Membros da ordem, descontentes com rumos do caso envolvendo a venda de um terreno, cogitam saída do presidente e criação de junta governativa
- Por Gelson Wamburg - A situação está insustentável na Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA). Três caminhos estão sendo discutidos por conselheiros que não aceitaram a venda do terreno da subseção de Altamira e foram surpreendidos pela descoberta de que a assinatura do vice-presidente Evaldo Pinto na procuração para a finalização do negócio havia sido falsificada. Jarbas Vasconcelos, durante passeata pela ética, em junho - Foto: Adauto Rodrigues.
A renúncia do presidente Jarbas Vasconcelos é uma hipótese admitida até por conselheiros mais próximos a ele, mas isso dificilmente ocorrerá por iniciativa do próprio dirigente. Também é cogitada a renúncia coletiva da diretoria e a criação de uma junta governativa.
A última hipótese, no caso de derrota da tese da renúncia do presidente, seria a saída dos conselheiros insatisfeitos. Se isso vier a ocorrer, ela seria barulhenta, o que ampliaria ainda mais o desgaste que a OAB regional já experimenta por conta de uma transação com todo cheiro de falcatrua e temperada pela fraude da assinatura em cartório.
Vasconcelos sequer cogita renunciar e tem dito a amigos que não dará essa satisfação aos que criticam seu trabalho. Ele enxerga uma articulação política para apeá-lo do poder. Ao DIÁRIO, advogados próximos de Vasconcelos confessam que o presidente demorou a perceber os efeitos do estrago que provocou na imagem da OAB com a malsinada venda do terreno.
E mais: teria subestimado o poder de fogo dos descontentes, deixando para retornar a Belém dez dias depois que o incêndio se alastrava para fora da OAB. Para esses conselheiros, Vasconcelos deu um tiro no próprio pé, criando duas comissões inócuas para apurar a venda e a fraude na assinatura. Foi a maneira que ele encontrou de dizer ao Conselho Federal da entidade que pode investigar o caso sem a interferência de Brasília.
O efeito prático do trabalho das comissões de Vasconcelos, ainda de acordo com avaliação de conselheiros, será quase nenhum, diante da presença de três conselheiros federais com poder para investigar tudo e isenção suficiente para apontar eventuais culpados pela tramoia.
ENTENDA O CASOA venda de um terreno da subseção da OAB em Altamira é a origem do escândalo que balança a entidade. O imóvel foi vendido ao conselheiro Robério D’Oliveira por R$ 301 mil quando o valor de mercado girava em torno de R$ 900 mil. Para fechar negócio, foi usada uma procuração em que a assinatura do vice-presidente da OAB-PA, Evaldo Pinto, foi falsificada. A chefe do setor jurídico da entidade admitiu a fraude, que teria sido ‘autorizada’ po Pinto. Ele nega. O caso está sendo apurado pelo conselho federal da OAB. A regional Pará também abriu investigação.LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO AQUI Falsificação seria uma prática recorrentePor outro lado, a confissão de um crime, o da falsificação da assinatura, assumida em nota divulgada pelo presidente da entidade, Jarbas Vasconcelos, durante anúncio da formação das duas comissões locais para investigar o caso, deixou perplexa a categoria dos advogados, principalmente a alegação da chefa do setor jurídico, Cynthia de Nazaré Portilho da Rocha, de que teria recebido ordem de Pinto em uma “prática recorrente” na diretoria.
Ou seja, não seria esta a primeira vez que uma fraude desse tipo era praticada na OAB. O vice repele a afirmação de Cynthia e também pedirá a quebra de seu sigilo telefônico, dizendo esta tranquilo de que em momento algum autorizou a falsificação de sua assinatura. “ A conversa telefônica entre eu e ela vai mostrar a verdade, inclusive a minha recomendação de que o negócio (venda do terreno) fosse suspenso” salienta Pinto.
A inusitada confissão expões não apenas um, mas todos os cartórios do Pará à suspeita de que a falsificação pode ser feita sem que ninguém se dê ao trabalho ao menos de verificar a autencidade de uma assinatura. Mais grave ainda é o crime ter sido cometido por quem deveria zelar pela fé pública da atividade cartorária, no caso uma entidade centenária quem sempre esteve na linha de frente do respeito às leis, como a OAB. (Com informações do Diário do Pará)