- Do Estadão - PF investiga pagamentos de até 30% do esquema comandado por Carlinhos Cachoeira ao senador do DEM, que usaria verba em caixa 2 de campanha
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, avalia se pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar o
senador Demóstenes Torres (DEM), envolvido em denúncias de suposta cobrança de propina e favorecimento pela máfia dos caça-níqueis em Goiás.
A situação do parlamentar se complicou depois da divulgação de informações, pela revista Carta Capital, de que
receberia 30% da arrecadação do empresário de jogos de azar, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jogo ilegal para alimentar o caixa 2 de campanha eleitoral. Também ontem, outra reportagem do jornal O Globo mostrou que grampos da PF revelaram que o senador pediu dinheiro e vazou informações oficiais a Cachoeira.
Segundo a reportagem publicada ontem no site da revista, três relatórios do delegado Deuselino Valadares dos Santos, ex-chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF em Goiás, informam que
o senador recebia comissão sobre a arrecadação do esquema, que teria arrecadado R$ 170 milhões em seis anos. A parte do parlamentar seria de R$ 50 milhões, dinheiro que seria destinado à sua futura campanha ao governo do Estado.
Os documentos integrariam relatório da Operação Monte Carlo, que prendeu 35 pessoas em 29 de fevereiro, entre elas Cachoeira e o próprio delegado. Deuselino teria parado a investigação depois de ser "comprado" pelo grupo do empresário e Demóstenes.
Também estariam envolvidos os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).Um dos documentos citados relataria que, após uma investida da PF para estourar um
cassino do advogado Ruy Cruvinel, envolvido no
jogo do bicho, ele contou que, dos R$ 200 mil mensais arrecadados, 50% iriam para Cachoeira e outros 30% para o senador.
O senador Demóstenes Torres (DEM/GO) teria recebido propina do bicheiro Carlos Cachoeira.
Já reportagem de O Globo mostrou que numa das gravações da PF o senador apareceria pedindo que Cachoeira lhe pagasse uma despesa de R$ 3 mil com táxi aéreo. Em outra, faria confidências sobre reuniões reservadas com autoridades.Gaveta.
O caso ficou parado por dois anos e meio. Ontem, a procuradoria informou que a apuração sobre os dados, remetidos em 2009 pela Justiça, ficou suspensa aguardando a conclusão de outra investigação em curso, mas, recentemente, os documentos foram anexados à Monte Carlo.
Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) vão pedir na terça-feira explicações a Gurgel sobre quais providências tomou em 2009 sobre o relatório, que também
aponta o envolvimento de Leréia e Sandes Junior (PP) com Cachoeira. "A PGR não pode mais retardar as investigações", afirmou Randolfe.
Ele e Taques haviam apresentado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), representação para apurar as denúncias que envolvem Demóstenes. Segundo Randolfe, com os novos fatos, tornou-se "inevitável" que Sarney despache o pedido para a corregedoria ou para o Conselho de Ética do Senado.
Defesa. O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que seu cliente nega "peremptoriamente" as acusações de que recebia 30% da arrecadação de Cachoeira. Segundo ele, a matéria é "uma ofensa" e os relatórios da PF citados, "fantasiosos". O senador informou ao advogado que uma pessoa próxima de Cruvinel disse que ele negou ter implicado o senador em depoimento.
Sobre o pedido de dinheiro ao empresário, o advogado informou que o senador só vai se pronunciar depois de conhecer as denúncias. Ontem, ele protocolou na PGR o segundo pedido para ter acesso aos documentos.
Leréia não se pronunciou ontem. Sandes Júnior, Jovair Arantes e Rubens Otoni não foram localizados pelo Estado.