- De O Estado de S.Paulo - Por causa de uma camiseta exibida em plenário, a Justiça anulou o júri que condenou a 18 anos e 8 meses de prisão, em 30 de julho de 2010, quatro policiais militares suspeitos de integrar o grupo conhecido como "Highlanders"
Eles haviam sido condenados por matar, em outubro de 2008, Antonio Carlos da Silva, o Carlinhos, de 31 anos, que tinha deficiência mental. Um novo julgamento será marcado.
Durante o júri,
o juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov, do Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, pediu às pessoas presentes que retirassem a camiseta de apoio a Carlinhos, onde se lia "deficiente mental é assassinado por PMs da Força Tática". Todos tiraram mas, na réplica, o promotor Vitor Petri exibiu a camiseta, o que virou motivo para o recurso do advogado Celso Vendramini, que defende os PMs Moisés Alves dos Santos, Joaquim Aleixo Neto, Anderson dos Santos Salles e Rodolfo da Silva Vieira.
"Ele (Petri) sentiu que poderiam ser absolvidos e apelou, mostrou a camiseta e disse que o juiz estava cerceando a liberdade de expressão. Isso influenciou os jurados."A 10.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo acatou o pedido. No acórdão, publicado ontem, o relator Fábio Gouvêa diz que o promotor desobedeceu a ordem do juiz.
O caso segue em segredo de Justiça e os PMs continuam detidos.Revolta. Os familiares de Carlinhos foram informados ontem à tarde pelo Estado sobre a decisão judicial e ficaram revoltados. "Se fosse uma camiseta da maneira como eles deixaram meu filho, sem cabeça, sem as mãos e retalhado, tudo bem. Mas era simplesmente a foto do meu filho, aquele que tiraram de mim", afirma a doméstica Maria da Conceição da Silva, de 51 anos.
Os "Highlanders", grupo de nove PMs que teria matado pelo menos 12 pessoas, receberam esse nome porque cortavam a cabeça das vítimas, como no filme de 1986. Um já foi condenado e outros quatro são suspeitos.O corpo de Carlinhos foi identificado pela família no Instituto Médico-Legal (IML) de Taboão da Serra dois dias depois de ter desaparecido. Segundo testemunhas, ele havia sido levado pela viatura 37104 da Força Tática, na noite de 8 de outubro de 2010.
A família identificou Carlinhos por uma tatuagem, mas não havia provas legais de que o corpo era o dele. Por isso, ele foi enterrado como indigente.
Irmã de Carlinhos, a dona de casa Vânia Lúcia da Silva Alves, de 29 anos, também criticou a decisão. "É muito revoltante, mas a nossa luta vai continuar. No novo julgamento, vamos ganhar mais uma vez."
O promotor Vitor Petri foi procurado ontem, mas não foi encontrado pela reportagem até as 20h. O Ministério Público também não se manifestou a respeito do júri anulado.