Estudantes de Brazlândia são classificados para evento de âmbito nacional
Eles vão apresentar o projeto de um foguete, desenvolvido a partir de uma garrafa plástica, em uma jornada que se realiza em Minas Gerais e seleciona os 50 melhores trabalhos do gênero inscritos em uma olimpíada
Do Correio Braziliense
Cinco alunos do Centro de Ensino Médio 1 de Brazlândia estão nas alturas. Mais que isso, nas estrelas. Os jovens cientistas foram classificados para a 2ª Jornada de Foguetes, que reunirá os 50 melhores trabalhos inscritos na 4ª Olimpíada Brasileira de Foguetes (Obfog), promovida pelo Instituto de Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Entre 1º e 3 de dezembro, os estudantes participarão da jornada na cidade de Passa Quatro (MG), onde os três trabalhos que apresentarem melhor desempenho e processo de construção serão premiados. Os cinco estudantes são os únicos do Distrito Federal classificados para o evento.
Higor Dionízio dos Santos (E) e Reinaldo efetuam o primeiro disparo: reação química é responsável pela impulsão. Foto Paulo de Araujo
Com uma garrafa plástica, a elaboração de algumas reações químicas e muita dedicação durante mais de um ano de testes, Reinaldo Marcos Albuquerque Silva, 18 anos; Higor Dionízio dos Santos, 17; Rodrigo Santana de Sousa, 17; Raquel Christina de Souza Silva, 18; e Jonatan Fonseca de Paula, 18, construíram o protótipo que se baseia nas mesmas funções físicas do equipamento espacial real. “O foguete é criado com um mecanismo sem combustão. Ao ser liberada uma quantidade de bicarbonato de sódio, com a ajuda de um cano introduzindo na garrafa uma solução ácida de vinagre, a pressão gerada pela reação química impulsiona o foguete quando liberadas as travas de segurança”, explica Reinaldo.
Para participar da eliminatória da olimpíada, os candidatos devem construir equipamentos que respeitem critérios básicos de segurança, sigam o mesmo princípio de propulsão pelo qual passam os foguetes reais e atinjam a distância mínima de 60 metros de distância ao serem lançados. Tudo deve ser documentado para envio à comissão julgadora do evento. Depois de ter construído 15 foguetes e aperfeiçoado o desenho do protótipo diversas vezes, a equipe de Brazlândia conseguiu alcançar a marca de 125,4 metros — a melhor da competição do ano passado foi 171 metros.“Melhoramos o desenho do foguete para diminuir a resistência do ar. Também precisamos calcular melhor as quantidades de cada substância para melhorar a reação química. A cada novo teste, o espaço da escola ficava menor para os testes. Nosso foguete ia cada vez mais longe”, brinca Higor. “Nós nos preparamos para filmar o lançamento final. Foi preciso mais que uma quadra de esportes para fazer o teste”, lembra.
DedicaçãoA escola em que o projeto foi desenvolvido não possui estrutura para experimentos laboratoriais. “Não foi possível dar suporte maior aos alunos que quiseram se inscrever na olimpíada, pois nossos laboratórios de química e física estão desativados por falta de professores”, explica Elton Lima Silva, coordenador pedagógico do CEM 1 de Brazlândia e um dos orientadores do projeto na escola. As limitações impostas aos jovens não foram suficientes para diminuir a dedicação ao trabalho, tanto por parte dos alunos quanto dos professores da instituição. “Nossos professores de física, matemática e química estavam sempre disponíveis para tirar dúvidas, dar sugestões e conselhos”, afirma Rodrigo.A participação dos educadores da escola, segundo Reinaldo, foi fator essencial para que o projeto tomasse força. “Nem todo aluno se sente motivado a participar de uma competição. Eles nos apoiaram, não nos deixaram desistir. Foram totalmente solidários e acreditaram no nosso potencial. Isso fez toda a diferença para que nos esforçássemos cada vez mais”, diz.Passo a passo, a equipe de jovens cientistas vai preparando seu foguete para ganhar os ares. Reinaldo Marcos Albuquerque Silva: "Foi preciso mais que uma quadra de esportes para fazer o teste"
Para que os jovens garantissem a ida ao evento que será realizado em Passa Quatro, foi preciso que novamente os professores entrassem em ação. Os gastos para a ida à cidade deveriam ficar por conta dos estudantes, que se viram impossibilitados de viajar por conta do custo. “As famílias desses jovens são carentes para investir a quantidade necessária para a viagem. Sabendo disso, os professores do CEM 1 se uniram voluntariamente para arrecadar o valor necessário para a hospedagem dos quatro alunos que vão viajar. Quase R$ 600 reais”, conta Elton. Além disso, o corpo docente se mobilizou para garantir, com a Secretaria de Educação do Distrito Federal, as passagens de ônibus de ida e volta para a cidade mineira. “Falta agora um patrocínio para a compra dos materiais necessários para a construção de mais um foguete e dos combustíveis para as apresentações que faremos na jornada. Estamos confiantes que até o dia da viagem tudo esteja garantido”, afirma o coordenador.
