- Por Fernando Rodrigues/Uol - Além da crise de relacionamento político entre o Palácio do Planalto e o Congresso, um outro fator está cada vez mais presente na atual paralisia do Poder Legislativo: 130 deputados e 7 senadores cogitam no momento a possibilidade de serem candidatos a prefeito nas eleições municipais de outubro. O número é resultado de levantamento feito pelo repórter Fábio Brandt. Parte desses 137 possíveis candidatos acabará não disputando a eleição, mas todos hoje estão envolvidos em negociações frenéticas em suas bases para fazer alianças. Há uma conexão direta entre esse tipo de operação em curso e a insatisfação demonstrada por deputados e senadores em relação ao tratamento recebido do Palácio do Planalto.
Congressistas que pretendem se tornar prefeitos precisam mostrar nas bases que têm poder para liberar dinheiro do Orçamento ou para indicar apadrinhados para cargos federais que são exercidos nos Estados.
Essa é mais uma razão para duvidar de uma possível melhora do clima político entre Congresso e Planalto nas próximas semanas e meses. Quando a sobrevivência política-eleitoral está em jogo, os deputados e os senadores não ficam muito preocupados em atender aos desejos da presidente Dilma Rousseff no Poder Legislativo.
Na Câmara, os partidos que mais têm pré-candidatos são PT, PMDB e PSDB (19 possíveis postulantes cada). Em seguida aparecem PSD (11), DEM (10), PR e PSB (9 cada) e PTB (8). No Senado, PT, PMDB e PSDB têm 2 possíveis candidatos cada. O PC do B tem 1.Abaixo, quadro com dados do levantamento sobre a Câmara e o Senado.
Veja a lista dos 130 deputados em exercício que podem ser pré-candidatos.
O levantamento mostra ainda que as cidades mais disputadas pelos congressistas são Salvador (7 deputados são possíveis candidatos) e Recife (5 deputados e 2 senadores). Na segunda colocação aparecem Manaus (5 deputados e 1 senador), São Paulo (5 deputados) e Belém (4 deputados e 1 senador).Com os dados é ainda possível saber que há 65 deputados que podem ser candidatos em capitais e 65 que podem concorrer em cidades do interior. Já os 7 senadores são cogitados para prefeituras de capitais.
Fora do exercício
Além dos 513 deputados em exercício, a situação dos 72 fora do exercício (foram eleitos em 2010, mas estão licenciados, são suplentes, perderam o mandato ou renunciaram). Seriam 74 nessa condição, mas o levantamento não incluiu 2 deputados eleitos em 2010 e que já morreram.
Desses 72 deputados eleitos em 2010 e hoje fora da Câmara, 12 podem ser candidatos a prefeito na eleição de outubro: 4 do PSDB, 3 do PMDB, 1 do PP, 1 do PSB, 1 do PTB, 1 do PSD e 1 do DEM. Abaixo, quadro com os nomes desses possíveis candidatos.
Método
Os números do levantamento foram obtidos com assessores e líderes dos partidos. Levam em conta os potenciais candidatos e provavelmente sofrerão mudanças até os partidos se inscreverem nas eleições (o que poderá ser feito de 10.jun.2012 a 5.jul.2012).
No Senado, por exemplo, a lista inclui os senadores Eduardo Braga (PMDB-AM) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Ambos são potenciais candidatos, mas suas candidaturas são incertas, para dizer o mínimo. Braga acaba de assumir como titular da Liderança do Governo no Senado –certamente abrirá mão dos planos de ser prefeito de Manaus. Jarbas, por outro lado, é cogitado como candidato a prefeito do Recife para unificar outros partidos de oposição (PSDB, PPS e DEM). Mas trata-se só de uma hipótese remota, pois o senador pernambucano tem dito não ter interesse nesse projeto no momento.
Diversos outros casos são incertos. Muitos pré-candidatos devem sair da disputa nos próximos meses para apoiar aliados ou assumir outros cargos. Em outras situações, há mais de um congressista do mesmo partido interessado em ser prefeito de uma única cidade. Apenas um deles poderá concorrer. É o que ocorre, por exemplo, em Belém, com o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) e o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA). Ambos desejam ser prefeitos da capital paraense.
Ainda assim, com todas essas ressalvas, o fato é que 137 congressistas estão diretamente envolvidos no processo de escolha de candidatos a prefeitos de suas cidades –para serem eles próprios os candidatos ou para trem proeminência no processo. E quando há esse tipo de operação em curso, o Congresso acaba trabalhando muito menos.