- Por Renato Alves/Correio Braziliense - Nunca houve uma empresa aérea genuinamente brasiliense. Mas uma gigantesca companhia nacional estampava o nome e símbolos da capital federal em seus belos aviões. Quase desconhecida, sua história é fascinante. Assista ao vídeo histórico sobre o evento de lançamento de uma linha da Real Aerovias:
Nascida em São Paulo após o término da Segunda Guerra Mundial, apenas com aviões militares movidos a hélice, a Real Aerovias Brasília chegou a ser a maior do país e a sétima do mundo em número de aeronaves. E ostenta o feito de ter sido a primeira a pousar no aeroporto internacional de Brasília, ainda em construção, em 1957.
A Real Aerovias (Redes Estaduais Aéreas Ltda.) surgiu em 1945. Como tantas companhias, aproveitou uma demanda reprimida do mercado e o baixo preço dos aviões por causa dos excedentes da guerra. O primeiro voo comercial ocorreu em 7 de fevereiro de 1946, entre os aeroporto de Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ).
Com tarifas econômicas, política que faria sucesso décadas depois em todo mundo, logo a Real virou grande concorrente da Panair e da Varig nas rotas nacionais e internacionais. Graças à sua expansão, aeroportos brasileiros foram construídos para receber linhas da Real.
A empresa também cresceu comprando outras, menores. Em 1948, adquiriu a Linhas Aéreas Wright. Dois anos depois, comprou a Linhas Aéreas Natal (LAN). Em 1951, incorporou a Linha Aérea Transcontinental Brasileira (LATB), expandindo a malha na Região Nordeste e fazendo seu primeiro voo internacional, para Assunção, no Paraguai.
O salto maior veio em 1954 e 1956, quando comprou a Aerovias Brasil e a Transporte Aéreo Nacional, respectivamente. Por fim, em 1957, assumiu metade do capital da Sadia Transportes Aéreas — rebatizada como Transbrasil em 1972.
ApogeuComo um grande consórcio, a Real Aerovias chegou a 117 aeronaves, ocupando a sétima colocação no ranking da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), a mais alta posição atingida por uma empresa aérea brasileira até então.
Na época, voava para os Estados Unidos.
Aterrissou pela primeira vez em Brasília em 30 de abril de 1957, quando o definitivo aeroporto — ainda uma mera pista de terra com um barracão de madeira fazendo as vezes de terminal — inaugurou o tráfego aéreo.
A companhia, dona da primeira rota regular para nova capital, passou a se chamar Real Aerovias Brasília em 1960. Seus aviões, em alumínio natural, adotaram uma logomarca verde e amarela na cauda com os traços da Catedral e desenhos das colunas do Palácio da Alvorada ao longo da lateral.
“Naquela época, voei muito pela Real. O doutor
Juscelino (Kubitschek) e a
dona Sarah também. Era a maior companhia”, lembra Cirlene Ramos, 76 anos, secretária da família Kubitschek há quase meio século.