- Por Letícia Macedo, do G1 -
Policiais envolvidos na ocorrência foram presos, diz PM
Homem morreu na Avenida das Corujas, na Zona Oeste.
O empresário Ricardo Prudente de Aquino, de 39 anos, foi morto por policiais militares nesta quarta-feira (18), na Avenida das Corujas, próximo à Praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Segundo a PM, a ação ocorreu durante uma tentativa de abordagem. Três policiais militares envolvidos na ocorrência foram presos, segundo a PM.
Pelo menos cinco disparos foram feitos contra carro de publicitário (Foto: Letícia Macedo/G1)
A Polícia Civil afirmou que os disparos dos policiais militares que mataram o empresário Ricardo Prudente de Aquino, na Zona Oeste de São Paulo, na noite de quarta-feira (18), foram dados a curta distância e que houve falha operacional na conduta dos PMs. A corporação já tinha admitido mais cedo que há indícios de falhas na conduta do cabo e dos dois soldados. Eles foram autuados em flagrante por homicídio doloso e levados para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte.
Segundo a Polícia Civil, a abordagem ao empresário ocorreu às 22h25, conforme indicaram as câmeras de segurança de prédios no entorno. Segundo o boletim de ocorrência, os policiais militares observaram que o veículo de Aquino, um Ford Fiesta, trafegava em alta velocidade e começaram uma perseguição. Outros carros e motos da PM fizeram o reforço. Ao chegar à Avenida das Corujas, no Alto de Pinheiros, o Fiesta foi fechado um carro da polícia. Sem que o motorista reagisse, os PMs atiraram. Ricardo foi morto com dois tiros na cabeça. Um disparo atingiu a têmpora do empresário.
A vítima foi socorrida ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu.“Tanto a Polícia Civil como a Polícia Militar estão comprometidas com a legalidade. Houve uma falha operacional e diante desse quadro [o delegado] Pedro Ivo decidiu autuar em flagrante os componentes dessa viatura”, disse o delegado-seccional Dejair Rodrigues.
O subcomandante geral da PM, coronel Hudson Camilli afirmou que a reação dos policiais foi baseada em aspectos subjetivos. “É um momento crítico. O cidadão desobedeceu uma ordem legal da polícia e dali para frente qualquer circunstância é muito complicada”, argumentou. "Legalmente a postura foi inadequada, não atendeu aos pressupostos legais, de forma que eles [os policiais] estão sendo presos em flagrante."
De acordo com o subcomandante, a fuga do empresário no momento da abordagem teria levado os policiais militares a imaginar que o motorista estava armado e portanto haveria ameaça à vida dos policiais.“No aspecto técnico, a ação deles não pode ser criticada. A ação foi feita imaginando que haveria injusta agressão contra eles, mas o indivíduo não estava armado portanto existem reparos a serem feitos no aspecto legal. Não havia justificativa legal para a ação”, disse.
Vídeos mostram ação da polícia que terminou com morte de empresário
Câmeras na região de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, registraram a perseguição policial que terminou com a morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino, na noite desta quarta-feira (18). Uma delas flagrou o momento em que o veículo do empresário é interceptado por um carro da Polícia Militar. Não é possível visualizar, porém, o momento dos tiros por causa do farol alto do automóvel da vítima.
O subcomandante coronel Hudson Camilli, disse nesta quinta-feira (19) que a ação dos policiais foi "tecnicamente correta", porém sem "justificativa legal". Dois soldados e um cabo foram detidos por terem atirado contra o carro do empresário, que teria fugido de uma abordagem policial.
O coronel negou que a Polícia Militar tenha cometido erros sucessivos neste mês no estado de São Paulo ao ser questionado sobre casos recentes de mortes cometidas por PMs. Nesta madrugada, em Santos (SP), um carro foi atingido com mais de 25 tiros e um jovem morreu. Quatro policiais que participaram da ação foram presos em flagrante.
De acordo com o coronel, neste mês 47 pessoas foram mortas por policiais. Ele afirma que isso significa que 36% das abordagens com situações de confronto terminaram em mortes no estado. Tanto os três policiais que atuaram na ocorrência em São Paulo quanto os quatro de Santos são novatos: estão há menos de cinco anos na corporação. Ele disse que caso o processo administrativo mostre que eles fizeram o julgamento correto na ação, poderão não sofrer penalidades.
MaconhaNo carro, foram encontrados 50 g de maconha, mas a Polícia Civil não sabe informar se isso teria eventualmente motivado o motorista a não obedecer a ordem de parada.
Segundo o delegado seccional, os policiais alegaram ter atirado porque viram que o motorista tinha um objeto preto na mão. “Apurou-se que o objeto era um celular”, disse o delegado. Os PMs não tinham registro de má conduta. A vítima não tinha passagem pela polícia.
