Ministra Erenice Guerra deixa o governo
Porta-voz leu carta de demissão da ministra no Palácio do Planalto.
Filho da ministra é acusado de tráfico de influência na Casa Civil.
Do G1, em BrasíliaO porta-voz da Presidência da República, Marcelo Baumbach, anunciou oficialmente nesta quinta-feira (16) a demissão de Erenice Guerra da Casa Civil.
O substituto interino é o atual secretário-executivo da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima. De acordo com o Planalto, deve ser nomeado na próxima semana o novo ocupante do cargo.
No Palácio do Planalto, o porta-voz leu a carta de demissão "em caráter irrevogável" redigida por Erenice. Ela classificou como "levianas" as denúncias contra ela e disse "necessitar de paz" para se defender.
Na carta de demissão, Erenice voltou a dizer que as acusações contra ela têm motivação eleitoral. “Por ter formação cristã, não desejo nem para o pior dos meus inimigos que ele venha a passar por uma campanha de desqualificação como a que se desencadeou contra mim e minha família. As paixões eleitorais não podem justificar esse vale-tudo”, disse.
Na última terça-feira (7), ela divulgou nota em que atribui as denúncias a um “candidato aético e derrotado”.
A decisão de substituir Erenice foi tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após uma reunião com a ministra nesta quinta.Segundo reportagem da revista “Veja”, Israel Guerra, filho da ministra, teria intermediado contratos de uma empresa de transporte aéreo MTA com os Correios mediante pagamento de propina.Nesta quinta (16), reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” diz que Israel também pediu uma comissão para obter no Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) empréstimo para uma empresa energética. De acordo com a publicação, os donos da companhia se reuniram com Erenice em novembro do ano passado.Desde que as denúncias começaram a aparecer na imprensa, no último sábado (11), Erenice se defendeu por meio de notas à imprensa.Ela negou as acusações e pediu, na terça-feira (13), que o Ministério da Justiça e a Controladoria-Geral da União investigassem os contratos firmados com suposta participação de Israel Guerra. No mesmo dia, Lula reuniu ministros do governo para pedir explicações públicas sobre as acusações.
O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, anunciou abertura de inquérito pela Polícia Federal para verificar se houve tráfico de influência nas operações da empresa aérea e os Correios, mas excluiu a ministra das investigações.
Na ocasião, o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, alegou que Erenice não “está diretamente ligada aos fatos”. Os Correios divulgaram nota confirmando que mantém contratos com a MTA, mas alegou que os negócios era legais e firmados após processo de licitação. A empresa de transporte aéreo negou que tenha relações “contratuais ou negociais” com Erenice e Israel Guerra.
Atuação no ministério
Antes de assumir como ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra ocupava o cargo de secretária-executiva do ministério. A atuação ao lado da então ministra Dilma Rousseff vinha desde o Ministério de Minas e Energia.
Como secretária-executiva da Casa Civil, Erenice foi envolvida no escândalo da quebra de sigilo da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, mas não teve participação comprovada.Logo após assumir o cargo deixado por Dilma Rousseff, Erenice foi peça importante na negociação prévia e no lançamento do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), em maio deste ano. O plano colocou a estatal Telebras como "espinha dorsal" da banda larga no Brasil.
Durante o período de Erenice no cargo ocorreram as enchentes nos estados de Alagoas e Pernambuco. A Casa Civil coordenou o envio de fundos para atender às vítimas das enchentes.
A ministra-chefe tocou a contratação de empresas para construir a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Também durante sua passagem pelo cargo, Erenice participou da tramitação do processo de capitalização da Petrobras referente à área do pré-sal.