São Lourenço e as águas turvas da Nestlé
- Por Carla Klein / Fernando Florido - Há alguns anos a Nestlé vem utilizando os poços de água mineral de São Lourenço para fabricar a água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões.As águas minerais, de propriedades medicinais, e baixo custo, eram um eficiente e barato tratamento médico para diversas doenças, que entrou em desuso, a partir dos anos 50, pela maciça campanha dos laboratórios farmacêuticos para vender suas fórmulas químicas através dos médicos.Mas o poder dessas águas permanece. Médicos da região, por exemplo, curam a anemia das crianças de baixa renda apenas com água ferruginosa.Para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à saúde, desmineraliza a água e acrescenta os sais minerais de sua patente.A desmineralização de água é proibida pela Constituição.Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais para fechar a reação.Em outras palavras, a PureLife é uma água química.A Nestlé está faturando em cima de um bem comum, a água, além de o estar esgotando por não obedecer às normas de restrição de impacto ambiental, expondo a saúde da população a riscos desconhecidos.O ritmo de bombeamento da Nestlé está acima do permitido.Troca de dutos na presença de fiscais é rotina.O terreno do Parque das Águas de São Lourenço está afundando devido ao comprometimento dos lençóis subterrâneos.
A extração em níveis além do aceito está comprometendo os poços minerais, cujas águas têm um lento processo de formação.Dois poços já secaram. Toda a região do Sul de Minas está sendo afetada, inclusive estâncias minerais de outras localidades.Durante anos a Nestlé vinha operando, sem licença estadual e finalmente obteve essa licença no início de 2004.Um dos brasileiros atuantes no movimento de defesa das águas de São Lourenço, Franklin Frederick, após anos de tentativas frustradas junto ao governo e imprensa para combater o problema, conseguiu apoio, na Suíça, para interpelar a empresa criminosa.A Igreja Reformista, a Igreja Católica, Grupos Socialistas e a Ong Verde ATTAC uniram esforços contra a Nestlé, que já havia tentado a mesma prática na Suíça.Em janeiro deste ano, graças ao apoio desses grupos, Franklin conseguiu interpelar pessoalmente, e em público, o presidente mundial do Grupo Nestlé. Este, irritado, respondeu que mandaria fechar imediatamente a fábrica da Nestlé em São Lourenço.No dia seguinte, o governo de Minas (Aécio Neves - PSDB), baixou portaria que regulamentava a atividade da Nestlé.Ao invés de multas, uma autorização, mesmo ferindo a legislação federal.Sem aproveitar o apoio internacional para o caso, apoiou uma corporação privada de histórico duvidoso.Se a grande imprensa brasileira, misteriosa e sistematicamente vem ignorando o caso, o mesmo não ocorre na Europa, onde o assunto foi publicado em jornais de vários países, além de duas matérias de meia hora na televisão.Em uma dessas matérias, o vereador Cássio Mendes, do PT de São Lourenço, envolvido na batalha contra a criminosa Nestlé, reclama que sofreu pressões do Governo Federal (PT), para calar a boca.Teria sido avisado de que o pessoal da Nestlé apóia o Programa Fome Zero e não está gostando do barulho em São Lourenço.Diga-se também que a relação espúria da Nestlé com o Fome Zero é outro caso sinistro.A empresa, como estratégia de marketing, incentiva os consumidores a comprar seus produtos, alegando que reverte lucros para o Fome Zero.E qual é a real participação da Nestlé no programa? A contratação de agentes e, parece, também fornecendo o treinamento.Sim, a famosa Nestlé, que tem sido há décadas alvo internacional de denúncias de propaganda mentirosa, enganando mães pobres e educadores para a substituição de leite materno por produtos Nestlé, em um dos maiores crimes contra a humanidade.A vendedora de leites e papinhas "substitutos" estaria envolvida com o treinamento dos agentes brasileiros do Fome Zero, recolhendo informações e gerando lucros e publicidade nas duas pontas do programa: compradores desejosos de colaborar e famintos carentes de comida e informação.Mais preocupante: o Governo Federal anuncia que irá alterar a legislação, permitindo a desmineralização " parcial" das águas.O que é isso? Como será regulamentado? Como é isso?Se a Nestlé vinha bombeando água além do permitido e a fiscalização nada fez, como irão fiscalizar a tal desmineralização "parcial"? Além do que, "parcial" ou "integral", a desmineralização é combatida por cientistas e pesquisadores de todo o mundo.E por que alterar a legislação em um item que apenas interessa à Nestlé?O que nós cidadãos ganhamos com isso? Seremos sempre enganado sem direito a defesa? Sabemos que outras empresas, como a Coca-Cola, estão no mesmo caminho da Nestlé, adquirindo terrenos em importantes áreas de fontes de água, diretamente ou através de empresas de fachada e produzindo água com qualidade e propriedades adulteradas.Através de técnicos do governo federal tomamos conhecimento que 95% das fontes e empresas que exploram e comercializam água mineral no país já pertencem a estas duas corporações, Coca-Cola e Nestlé, que são corporações ligadas a organizações internacionais.É para essas empresas que o governo governa?Parece-nos que este governo está seriamente comprometido com estas elites satânicas e o seu plano de monopólio da água no Brasil e no planeta.A quem no governo federal interessa isso? Em troca de que?Uma vergonha !!!Mais informações sobre o caso Nestlé em: www.cidadaniapelasaguas.netFonte: http://www.sinaltrainal.org/index.php?option=com_content&task=view&id=1612&Itemid=48