- Do Correio Braziliense - Categoria aceita proposta dos patrões de reajuste de 20% e retorna ao trabalho após quatro dias de paralisação
As últimas horas do movimento ficaram marcadas por reclamações e revolta da população, que teve dificuldade para pagar contas.
Chegou ao fim a greve dos vigilantes do Distrito Federal. Após quatro dias de paralisação, a categoria decidiu em assembleia na tarde de ontem aceitar a proposta dos patrões de reajuste de 20%, com aumento para R$ 17 no tíquete-alimentação. Como a folha de pagamento deste mês está fechada, o reajuste será incluído em março. Os seguranças voltaram aos postos de trabalho às 22h de ontem. Hoje, as agências bancárias devem funcionar normalmente.
As propostas foram apresentadas pelo Sindicato das Empresas de Segurança, Curso de Formação, Transporte de Valores e Segurança Eletrônica do DF (Sindesp-DF) durante reunião no Ministério Público do Trabalho, na 513 Norte. Os vigilantes aceitaram a oferta e por volta das 19h encerraram o movimento. “Ficou acordado que os dias parados serão abonados e nenhum funcionário será punido por conta da greve”, destacou o vice-presidente do Sindicato dos Vigilantes do DF (Sindesv-DF), Paulo Quadros. A categoria ignorou ontem decisão da Justiça, que havia mandado 60% voltar ao trabalho.
Segundo o presidente do Sindesp-DF, Irenaldo Pereira Lima, apenas três empresários não aprovaram o acordo. No reajuste de 20%, está inclusa a gratificação de 8,33% por risco de vida, além de 9,40% de inflação acumulada pelos meses sem reajustes salariais (leia quadro). “Quanto aos outros quase 3%, a categoria ficará à vontade para escolher se quer aplicar no salário ou em outros itens”, explicou o líder sindical.
A greve dos vigilantes no Distrito Federal provocou insegurança em diversos setores e aumentou o trabalho da Polícia Militar desde a última quinta-feira à noite, início da paralisação. Falta de informação em hospitais, clientes de bancos sem atendimento e vigilantes de empresas privadas trabalhando sem farda após serem intimidados pelos colegas em greve foram alguns dos problemas enfrentados em decorrência do movimento.
Os vigias que trabalharam na manhã de ontem em um banco da Asa Sul, por exemplo, tiveram de deixar os postos em razão da visita de representantes do sindicato. A agência bancária não pôde abrir as portas em respeito a uma legislação federal. Os clientes foram encaminhados para uma agência próxima, onde havia três vigilantes fazendo a segurança do local, mesmo com a portaria principal lacrada com cartazes. Depois de insistir, o arquiteto Pablo Costa, 47 anos, conseguiu pagar um boleto. O vencimento estava previsto para ontem. “Se não tem como fazer o atendimento, o banco teria que mudar a data do pagamento”, defendeu.
Em outra agência, os clientes só tiveram acesso aos caixas eletrônicos, mas a opção de depósito não estava disponível. “Não há como fazer a conferência do dinheiro porque não tem vigilante. Só conseguimos sacar e pagar algum boleto se tivermos conta no banco”, reclamou o advogado Hermes Moraes, 38 anos. Pela manhã, ele tentou depositar um cheque referente ao pagamento de um cliente, mas teve de voltar para casa. “O jeito é esperar a greve acabar”, indignou-se.
Policiais militares
Para oferecer uma maior sensação de segurança, PMs a pé e em carros circularam constantemente nos arredores de algumas agências bancárias. “Esse procedimento dá mais segurança para os bancários e aos clientes. Estamos trabalhando ao máximo para evitar uma coisa maior”, explicou o cabo Hanni Faiz, do 3º Batalhão de Polícia Militar, na Asa Norte.
Diversas equipes ainda se deslocaram para o Aeroporto Juscelino Kubitschek após receberem a informação de que vigilantes fariam uma manifestação no local. No Hospital de Base do Distrito Federal, funcionários de diversas áreas continuaram a se revezar para atender o público e cuidar da portaria. Sem vigilantes, as guaritas permaneceram abertas durante o dia. Quem não aderiu à greve, reclamou da atuação de alguns colegas. “Eles ligam e passam com os carros nas empresas vendo quem está trabalhando. Pela nossa segurança, nós decidimos trabalhar sem a farda”, disse um vigilante, que preferiu anonimato.
Norma
A Lei Federal nº 7.102/93 garante a segurança para estabelecimentos financeiros e diz que “é vedado o funcionamento de qualquer estabelecimento financeiro onde haja guarda de valores ou movimentação de numerário que não possua sistema de segurança”. Em outro artigo, a norma indica que “o sistema de segurança referido (...) inclui pessoas adequadamente preparadas, assim chamadas vigilantes”.
Veja a Negociação:O que a categoria reivindicava:» 15% de reajuste salarial
» Correção de 8,33% em gratificações por risco de vida
» Tíquete-alimentação de R$ 25 por dia
O que os patrões ofereceram:» 20% de reajuste, que inclui 8,33% por risco de vida e 9,40% de inflação acumulada pelos meses sem reajustes salariais
» Auxílio-alimentação de R$ 17 (era de R$ 13,50)