Dólar já vale o mesmo que em 1998, antes da desvalorização do real
27 de jul. de 2011
- Vicente Nunes/Ana D'Angelo - Correio Braziliense - O mercado financeiro de todo o mundo operou, ontem, de olhos colados nos Estados Unidos. Numa contagem regressiva sem precedentes para que o Congresso norte-americano aprove o pedido do governo de Barack Obama de aumento do teto da dívida do país, de US$ 14,3 trilhões, investidores não esconderam o temor de um calote a partir de 2 de agosto. O resultado do nervosismo foi uma onda de prejuízos nas bolsas de valores e o derretimento do dólar.
A moeda norte-americana encerrou o dia com baixa de 0,45%, cotada a R$ 1,536 para venda, o menor nível desde 18 de janeiro de 1999.
Segundo o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, descontada a inflação, a moeda norte-americana está valendo o mesmo que em 1998, antes de o Brasil desvalorizar o real e adotar o regime de câmbio flutuante.
Na Bolsa de Nova York, índice Dow Jones recua 0,73% em resposta ao nervosismo dos investidores diante da dificuldade do governo norte-americano de aumentar o teto da dívida.
O Banco Central interveio quatro vezes no mercado comprando o excesso de divisas estrangeiras tanto no mercado à vista quanto no a termo (futuro), mas a presença mais ostensiva nos negócios desde 1° de abril foi em vão. “As incertezas são muitas.
Um calote dos Estados Unidos arrasaria todo o mundo”, disse Padovani. Segundo ele, quem tem dólares está trazendo parte dos recursos para o Brasil, pois há a percepção de que, mesmo com uma crise monstruosa lá fora, a economia brasileira seria uma das menos afetadas.
Além disso, há os juros altos, que compensam qualquer risco — o mesmo não se pode dizer da moeda norte-americana, que tende a continuar desabando ladeira abaixo. O dólar não perdeu valor apenas ante o real. Caiu 0,75% frente a uma cesta de seis moedas, entre elas, o euro.
A derrocada do dólar começou cedo, a ponto de os preços caírem até R$ 1,528. “Ainda que tente não acreditar no calote dos EUA, o mercado passou a considerá-lo provável, diante da dificuldade de Obama de chegar a um acordo com o Partido Republicano”, disse Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Em julho, o dólar acumula baixa de 1,49% e, no ano, de 7,64%.
Apelo popularA ponta de confiança que ainda resta nos investidores vem da pressão dos norte-americanos para que o Congresso aprove o aumento do teto da dívida do país. Em resposta aos apelos de Obama, a população entupiu de mensagens as caixas de e-mails dos parlamentares e congestionaram as linhas telefônicas do Congresso, em Washington. Alguns sites de deputados e senadores saíram do ar devido ao tráfego intenso, incluindo o do presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, líder republicano e maior opositor do mandatário dos EUA.
“Recebemos centenas de chamadas. A maioria das pessoas quer apenas que o Congresso trabalhe”, disse o senador democrata Bill Nelson, em nota. O porta-voz do parlamentar, Dan McLaughlin, afirmou que os telefones tocavam a todo momento e que, pela manhã, o gabinete recebeu cerca de 5.500 e-mails, acima do normal. Na segunda-feira à noite, Obama pediu aos norte-americanos que suas vozes fossem ouvidas. “Se você quer um debate equilibrado sobre a redução do deficit fiscal (e o aumento do teto da dívida), deixe o seu representante no Congresso saber disso. Se você acredita que podemos solucionar esse problema por meio de um compromisso, envie uma mensagem”, pediu.
Na Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa caiu 1,05%. No mês, os prejuízos chegam a 4,91% e, no ano, a 14,38%. Em Nova York, o índice Dow Jones cravou perda de 0,73%. “Investidores acreditam que haverá uma resolução de última hora, mas muitos deles estão começando a perder a confiança”, disse Hugh Johnson, vice-presidente de Investimentos da Hugh Johnson Advisors LLC, em Nova York.
Contra os republicanosOs norte-americanos estão com muito medo de uma crise da dívida dos Estados Unidos e a maioria (56%) apoia o tipo de acordo defendido pelo presidente Barack Obama para encerrar o impasse com o Congresso, envolvendo tanto um aumento de impostos e do teto da dívida quanto cortes em programas governamentais.
Os republicanos propõem uma profunda redução nos gastos, sem elevação de tributos. Os dados são de uma pesquisa da Agência Reuters e do Instituto Ipsos, divulgada ontem. A maior parte dos entrevistados (83%) disse estar preocupada com o fracasso das negociações sobre a dívida até o momento, enquanto 54% afirmaram estar muito preocupados. A culpa pelo impasse pesa mais para os republicanos: 31% apontam os políticos da oposição como responsáveis pela crise, contra 21% que responsabilizam Obama. Apenas 9% veem os políticos democratas como culpados.
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