Governos do DF e de Goiás firmam convênio para reduzir violência no Entorno
- Do Correio Braziliense - Os governos do Distrito Federal e de Goiás vão assinar um convênio de cooperação para combater a violência crescente nos municípios do Entorno. Além da troca de informações na área de inteligência, a administração do estado de Goiás contará com o reforço das polícias Militar e Civil do Distrito Federal nas operações. Já o Instituto de Criminalística poderá auxiliar na elaboração de laudos que possibilitem o esclarecimento de crimes. A violência nos municípios vizinhos à capital é considerada tão grave que Goiás pedirá, pela segunda vez em quatro anos, que a tropa da Força Nacional de Segurança (FNS) ocupe a região.
Com a integração das polícias goiana e brasiliense, espera-se reduzir a criminalidade no Entorno e também em Brasília. Um diagnóstico recente da Secretaria de Segurança Pública de Goiás sobre a criminalidade nas cidades que cercam o DF revela que a taxa de homicídios em algumas delas é sete vezes maior que o número máximo preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dos 20 municípios com o maior número de assassinatos, 11 estão localizados nos arredores do Distrito Federal. Em Valparaíso (GO), distante 35km de Brasília, houve 75,97 mortes intencionais para cada grupo de 100 mil habitantes ao longo do ano passado. A OMS considera início de violência epidêmica quando são registrados 10 assassinatos por 100 mil moradores.Além de índices altos de homicídios, Águas Lindas é a segunda cidade do estado em casos de latrocínio e a terceira em abuso sexual.O convênio para que agentes da Polícia Civil e PMs doDF atuem em Goiás está em fase final de elaboração e deverá ser assinado até o fim deste mês. Além disso, em 15 dias, o governo goiano vai oficializar no Ministério da Justiça o pedido de ajuda da Força Nacional, conforme informou ao Correio o chefe do Gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, coronel Edson Costa. “Temos uma situação crônica no Entorno, agravada pelo tráfico de drogas. Não podemos aceitar viver numa situação de guerra. O que ocorre é um atentado aos direitos humanos”, avalia o coronel Costa, que também vai recorrer à Secretaria Nacional dos Direitos Humanos da Presidência da República afim de conseguir ajuda.
Além das altas taxas de homicídios, quem mora próximo a Brasília sofre com outros crimes graves. Das cidades goianas com mais registros de latrocínio (roubo com morte), cinco estão no Entorno. E dos 15 municípios goianos que mais registram casos de estupro, mais da metade fica nos arredores do DF. Águas Lindas de Goiás reflete bem a triste estatística. A cidade é a terceira colocada em casos de abuso sexual, além de ocupar o segundo lugar nos registros de latrocínio. “As condições de segurança são precárias. Temos centenas de inquéritos e laudos periciais atrasados”, afirma o coronel Edson Costa.
A parceria entre o GDF e o Poder Executivo de Goiás não chega a ser novidade, visto que já existe um acordo de cooperação — que vence em 31 de abril — e por meio do qual foram realizadas algumas operações conjuntas no passado. Nos últimos anos, porém, houve uma paralisia nas ações e as estratégias de combate integrado ao crime acabaram, com raríssimas exceções, apenas no papel. O que não voltará a ocorrer, segundo o subsecretário de Operações de Segurança Pública do DF, coronel Jooziel de Melo Freire.
Ele destaca que o acordo terá novidades e as ações serão mais abrangentes e frequentes. “A ênfase será nos crimes relacionados ao tráfico de entorpecentes e nos homicídios”, adiantou. “Só estamos colocando a mão onde alcançamos. Nenhum compromisso assumido pela Secretaria de Segurança Pública do DF vai sofrer de falta de continuidade. Temos metas, há um trabalho científico sendo feito. A ideia é erradicar uma série de transtornos no Entorno e que, eventualmente, reflete no DF”, enfatiza o coronel Jooziel.
A renovação da parceria será uma das primeiras ações do Gabinete de Gestão de Segurança Pública do Entorno, instalado em 23 de fevereiro. Os acertos finais deverão ocorrer após encontros entre os secretários de segurança do DF e de Goiás, respectivamente Daniel Lorenz e João Furtado. As preocupações das autoridades goianas aumentaram após as operações desencadeadas no DF para combater os crimes violentos e o tráfico de drogas.
