- Por Gabriel de Sá, do Correio Braziliense - A vida em Águas Lindas de Goiás, localizada a 45km de Brasília, não difere muito das cidades-dormitório das grandes metrópoles brasileiras.
O crescimento desordenado levou o município goiano de 150 mil habitantes a figurar entre os mais violentos do país, mesmo tendo apenas 20 anos de idade. Quem passa pela BR-070, rodovia que cruza a cidade, percebe pouco além da paisagem árida e conturbada, com suas ruas empoeiradas e fama de violenta.
Mas a reação contra essas mazelas sociais começa a surgir da própria população, e com arte. É o caso de
Eduardo Sheiki e
Gildemar Silva, que adotaram a cidade do Entorno e
resolveram produzir um longa-metragem de ficção com integrantes da própria comunidade.
Estão animados com o resultado:
“Em Brasília, acham que aqui só há pessoas incultas e incapazes, e que estamos dominados pela violência. Não quero dizer que isso não exista, mas Águas Lindas tem gente de bem, tem arte e também empreendedorismo”, destaca Sheiki, ator, diretor e roteirista do filme Estação do sonhador, primeira incursão amadora da cidade pelo cinema.
A produção rudimentar é totalmente protagonizada por águas-lindenses — os nativos ou os por opção. Ninguém os ensinou a fazer cinema.
A trupe, capitaneada pelo produtor Gildemar Silva, age com o impulso de quem sempre vislumbrou um espetáculo mais grandioso do lado de lá da telona. Cientes do espírito de coletividade que o projeto demanda, usam a criatividade para transformar boa vontade em arte: pedaços de ferro, alumínio e piso de ônibus viram gruas, steadicams e carrinhos para cenas em movimento.