Aliança com o PMDB é destacada como principal trunfo da campanha de Agnelo
Ricardo TaffnerDo Correio Braziliense
As batalhas são vencidas com estratégias bem feitas. Seja em uma guerra por territórios, em uma disputa pelo poder ou em uma competição esportiva, as táticas são os principais meios para se chegar à vitória. Na corrida eleitoral não é diferente e Agnelo Queiroz (PT) contou com uma equipe para avaliar e definir cada passo dado na campanha pelo Palácio do Buriti. O Correio ouviu os principais estrategistas do núcleo central da candidatura petista sobre as decisões tomadas no processo eleitoral que levaram o ex-ministro do Esporte a conquistar a preferência do eleitorado brasiliense. Na avaliação de todos, o principal mérito foi a construção de uma grande aliança e da “sintonia” dos líderes dos 12 partidos que integraram a coligação.
Já o erro mais evidente foi a falha de não detectar um movimento, no primeiro turno, pelo voto de protesto que adiou a decisão por mais um mês. A coordenação da campanha foi formada por 12 pessoas, entre representantes das equipes jurídicas, de marketing, de comunicação, de articulação política, além de nomes importantes como os dos senadores eleitos Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB). O comando tático e operacional ficou sob responsabilidade dos petistas Raimundo Júnior e Abimael Nunes. Um conselho político formado pelos presidentes das legendas e organizado por Roberto Policarpo (PT) e Tadeu Filippelli (PMDB) também ajudou a definir as táticas.
O primeiro passo para a vitória de Agnelo foi o de, justamente, colocá-lo na disputa. Para isso, ele precisou migrar, em 2008, do PCdoB para o PT e conquistar a confiança dos novos correligionários. “O fato de começarmos a estruturar com antecedência foi fundamental”, diz Raimundo Júnior. Com uma pré-campanha formada a mais de um ano das eleições e costurada internamente na legenda, o caminho foi facilitado pela crise política deflagrada, em 27 de novembro 2009, pela Operação Caixa de Pandora. Os escândalos tiraram do cenário o então governador, José Roberto Arruda (sem partido), que havia atraído para o seu lado grande parte das siglas partidárias.Depois das prévias internas do PT, em março deste ano, que chancelaram o nome do ex-ministro, a sigla ficou livre para construir a chapa. Nesse processo foram fundamentais as atuações de Cristovam e Rollemberg. “A unidade que conseguimos foi o principal elemento para a vitória. Não tivemos nenhuma desavença entre os partidos e tudo foi feito de uma maneira muito correta”, afirma Cristovam.
A adesão do PMDB é apontada como fator diferencial, uma vez que esvaziou a possibilidade de fortalecimento da candidatura adversária e levou Agnelo a redutos aonde o PT não chegava. Mas se a coligação foi importante para o sucesso, ela também foi alvo de críticas dos adversários, principalmente por conta da participação de parlamentares investigados pela Polícia Federal no suposto esquema de pagamento de propina. “Não foi fácil unir as militâncias em um primeiro momento, mas, no decorrer da campanha, os atritos foram se diluindo e conseguimos trabalhar bem”, diz Policarpo.
CampanhaSegundo o coordenador de comunicação, Luís Costa Pinto, a ordem foi fazer uma campanha centrada nas propostas. “Fomos propositivos e não agressivos, destrutivos. Em momento algum, houve golpe abaixo da cintura”, diz. Os episódios mais tensos ocorreram quando Agnelo precisou defender-se dos ataques recebidos da coligação de Roriz. “Nesse ponto também foi importante o enfrentamento célere na Justiça de uma campanha mentirosa e difamatória dos adversários”, completa o advogado Luis Alcoforado.
Para o deputado Paulo Tadeu (PT), Agnelo poderia ter vencido no primeiro turno se o grupo tivesse percebido o crescimento da candidatura de Toninho do PSol. “Detectamos esse movimento só depois de abertas as urnas, mas nos reunimos e trabalhamos para recuperar esses votos no segundo turno”, diz o parlamentar. “Nos concentramos em Roriz e no debate da Lei da Ficha Limpa e não enfrentamos devidamente os outros concorrentes”, destaca Raimundo Júnior.
Policarpo acredita, ainda, que a disputa proporcional desviou a atenção de alguns candidatos do partido, que poderiam ter trabalhado mais pela corrida majoritária. “Erros sempre acontecem, mas diante da vitória eles são minimizados”, diz o presidente do PT-DF. Outro problema corrigido a tempo, segundo Costa Pinto, foi a descentralização da campanha. “Decidimos depender menos do comitê central ao fortalecer as estruturas nas cidades. Isso ajudou bastante a fazer nosso material chegar ao eleitor”, explica o jornalista.
Partilha do poderA coligação Um Novo Caminho reuniu doze legendas: PT, PRB, PDT, PT, PTB, PMDB, PPS, PHS, PTC, PSB, PRP e PCdoB. Ainda declararam apoio à candidatura de Agnelo o PSL e o PV. A chapa elegeu 15 dos 24 deputados distritais, cinco dos oito federais e os dois senadores da República. O próximo governo deverá dar espaço a todas as siglas, mas a transição oficial começará apenas na próxima semana, quando Agnelo retornar de viagem. Até lá, Raimundo Júnior será o responsável pela organização da estrutura, com a captação de dados primários do GDF e a definição do local para a realização dos trabalhos.