O grupo empresarial responsável pelos pacotes VIP da Copa do Mundo de 2014 superfaturou a hospedagem da seleção brasileira num amistoso pago com dinheiro público
- Por Felipe Coutinho, da Folha.com - Em novembro de 2008, a
Pallas Turismo, do
Grupo Águia, foi responsável pela hospedagem das seleções de Brasil e Portugal, em amistoso realizado em Brasília.
A partida foi bancada com dinheiro público do governo do Distrito Federal --R$ 9 milhões. Como a Folha revelou, o jogo é investigado por
suspeita de desvio de dinheiro.
Portugal x Brasil. O português Tiago e o brasileiro Nilmar quase se chutam durante o jogo.
Foto: Roberto Candia/AP.
A empresa contratada foi a
Ailanto Marketing, cujo dono é
Sandro Rosell, presidente do Barcelona e denunciado na Justiça por fraude na organização da partida.
Segundo o Ministério Público do DF, Rosell foi beneficiado por uma dispensa ilegal de licitação do governo local e usou documento falso para comprovar a capacidade técnica da Ailanto.Editoria de arte/Folhapress
Durante a investigação, a Polícia Civil suspeitou dos valores cobrados e pediu aos hotéis as notas fiscais. A Folha teve acesso à documentação. As notas chegam ao valor de R$ 79 mil, entre hospedagem e alimentação.
O valor discriminado como da seleção brasileira é de R$ 38 mil. Há valores de R$ 3 mil que não foram contabilizados como da seleção, mas que foram emitidos à Pallas.
Já na hospedagem da seleção portuguesa, o hotel cobrou cerca de R$ 41 mil.
A Pallas, ao cobrar da Ailanto, empresa que organizou a partida, informou que o total gasto só com a hospedagem das duas seleções foi de R$ 211 mil (sem contar gastos extras, que elevaram a conta para R$ 261 mil).A Ailanto pagou a fatura com o dinheiro público que recebeu --a empresa apresentou à Justiça as notas fiscais e os extratos bancários como prestação de contas.
O Grupo Águia não respondeu até a noite desta segunda-feira. Já a defesa da Ailanto negou irregularidades.
RELAÇÃOA agência Pallas é o braço do Grupo Águia que cuida da hospedagem da seleção. A Top Service, do mesmo grupo, vende pacotes VIP da Copa.
A Pallas é do empresário Wagner Abrahão, que cedeu um jatinho para Ricardo Teixeira ir a Miami quando este deixou a presidência da CBF.Tanto a Pallas quanto a Top Service estavam entre a lista de beneficiadas em pagamentos da TAM para patrocínio da seleção.
Outra ligação entre Teixeira e a partida suspeita está em Rosell, amigo pessoal do cartola.
À época, Teixeira negou relação com a partida e disse que a CBF havia cedido os direitos de organização do jogo.
A Polícia Civil apreendeu documentos na casa da sócia de Rosell que mostram transferências de R$ 705 mil dos donos da Ailanto a Teixeira.OUTRO LADO: ADVOGADO DIZ QUE VALOR NÃO FOI ALVO DA DENÚNCIA
Procurado pela Folha na manhã de ontem, o Grupo Águia, que controla a Pallas Turismo, não respondeu até a noite.
A defesa da Ailanto Marketing nega irregularidades no amistoso. Segundo o advogado Antenor Madruga, que defende o dono da empresa e presidente do Barcelona, Sandro Rosell, na esfera penal, os pagamentos à Pallas não foram alvo de questionamento do Ministério Público.
"A relevância para nós é zero porque nem sequer consta na denúncia. Se fosse ilegal, estaria na denúncia."
A denúncia aponta dois crimes em relação aos donos da Ailanto Marketing: falsidade ideológica e dispensa ilegal de licitação. O advogado de Rosell classificou a denúncia de "vergonhosa e irresponsável".
Na esfera civil, em que a Ailanto é alvo de ação para devolver o dinheiro da partida, a defesa apresentou notas fiscais e extratos bancários a título de prestação de contas dos R$ 9 milhões recebidos, como forma de mostrar que pagou os valores que foram cobrados pela Pallas.
No processo, a Ailanto declara que o contrato com o governo do Distrito Federal era "pesado, e a empresa quase não conseguiu reter qualquer resultado". E informa que o contrato foi cumprido. "A ocorrência da partida a contento é notória e evidente."
Ainda não houve decisão judicial do caso, tanto na esfera civil como na penal.