de investir em novos assentamentos, como reivindicam os movimentos de sem-terra e defendem especialistas do Desenvolvimento Agrário. O que se ouve cada vez mais no Ministério do Desenvolvimento Social é que se deveria seguir outro caminho, investindo mais na melhoria do que já existe. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.