- Por Naiara Leão, do G1 DF - Ex-funcionário de empresa diz ter pago R$ 50 mil a governador
Valor foi devolução de empréstimo, diz Agnelo; empresa negou ato irregular.
A deputada distrital Celina Leão (PSD) apresentou nesta segunda-feira (7) a cópia de um comprovante de transferência bancária de R$ 5 mil da conta de um ex-funcionário de uma indústria farmacêutica para o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. O valor seria parte de um total de R$ 50 mil destinado ao governador. Agnelo nega.
Comprovante mostra transferência de R$ 5 mil de conta de funcionário de empresa farmacêutica para o governador Agnelo Queiroz (Foto: Divulgação)
O documento é de janeiro de 2008, época em que Agnelo era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por liberar a circulação de medicamentos. A transferência foi feita da conta pessoal do ex-funcionário da União Química Farmacêutica, Daniel Tavares, para a de Agnelo Queiroz.
A empresa doou R$ 200 mil à campanha de Agnelo ao governo do Distrito Federal – dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que essa é a terceira maior empresa doadora de recursos para o então candidato.
Por meio de nota, o governador Agnelo Queiroz confirmou ter recebido o depósito, mas diz que foi “a devolução de uma quantia concedida em empréstimo à referida pessoa, realizada de forma transparente”. "Não é crível que este [Agnelo] receberia algo irregular em sua conta corrente", diz outro trecho da nota.
O texto diz ainda que a denúncia “é mais uma tentativa desesperada da oposição de construir algo que relacione Agnelo Queiroz a qualquer irregularidade” (veja íntegra da nota ao final desta reportagem).
Também por meio de nota, a União Química Farmacêutica confirmou que Tavares foi funcionário da empresa, mas negou irregularidades. Segundo a nota, "é totalmente improcedente qualquer denúncia feita por essa pessoa [Tavares]".
De acordo com a deputada Celina Leão, Tavares teria dito a ela que os R$ 5 mil seriam parte de uma propina de R$ 50 mil pagos pela empresa a Agnelo. Celina afirma que foi procurada no dia 23 de outubro por Tavares, que estaria interessado em denunciar as relações ilícitas entre Agnelo e a União Química.
De acordo com Celina, Tavares afirmou que foi à casa de Agnelo para entregar R$ 45 mil pela liberação de um medicamento.
Agnelo teria cobrado R$ 5 mil que faltavam para completar um suposto certo inicial de R$ 50 mil. Tavares teria então transferido o restante de sua própria conta.
MP e PF
Celina afirma ter gravado a denúncia de Tavares e que pretende entregá-la ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal nesta terça-feira (8). “São vários pagamentos que ele não soube precisar. Há o depoimento gravado, de mais de 30 minutos e mais coisas que ele falou informalmente. É uma denúncia muito rica, com muitos detalhes”, disse.
A deputada disse ter acertado com Tavares um depoimento dele em audiência pública na Câmara Legislativa do Distrito Federal. O depoimento à comissão deveria ter acontecido nesta manhã, mas pouco antes do horário combinado, Tavares informou por meio de seu advogado que não compareceria por motivos de saúde.
Segundo Celina, Tavares teria demonstrado medo e, por isso, ela teria encaminhado um ofício pela Comissão de Direitos Humanos e Ética da Câmara Legislativa do Distrito Federal pedindo ao diretor geral da Polícia Civil do DF a inclusão de Tavares em um programa de proteção à testemunha.
“Ele pode mudar de ideia, mas tenho o áudio do que ele falou. Ele pode ser pressionado, mas isso não me preocupa. Quem tem que se preocupar é o próprio governador”, disse Celina ao G1.
Apesar da denúncia, a deputada disse acreditar que será difícil levar adiante a investigação na Câmara Legislativa, onde Agnelo conta com o apoio da maioria dos deputados. Além disso, afirma que o ambiente político está “tenso” desde a exoneração de 60 delegados da Polícia Civil do DF.
As exonerações aconteceram após o vazamento de gravações que ligam Agnelo a João Dias, delator das denúncias que culminaram na demissão do ex-ministro do Esporte, Orlando Silva.
“O que não pode acontecer é esse tipo de manobra de dificultar CPI, esse clima de todo mundo estar com pavor com essa troca de polícia. Nossa sorte é que como Agnelo se envolveu nas denúncia que derrubou um ministro de Estado, essa não é mais uma pauta local, é de interesse nacional”, disse.
Leia a íntegra da nota do Governo do Distrito Federal"Em relação à suposta denúncia divulgada pela deputada Celina Leão na manhã de hoje (7/11), temos a esclarecer:
A origem política da denúncia já esvazia a credibilidade de tal versão. É mais uma tentativa desesperada da oposição de construir algo que relacione Agnelo Queiroz a qualquer irregularidade. Como não conseguem encontrar ato algum irregular na gestão de Agnelo Queiroz à frente do governo do Distrito Federal, tentam buscar em situações antigas.
Agora, uma deputada de oposição aparece com um documento de um suposto denunciante, que nem à Câmara Legislativa compareceu. Ela é autora de uma versão contaminada por uma luta política desleal. Ao longo de sua trajetória, Agnelo Queiroz teve contato com as mais diversas pessoas, e tentam construir versões falsas para fatos isolados ocorridos em algum determinado período.
Em relação ao referido depósito, Agnelo Queiroz se recorda que foi a devolução de uma quantia concedida em empréstimo à referida pessoa, realizada de forma transparente. Associar esse depósito a uma origem irregular é mais uma tentativa criminosa de acusação vazia contra Agnelo Queiroz. Não é crível que este receberia algo irregular em sua conta corrente.
O governador Agnelo Queiroz lamenta as tentativas de se construir tais denúncias em busca de atos irregulares que não existem.
A deputada Celina Leão, por estar divulgando essa versão criminosa, vai ter que responder judicialmente por tais acusações."
Leia a íntegra da nota da União QuímicaInformo que o Sr. Daniel Almeida Tavares foi funcionário da empresa União Química Farmacêutica Nacional S/A, demitido em 30.11.2009, inclusive promoveu ação trabalhista contra a União Química, em trâmite perante a 19ª Vara do Trabalho de Brasília-DF, sob o nº. 0000659-02.2010.5.10.0019, pleiteando a reintegração do emprego, a qual foi indeferido pelo Juiz, conforme trecho da decisão abaixo e íntegra em anexo.
Informo ser totalmente improcedente qualquer denúncia feita por essa pessoa.
A União Química Farmacêutica Nacional é uma empresa fundada em 1936, que acaba de completar 75 anos de história, contando com mais de 2.000 colaboradores, e com 2 unidades fabris localizadas nos estados de Minas Gerais e São Paulo e um Pólo Industrial, localizado no Distrito Federal."