- Da Agência Brasil -
Três estabelecimentos da Império do Forro de Bolso, em Pernambuco, foram interditados na última semana
Órgão ambiental aponta para danos causados ao meio ambiente.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou em R$ 6 milhões a Império do Forro de Bolso, empresa têxtil pernambucana responsável por importar toneladas de lixo hospitalar dos Estados Unidos. A companhia
Hamburg Süd dona do navio que trouxe os dois contêineres apreendidos no Porto de Suape nos dias 11 e 13 de outubro será multada em R$ 2 milhões.
Cerca de 25 toneladas de material foram encontradas na loja e nos galpões da empresa.
Foto: Beto Oliveira/AE.
O órgão ambiental aplicou multa de R$ 2 milhões a cada um dos três estabelecimentos da Império do Forro de Bolso interditados nas últimas semanas: dois galpões e uma loja localizados nas cidades de Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama. Em nota, o Ibama informou que as multas se devem a danos causados ao meio ambiente pelo material irregular, classificado como potencialmente infectante pela legislação sanitária brasileira.
Ainda na nota, o órgão defende que os dois contêineres, com cerca de 46 toneladas de tecido com a logomarca de hospitais norte-americanos e manchas que o Instituto de Criminalística de Pernambuco analisa para saber se são de sangue, devem ser devolvidos aos Estados Unidos.
Já as cerca de 25 toneladas encontradas na loja e nos galpões da Império do Forro não podem, segundo o Ibama, ser devolvidos e devem ser incinerados por uma empresa especializada. O material encontrado nos estabelecimentos é, provavelmente, proveniente de seis contêineres que a Império do Forro recebeu este ano da mesma exportadora norte-americana e que não foram inspecionados pela alfândega.
Lixo hospitalar apreendido em contêiner em Suape
(Foto: Divulgação / Receita Federal).
Entenda o caso:
Corruptela de sul e helanca,
sulanca designa as confecções baratas que começaram a ser vendidas nas feiras do agreste com a malha trazida do Sul e deram origem a um polo têxtil que hoje engloba 14 municípios na região, com mais de 22 mil empresas - 18 mil delas informais - e empregam 150 mil pessoas.
Feira da Sulanca em Caruaru - PE
A apreensão, pela Receita Federal, no último dia 11, no Porto de Suape, de dois contêineres importados pela empresa Na Intimidade, do município, com 46 toneladas de material com indícios de lixo hospitalar - lençóis sujos com logomarca de hospitais norte-americanos, além de cateteres, seringas e luvas usadas - apavorou a cidade. E promoveu a união de todos contra o empresário cearense
Altair Teixeira de Moura, apontado como responsável pela importação irregular.
"Estou com muita vergonha, nunca tinha ouvido falar nessa história de lixo hospitalar", resume Gerusa. Ela começou a costurar aos 10 anos, ajudando a mãe. Adora o que faz, trabalha das 8 às 22 horas no pequeno terraço da casa, tem férias de 20 dias por ano e costura 5 mil peças por semana - shorts para malhação e blusas.
"Um corta, outro costura, outro revisa, outro faz entrega, outro comercializa", diz ela, sobre o envolvimento de todos no empreendimento familiar, o
Julia Moda Cotton. Os pais, com 80 anos, não trabalham mais. Duas das irmãs de Gerusa abriram suas próprias empresas, formais.
Emprego
Com uma população de 90 mil habitantes,
Santa Cruz do Capibaribe é o segundo maior polo de confecções do País, concentra mais da metade das empresas do setor têxtil pernambucano e se gaba por não ter desemprego.
Em meio à repercussão do caso, o movimento de negócios na região caiu assustadoramente nos últimos dias. O teste será hoje no Moda Center Santa Cruz. Inaugurado em 2006, é considerado o maior shopping atacadista da América Latina. Abriga 9.312 boxes e 707 lojas em uma área coberta de 120 mil metros quadrados e recebe em torno de 30 mil clientes de várias regiões, especialmente do Norte e Nordeste, de domingo a terça-feira.
O clima é temor em relação ao fim do ano, quando cerca de 100 mil atacadistas chegam, por semana, ao Moda Center, para fazer seus estoques de Natal.
A carga declarada na guia de importação da Na Intimidade - "tecido de algodão com defeito" -, na prática, colocou todo o polo sob suspeita. Moura depôs na Polícia Federal alegando ter sido enganado, pois não teria importado tal material. Mas o estrago estava feito.Um comitê gestor da crise foi criado - integrado por empresários, prefeituras do polo, governo do Estado e autoridades sanitárias - e
Santa Cruz do Capibaribe se empenha numa operação pente-fino, buscando limpar seu território de qualquer vestígio de lençol, toalha, jaleco e fronha com inscrições de hospitais norte-americanos.
Até o FBI, a polícia federal americana, está investigando o caso. "É muita gente com a vida em jogo", resume o diretor do Clube de Diretores Lojistas (CDL) local, Bruno Bezerra.
Quem fabrica e vende calças e bermudas faz questão de mostrar as roupas pelo avesso para provar que não usa o tecido dos lençóis hospitalares. "Nossa mercadoria tem controle de qualidade e fabricamos os próprios forros dos bolsos, não compramos em retalho", diz Wellington Curvelo da Silva, de 27 anos, gerente da Dranreb's jeans wear.
O ressentimento contra Moura é antigo. Édson Soares, da Davi Moda Infantil, comentou o que está na boca de muitos. O empresário, que vende forro de bolso, seria responsável por uma concorrência desleal que teria levado pelo menos três pequenos comerciantes a mudar de ramo. "Quando ele chegou a Santa Cruz, vendia o forro de bolso a R$ 5 o quilo, não dava para competir", diz.
O comércio de lençóis de hospitais brasileiros em várias partes do País - até mesmo em Santa Cruz do Capibaribe - não é levado em conta. "Encontrar lençóis de sobras de produção de tecelagens brasileiras não é crime", reage Bezerra, do CDL. "É uma prática de décadas, se procurar no Brás (bairro paulistano) vai achar muito", acrescenta.