- Por Ricardo Noblat -Acendeu o sinal amarelo para Orlando Silva, ministro dos Esportes, acusado por um militante do seu partido, o PC do B, de ter recebido dinheiro desviado de organizações não governamentais (ONGs)
No último sábado, reunida com assessores, Dilma considerou “inconsistente” a denúncia contra Orlando e fez questão de se solidarizar com ele.
Dilma procedeu da mesma forma com os ex-ministros Antonio Palocci, da Casa Civil, Alfredo Nascimento, dos Transportes, Wagner Rossi, da Agricultura e Pedro Novais, do Turismo. Uma vez afagados, eles acabaram compelidos a pedir demissão sob a suspeita de enriquecimento ilícito e outros tipos de malfeitos.
Atenção, Orlando! De amarela, a cor da luz passará à vermelha se nos próximos dias José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, sair em seu socorro – como saiu no caso dos outros.
Ou se o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma das almas mais imaculadas da Câmara, ensaiar algum ato de desagravo a seu favor.
Alfredo Nascimento começou a cair quando a VEJA publicou reportagem sobre irregularidades detectadas no ministério dos Transportes.
Anonimamente, empresários disseram à revista que pagavam comissões sobre contratos assinados com o ministério. E que o dinheiro engordava o Caixa 2 do PR, partido de Nascimento.
No dia em que VEJA circulou com a reportagem, Dilma ordenou o afastamento da cúpula do ministério. Só poupou Nascimento e o secretário-executivo, que o sucederia mais tarde.
Nascimento pediu as contas quando o jornal O Globo descobriu que um dos seus filhos ficara rico em pouco tempo. Pouquíssimo tempo. Assim como Palocci.
No caso de Orlando, as fontes de informação da VEJA têm nome, CPF e endereço residencial conhecido.
O policial militar João Dias Ferreira é uma delas. Fez parte do grupo de cinco pessoas presas no ano passado pela polícia de Brasília, acusadas de embolsar dinheiro do programa Segundo Tempo, do ministério dos Esportes.
Militante do PC do B, Dias Ferreira revelou que ONGs pagavam ao partido até 20% do valor de convênios firmados com o ministério. Em oito anos, o partido pode ter lucrado algo como R$ 40 milhões.
Uma vez, refugiado em seu carro dentro da garagem do ministério, Orlando chegou a receber em mãos dinheiro vivo. Que cena!
O portador da encomenda foi Célio Soares Pereira, 30 anos, funcionário de uma academia de ginástica de Dias Ferreira.
“Recolhi o dinheiro com representantes de entidades aqui do Distrito Federal que recebiam verba do Segundo Tempo e entreguei ao ministro numa caixa de papelão. Eram maços de notas de 50 e 100 reais”, confessou.
Se Nascimento saiu do governo sem que nenhuma pessoa se apresentasse para acusá-lo de nada, como Orlando Silva ficará depois de acusado por duas pessoas de roubar dinheiro público?
Se elas não recuarem, Orlando será processado – ou no Supremo Tribunal Federal, caso permaneça como ministro, ou na Justiça comum.
E aí, Dilma?
Boa parte de sua popularidade decorre da idéia de que você não tolera malfeitos. Não importa se isso é verdade ou não – importa que pegou.
Funciona assim: Lula foi leniente com a corrupção. Você não é.
Muita gente que não votou em você, agora seria capaz de fazê-lo. Em resumo: engana-me que eu gosto.
Aprendi a gostar com Lula, que, do mensalão, disse: “Isso me cheira a folclore”.
Disse sobre os que montaram um dossiê contra o PSDB: “Se um bando de aloprados resolve comprar um dossiê, é porque alguém vendeu.”
E debochou da quebra de sigilo fiscal da filha de José Serra: "Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora?”
Grande Lula!
Não vale, Dilma, perder seu sono por causa de Orlando. Nem dar pretexto para que as pessoas comecem a pensar: ora, por muito menos ela passou a vassoura em quatro ministros. O que detém seu braço?
Tratou-se apenas de um lance marqueteiro?
Em que estrela se escondeu a faxina ética?
“O tempora o mores” (Oh tempos, oh costumes!)
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