- Por Rosualdo Rodrigues/CB - Ângela Maria ficou oito anos sem entrar em um estúdio de gravação. Andava chateada com o mercado fonográfico e, especialmente, com o tratamento que recebeu da Sony Music, na qual gravou discos como Pela Saudade que me Invade, Sucesso sempre! (com Agnaldo Timóteo), Ângela Maria e Cauby Peixoto ao vivo e Ângela Maria e amigos. “Não é certo: porque a crise está braba, a gravadora simplesmente dispensa os artistas! Fui despedida e isso me deu uma revolta muito grande, porque eu vendia bem. Estava viajando quando fui dispensada, nem me chamaram para explicar. Fiquei sentida”, confessa.O período de recolhimento acabou no ano passado, quando ela foi convencida pelo empresário Daniel D’Ângelo a voltar a gravar. “Ele me disse: ‘Você tem um público enorme, o problema é com o mercado, você não acabou’”. E tinha mais uma coisa: 2011 marcava o 60º aniversário de lançamento do primeiro disco da cantora. Argumentos aceitos, Ângela Maria entregou ao produtor Tiago Marques Luiz a função de concretizar
o novo álbum, não por acaso batizado de "Eu voltei".
“Foi uma tarefa difícil e prazerosa. Difícil por conta da expectativa que o público dela tem por um novo trabalho, depois de oito anos. Prazeroso porque não há tradução para a emoção que é ver Ângela Maria em estúdio, aos 82 anos, dando verdadeiros shows de interpretação”, conta Tiago, que assina a seleção de repertório em parceria com a cantora.
Algumas músicas, no entanto, eram escolhas prévias da “dona” do disco. É o caso de
O portão, sucesso de Roberto e Erasmo Carlos, que abre o repertório e da qual foi tirado o título do álbum.
“Essa música ficou muito conhecida por causa do comercial (a canção foi utilizada como tema de um anúncio de cigarros nos anos 1970), Roberto Carlos não a cantava e ela nunca foi gravada por uma mulher. Mas, quando eu canto em show, o auditório vem junto no refrão. E quando eu falava com o público sobre o novo CD, logo me pediam para incluir a música”, conta Ângela, justificando a escolha.
Estrada de ouroFazendo uma espécie de passeio pela trajetória da própria Ângela Maria — e, de certa forma, evidenciando a capacidade de renovação da intérprete —,
o repertório inclui compositores de diferentes gerações da música brasileira. Jair Amorim e Evaldo Gouveia, autores de grandes sucessos na voz de Ângela — como Tango pra Tereza —, não podiam faltar.
Deles, ela gravou desta vez Eu não sei, que entrou também como forma de homenagear o primeiro intérprete a gravar a canção, Altemar Dutra. “Sou fã do Altemar”, diz a cantora, grande amiga do cantor de Sentimental demais, morto em 1983.
Da “velha guarda”, há também Antônio Maria (Menino grande) e Haroldo Barbosa (Bar da noite, dele e Bidu Reis). Mas o repertório avança na linha do tempo e traz músicas de Tom Jobim e Luiz Bonfá (A chuva caiu), Caetano Veloso (Esse cara), Chico Buarque (Olhos nos olhos), Ivan Lins e Vitor Martins (Espelho de camarim) e até da dupla de linha mais pop Dalto e Cláudio Rabello (o hit Muito estranho ganhou versão abolerada). Ângela lamenta não ter incluído alguma canção de Peninha. “Preciso gravar o Peninha. Ele tem muita coisa boa, mas que só está em discos dele.”
Se depender do entusiasmo de Ângela Maria, não faltará oportunidade para isso. Aos 82 anos, ela contesta quando é tratada por “dona Ângela”.
"Dona, não, por favor. Sou uma garota", brinca.
“Orgulho de tudo o que eu fiz até hoje, porque foi feito com alegria e com presença marcante do público”, declara.
Mas Ângela reconhece que há momentos que marcaram especialmente a memória, como quando ela completava 78 anos e estava fazendo show em Recife. “Eu estava me apresentando no Recife Velho e eram umas 50 mil pessoas cantando parabéns, havia autoridades, fogos… Foi muito emocionante!”