Serra acusa PT de tentar cercear trabalho dos jornais de forma velada
Liberdade de Imprensa é tema no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, no Rio de Janeiro
Do Correio Braziliense
O candidato a presidência da República José Serra (PSDB) esteve no 8º Congresso Brasileiro de Jornais, da Associação Nacional de Jornais (ANJ), realizado no hotel Windsor Barra, no Rio de Janeiro. O objetivo principal da presença do político foi a assinatura da Declaração de Chapultepec (conjunto de intenções pela liberdade de imprensa), com seu companheiro de chapa, Índio da Costa.
"Na Constituinte, eu fui um dos defensores mais ferrenhos, entre outras, da liberdade de expressão. Essa é a maior garantia de todas as nossas liberdades", discursou Serra, que citou o ex-presidente norte-americano Thomas Jefferson, dizendo que preferia uma imprensa sem governo do que o contrário. "Não há nenhum país considerado democrático sem liberdade de expressão e imprensa. Infelizmente, o Brasil parece ter uma amizade especial com governos que não partilham disso", criticou o candidato, referindo-se às polêmicas conversas públicas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com presidentes como Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e Mahmoud Ahmadinejad (Irã).
Serra mostrou veemência ao criticar o que ele chamou de "conferencismo": reuniões realizadas com dinheiro público voltadas, segundo ele, para o "cerceamento da liberdade de expressão." "Quantas pessoas participaram? 15 mil? Isso não representa o povo brasileiro, mas um partido. Como governador de São Paulo, eu neguei o financiamento e a participação nessas conferências", afirmou. Ele também apontou a existência de um ponto no programa de governo de Dilma Roussef (PT) sobre a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. "Não foi por engano. São posições de controle de imprensa."
Serra também pontuou sobre a suposta tentativa de controle econômico dos jornais durante o governo Lula. "A publicidade governamental está sendo usado como eu nunca vi antes, pelo menos enquanto adulto", afirmou. E, então, cometeu uma gafe, ao lembrar que tinha proibido propagandas de cigarro enquanto era ministro da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso - a Souza Cruz, empresa de tabaco, patrocina o evento da ANJ.
Por fim, o candidato colocou o patrulhamento como uma terceira via da intimidação da imprensa. "Principalmente através de uma lei, com ambiguidades, que tem um certo amparo legal", disse, lembrando de uma coluna da jornalista Dora Kramer que afirmara que o patrulhamento tem efeito no sentido de que jornalistas, temerosos de represálias, se censuram. "O que importam são versões e isso limita a liberdade de expressão. Também é alimentada por dinheiro público, muitos blogs e a TV Brasil, criada para dar emprego a jornalistas", disparou.
Para Serra, o fim da Lei de Imprensa - advinda do governo militar - tinha que ser aplaudido, mas com cuidado, já que poderia abrir caminho a formas veladas de censura, como o direito de resposta. "Creio que deveria se fazer uma autorregulamentação nessa direção do direito de resposta", lembrou. Por fim, o candidato disse se alinhar incondicionalmente com quem defende, "sem sombras", a liberdade de imprensa.
"Não significa que eu concorde com tudo o que é feito, com tudo o que leio. Deixo explicitamente minha opinião contrária, mas com ânimo de quem debate e não quem quer censurar.É muito diferente de usar a opressão do Estado organizada por um partido. Eu não tenho duas caras, eu não tenho duas opiniões. Estou dizendo algo que vem do fundo da minha alma. Me tenham ao meu lado na luta pela liberdade de imprensa, porque é uma luta pela democracia", terminou, antes de se recusar a responder algumas perguntas feitas por jornalistas.