Em pronunciamento a jornalistas, Francisco pregou que quer uma ‘Igreja pobre para os pobres’ e enfatizou que a escolha de seu nome faz referência a Francisco de Assis, ‘homem da pobreza’
Ao final de discurso, o pontífice foi aplaudido de pé por todos.
- Por Andrei Netto, do O Estado de S. Paulo/EFE - Em mais um sinal de que deseja reorientar o discurso católico, o papa Francisco pregou ontem, no Vaticano, uma “Igreja pobre e para os pobres”, mas com menos ênfase política e mais espiritual.
O recado foi enviado em um pronunciamento a jornalistas do mundo inteiro, convidados a encontrar-se com o novo pontífice. Ao final da solenidade, foi ovacionado por uma plateia de cerca de 4 mil pessoas, boa parte indiferente às acusações que pairam sobre suas relações com a ditadura na Argentina dos anos 1970 e 1980.
O encontro com os jornalistas foi sua quarta aparição pública em quatro dias de pontificado, desde sua eleição no conclave de quarta-feira. Alternando a leitura de um discurso escrito e trechos de improviso mais intimistas, Francisco falou por 15 minutos, voltando a abordar as relações entre a espiritualidade e a política na religião, tema sobre o qual havia feito uma homilia aos cardeais em missa na quinta-feira, na Capela Sistina.
“A Igreja, ainda que seja uma instituição humana, histórica, com tudo o que comporta, não tem natureza política, e sim essencialmente espiritual: é o povo de Deus que caminha para o encontro com Jesus. Só com essa perspectiva é possível entender a obra da Igreja Católica”, disse o papa.
Outro ponto importante de seu pronunciamento girou em torno de um tema que se repete como foco de seus discursos: o voto de pobreza. Evocando o assunto de improviso, o papa defendeu uma evangelização voltada “ao último”, referindo-se aos excluídos. “
Como eu gostaria de uma Igreja pobre, para os pobres!”, afirmou, sendo interrompido por aplausos.
Também de improviso,
Jorge Mario Bergoglio explicou as razões pelas quais adotou o nome de Francisco, em referência a
São Francisco de Assis.
“É um homem da pobreza, um homem da paz, que ama e protege a criatura, em um momento em que não temos uma relação tão boa”, disse o pontífice.
Bem-humorado, ele recordou os instantes finais do conclave, quando percebeu que seria o escolhido, e mais tarde as brincadeiras que ouviu sobre outros nomes que poderia ter adotado. Uma das denominações sugeridas, lembrou, foi Clemente. “Então você seria o Clemente XV, para se vingar de Clemente XIV, que suprimiu a
Companhia de Jesus”, disse, relatando um diálogo que fazia referência à sua condição de jesuíta.
Imprensa A seguir, o papa se dirigiu aos jornalistas, agradecendo-lhes pela cobertura da transição no Vaticano, aberta pelo anúncio da renúncia feito por Bento XVI em fevereiro.
“Quero renovar meu agradecimento pelos esforços desses dias tão trabalhosos e quero fazer um convite para que vocês tentem conhecer cada vez mais a natureza da Igreja, com seus pecados e virtudes, e conhecer suas motivações espirituais”, afirmou, assegurando ver identidade entre os interesses da religião e da mídia.
“Seu trabalho exige atenção para com a verdade, o que nos deixa muito próximos.”
Ao final de seu discurso, Francisco foi aplaudido de pé – até mesmo por muitos jornalistas – e ouviu seu nome em gritos de saudação, antes de passar a receber alguns religiosos, jornalistas e trabalhadores do Vaticano.