Cientista natoO projeto do foguete criado pelos jovens de Brazlândia nasceu do sonho que um deles tem de se tornar um químico, profissão em que poderia expor sua paixão pelas ciências, pelos números, cálculos e experimentos. “Desde pequeno, sempre gostei de assistir a programas sobre ciências na televisão”, lembra. Reinaldo pensou pela primeira vez em se inscrever para a Olimpíada de Foguetes em 2009, após participar da Olimpíada Brasileira de Astronomia, pré-requisito para quem quer enviar os protótipos espaciais. “Construí um foguete, mas não consegui me inscrever. Fiquei desanimado. Mas meus professores me aconselharam a guardar o projeto e tentar no ano seguinte. Foi o que fiz.”No início deste ano, Reinaldo começou a procurar os parceiros para a nova tentativa. Um ficou sabendo da notícia e se voluntariou — já que gostava de física e queria aprender um pouco mais. Um outro se interessou por curiosidade. Um terceiro achou a ideia divertida e decidiu participar também. Foi assim que o time se formou: Higor, Rodrigo, Raquel e Jonatan começaram a estudar para melhorar o projeto idealizado por Reinaldo.Dedicado à pesquisa dos foguetes, Reinaldo, diversas vezes, chegou a pedir ao supervisor de estágio para ser liberado. “Eu precisava fazer testes e meu chefe sempre me ajudava me dando uma folga ou outra.” A força de vontade acabou incentivando também os outros colegas. “No início, eu não me dava bem nas matérias de física, química. Nem gostava. Entrei no grupo porque adorei a ideia de construir um foguete de verdade. Agora, até minhas notas melhoraram e eu mudei muito minha visão sobre as aulas”, comenta Higor.“A dedicação dos estudantes é notável, em especial sua evolução”, diz o coordenador Elton. “Reinaldo é de uma família humilde, assim como várias outras que conhecemos aqui na escola. Ele tem a sorte de contar com pais que o incentivam a continuar estudando, traçando esse caminho, diferentemente de outros tantos jovens. Acaba que é um bom exemplo para os colegas, que veem nele, no trabalho que fizemos juntos e no esforço dos professores que é possível ter uma perspectiva melhor de futuro com a ajuda do trabalho e da educação”, conclui.
Ainda há tempo de participarQuem desejar se inscrever na próxima etapa da olimpíada, em 2011, deve primeiramente ter feito a prova da Olimpíada Brasileira de Astronomia, que será aplicada nas escolas participantes na data aproximada de 14 de maio de 2011. A partir dessa data, os alunos devem fazer uma pré-inscrição no site da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (www.oba.org.br). É também a partir de 14 de maio que os trabalhos poderão ser enviados para a coordenação do evento.A escola deve escolher a equipe que construir o foguete que obtenha o melhor alcance para inscrever na olimpíada. O lançamento deve ser documentado em vídeo, com fotos (para descrição do foguete) e em relatório que conte como foi o processo de fabricação do foguete. Até 20 de junho de 2011, tudo deve ser enviado para o Instituto de Física da Uerj: Rua São Francisco Xavier, 524/3023-D, MaracanãCEP: 20550-900, Rio de Janeiro, RJ.Os foguetes devem ser construídos em garrafas plásticas PET e com combustível comum, formado a partir da reação química do vinagre (ou suco de limão) com o bicarbonato de sódio. É exigido também que seja construído em uma base com sistema de trava que permita liberar o foguete com segurança e válvula de aborto que permita a liberação do gás, em caso de falha do equipamento.Os lançamentos devem ser feitos em posição oblíqua, não vertical. O objetivo é medir a distância que o foguete alcança na horizontal. Outros detalhes sobre a montagem do foguete ficam por conta da criatividade dos candidatos e equipes.