AbandonoO coronel Edson Costa explica que a inteligência detectou uma guerra entre traficantes pela disputa por pontos de venda de drogas em cidades do Entorno. “É um movimento natural. Quando o DF aperta, há uma tendência de a criminalidade migrar para o Entorno. Quando Goiás aperta, ocorre o inverso. Para o tráfico não existe essa fronteira entre os estados. Por isso, temos que pensar em ações integradas”, defende. Ele reconhece existir um descrédito por parte da população e diz que a falta de esperança é resultado de mais de 40 anos de abandono da região. “Sem segurança e cidadania perdeu-se o controle de território. Só vamos mudar se houver um esforço conjunto de Goiás, do DF e da União”, destaca.
No DF, a situação é menos grave que no Entorno, mas a população também reivindica mais polícia nas ruas. Ao comentar a nova tentativa de cooperação entre os dois estados, a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos de Violência e Segurança, Maria Stela Grossi Porto, ressalta que “cada um dos governos, sob seus pontos de vista e em seus próprios territórios, tem problemas em excesso para resolver”. Segundo ela, o fato é que o Entorno é “terra de ninguém” que passou anos sofrendo com o descaso do governo goiano. “A parceria tem uma certa lógica. Mas, para dar certo, as ações têm de ser ampliadas. É preciso ofertar saúde, educação e lazer para essas famílias. Hoje, o único espaço possível é um botequinho para beber. E a bebida é um potencializador de violência”, afirma.
Quanto à possibilidade de envio da Força Nacional de Segurança para o Entorno, a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça informou que a decisão deve sair rapidamente. Assim que o pedido for formalizado pelo governo goiano, será avaliado pela secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki e, logo em seguida, pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A quantidade de homens deve ser estipulada pelo estado que solicita o apoio. Hoje, mais de 7 mil homens da Força Nacional estão atuando em diferentes regiões do Brasil.Memória
1º de abril» Uma adolescente de 17 anos é encontrada morta com um corte profundo no pescoço às margens da BR-040, no sentido Luziânia/Cristalina. Ela estudava no Colégio Estadual Antônio Março de Araújo (Cepama), localizado no Parque Estrela Dalva II, e estava desaparecida desde as 11h30 do dia anterior.
» Em Águas Lindas, Eberson Rodrigues de Souza Santos, 19 anos, e Tiago Dias Soares, 24, morreram após um homem atirar contra eles em um bar da Quadra 33 do Bairro Pérola I. Um terceiro rapaz, que não foi identificado pela polícia, também foi atingindo e socorrido em estado grave. O autor dos disparos fugiu.
31 de março» Um assalto a um posto de combustível termina com a morte de um cliente. Três assaltantes armados levaram os pertences do frentista e o dinheiro do caixa. Isael dos Santos Souza, 28 anos, que calibrava os pneus do caro tentou escapar do roubo mas acabou alvejado na cabeça e morreu no local. Os criminosos fugiram.
29 de março» Um rapaz de 17 anos, que não teve o nome revelado pela polícia, foi assassinado a tiros no Setor América II, atrás do Hotel Morada da Serra, na Quadra 3. Dois indivíduos não identificados cometeram o crime.
» Marcelo Pereira, 25 anos, e um outro rapaz, conhecido como Neris, foram mortos no lote 54 da Quadra 3. A polícia suspeita de acerto de contas e acredita que há relação entre os homicídios de Marcelo, Neris e do jovem de 17 anos.
» No Setor Cidade do Entorno, na Quadra 35, lote 40, Valdivino Lourenço dos Santos, 47, foi assassinado a golpes de faca. O suspeito de cometer o crime é um homem com quem a vítima discutiu pouco antes de ser morta.
» O corpo de Juliana de Souza, 21 anos, foi encontrado dentro de uma fossa no Setor Cidade do Entorno, na Quadra 27. Parentes da jovem contaram que ela estava desaparecida há cinco dias. A polícia ainda aguarda laudo do Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia para saber a causa da morte. Já se sabe, no entanto, que a jovem era usuária de crack.