- Da Folha.com - No próximo dia 11 de dezembro os eleitores do Pará irão às urnas para decidir se o Estado deve ou não ser dividido, em um plebiscito que pode mudar o mapa do Brasil
A Folha consultou paraenses famosos para saber a opinião deles e os argumentos a favor ou contra a divisão.
Embora tenha se mudado para o Rio ainda bebê, a atriz Rosa Maria Murtinho, 75, que estrelou novelas como "Mandala" e, mais recentemente, "O Astro", afirma ser contra a divisão e acha que os argumentos de quem defende a partilha são desculpas para parlamentares trabalharem menos e dar mais despesas à União.
Rosa Maria Murtinho é contra: 'sou de um país que se chama Pará
Rosa Maria acha que a divisão só trará despesas à União. Foto: Mastrangelo Reino/Folhapress.
"É um absurdo dizer que a distância de Belém até Brasília influencia a divisão. Existem outras capitais mais longe do que Belém e nem por isso estão propondo o mesmo", reclama Rosa Maria, nascida em Belém, a capital paraense.
"Deputados e senadores devem trabalhar mais em Brasília pelo Estado. Quando vem a base é para aparecer, ir a festas, não é para trabalhar. Isso tem de mudar porque as reportagens mostram os plenários do Congresso vazios. Eles deviam trabalhar mais ao invés de propor a divisão do Estado. Isso não é uma demanda do povo, não é legítimo e o Brasil não aguenta mais despesa. Essa discussão tira o foco de questões importantes."
A cantora
Fafá de Belém também é contra a divisão
Fafá de Belém é contra: 'sou de um país que se chama Pará'. Foto: Regina de Gramont/Folhapress.
A cantora Fafá de Belém, um dos ícones da campanha das Diretas Já, na década de 1980, também é contra.
"Eu sou de um país que se chama Pará! Não acredito que se possa dividir um povo e seu sentimento."Para ela, esse movimento está sendo feito para satisfazer a "ganância e a vaidade" de quem não tem compromisso com o Estado e os paraenses. "Os interessados na divisão são aqueles que não têm compromisso com essa terra, que não têm uma família que mora em Santarém ou Marabá e veio para Belém estudar, e aqui criou laços, uma nova família."
Fafá, assim como a banda Calypso, de Joelma e Chimbinha, devem ser convocados para participarem da campanha contra a divisão. Procurado pela Folha, no entanto, o casal não respondeu as solicitações da reportagem para opinarem sobre o tema.
Outro cantor,
Beto Barbosa, famoso pelo hit brega "Adocica", diz ser a favor da divisão. Para ele, o interior do Estado vai ser beneficiado por uma eventual criação de Tapajós e Carajás, os Estados que serão criados caso a população aprove a divisão.
Para Beto Barbosa, a divisão é boa para quem mora no interior do Estado.
"Quem vive no interior quer a divisão porque a administração fica centralizada na região de Belém. Minha visão é para o Estado todo não só para a capital", diz Barbosa,
Para Barbosa, com a divisão, o interiorano se beneficiará. "O Estado ganharia, especialmente, para quem não mora na região de Belém. Toda divisão é sofrida, tem período de adaptação, mas deve crescer depois. Porque hoje Estado é muito grande e mal administrado. Falta saneamento em quase todo o interior, por exemplo", diz o cantor, que também nasceu na capital.
O cantor lembra do surgimento do Tocantins como um exemplo para os novos Estados que podem surgir. "Eu que viajo muito pelo Pará, e todo o Brasil, vi como Palmas, capital do Tocantins, se desenvolveu muito depois da divisão. As pessoas vivem melhor depois da divisão. Mas acho natural que tenha resistência."
No campo esportivo, o jogador Paulo Henrique Ganso, do Santos, que é de Ananindeua, na região de Belém, já se manifestou publicamente contra a divisão. Ele vestiu uma camiseta com uma bandeira do Pará no jorgo em que o seu time conquistou a Libertadores, em junho. Mas, segundo sua assessoroa de imprensa, ele evita dar entrevistas sobre o tema.
O jogador Ganso (esq.) não fala sobre o assunto, mas já declarou publicamente que é contra. Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress.
Outros paraenses célebres, como os atores
Lúcio Mauro,
Dira Paes e o estilista
Lino Villaventura, também foram procurados, mas preferiram não se posicionar sobre a questão.
PROPOSTA
Na votação, cerca de 4,6 milhões de eleitores paraenses vão decidir se o Pará vai se desmembrar e dar origem a dois outros Estados: Tapajós (oeste do atual Estado) e Carajás (sul). O Pará remanescente da divisão ficaria com 17% de sua atual extensão territorial.O STF (Supremo Tribunal Federal) definiu no dia 24 de agosto que toda a população do Pará deve ser ouvida no plebiscito sobre a divisão de sua área para a criação de Tapajós e Carajás, e não só a parcela dos cidadãos que poderá integrar os novos Estados.
O Supremo entendeu que todos que hoje vivem no Pará serão diretamente afetados com a possível criação dos novos Estados e, portanto, devem se pronunciar.
Arte/Folhapress