Família desoladaPara a publicitária Lélia Pace Prudente de Aquino, de 35 anos, a palavra pesadelo define os instantes após saber da morte de seu marido, o empresário Ricardo Aquino, foi morto por policiais. "Para mim, ele é minha família. Ele é tudo o que eu tinha. Não sei como vou continuar daqui para frente."
Foto de casamento de Ricardo e Lélia Aquino. Uma família desfeita por policiais irresponsáveis.
Lélia e Ricardo estavam juntos havia nove anos, sendo quatro como casados. A publicitária estava tentando engravidar, já que o casal não tinha filhos. "É tão difícil encontrar uma pessoa que você ame e que faça tudo por você. Ele era assim. Tinha um coração excelente, batalhador, sempre ajudava as pessoas. Amigo, companheiro."TorpedoLélia afirma que soube da saída do marido da casa de um amigo através de um torpedo, na noite de quarta. O celular do empresário estava sem bateria, e quem enviou foi o colega.
"Recebi o torpedo às 22h50, dizendo que ele tinha acabado de sair de Alphaville e estava vindo para casa. E não chegava. Esperei até meia-noite e pouco", recorda. "Fiquei pensando: será que ele parou em uma padaria? Será que foi no aniversário do amigo dele? Sabe quando você imagina tudo?", contou.
Ela diz ter sido acordada por uma ligação dizendo que Ricardo havia sofrido um acidente de carro.
"Pensava ser um trote."
A Polícia Militar emitiu nota para esclarecer a abordagem. "Ressalta-se que os Policiais Militares do estado de São Paulo são submetidos a treinamentos constantes quanto aos procedimentos operacionais padrão e que tal atitude será apurada com rigor pois dão indícios de falhas de procedimento inaceitáveis. Dessa forma a Polícia Militar pede desculpas à família, à Sociedade e esclarece que, após as apurações, os envolvidos pagarão pelos seus erros na medida de suas atitudes", informa o texto. (Veja íntegra da nota abaixo)
Este erro acabou com a minha vida.
Talvez caia a minha ficha daqui a meses, anos,
eu não sei. Para mim, é um pesadelo"
Lélia Pace Prudente de Aquino,mulher da vítima.
Segundo familiares, Aquino havia ido visitar um amigo em Alphaville quando voltava para casa. Ele foi morto próximo ao seu apartamento, também na Zona Oeste.
A publicitária Lélia Pace Prudente de Aquino, de 35 anos, mulher da vítima, conta que recebeu uma ligação às 2h54 pedindo que ela comparecesse à delegacia, porque seu marido havia se envolvido em um acidente de trânsito. Em estado de choque, a publicitária, que era casada há quatro anos, afirmou ainda não acreditar no que ocorreu.
“Só sei que ele foi executado e eu não sei por qual motivo. Eu me perguntei se ele tinha fugido de alguma blitz do bafômetro, mas nada justifica três disparos contra uma pessoa que está dirigindo. Para mim, em qualquer momento, alguém vai falar que foi um engano: ele foi sequestrado, deram um tiro no sequestrador e ele fugiu”, afirmou.
Mulher da vítima tenta entender o que aconteceu. (Foto: Letícia Macedo/G1).
Antes de a PM informar que há indício de falha durante a abordagem, a mulher de Aquino criticou a ação. “Este erro acabou com a minha vida. Talvez caia a minha ficha daqui a meses, anos, eu não sei. Para mim, é um pesadelo. Como, infelizmente, neste país não existe Justiça, não sei nem o que esperar. O que eu esperava já não vai acontecer. Eu queria ele vivo e isso eu não vou ter”, disse.
Outros casosNesta quarta-feira (18), a Corregedoria da PM informou que investiga a conduta de seis policiais suspeitos de ter espancado e roubado um taxista na madrugada de domingo (15) na região central da capital paulista. A agressões teriam ocorrido na Avenida Rio Branco, e incluído chutes na cabeça do rapaz.
Um aparelho instalado no veículo para comunicação do taxista com a central, chamado de PDA, também teria sido levado pelos PMs, segundo o motorista. Em depoimento, ele contou que tudo começou ao passar em alta velocidade por um carro da polícia na Rua Alfredo Maia, na Luz, quando levava uma passageira com urgência para ser atendida na Santa Casa de Misericórdia.
Na semana passada, dois rapazes teriam desaparecido em Guarulhos, na região metropolitana, após uma abordagem da Força Tática da PM. Nesta terça (17), moradores protestaram contra o sumiço dos jovens, incendiando um ônibus na cidade.Nota da PMLeia abaixo a íntegra da nota enviada pela PM:"A Polícia Militar do Estado de São Paulo lamenta a ocorrência na qual Ricardo Prudente de Aquino faleceu após tentativa de abordagem, na noite de ontem. As circunstâncias estão sendo apuradas. As informações preliminares indicam que ele se evadiu de uma abordagem policial, despertando a atenção dos patrulheiros, que começaram um acompanhamento.Outra equipe que participou do cerco parou a via para tentar interceptar o veículo, mas o veículo de Ricardo bateu na viatura. De acordo com os primeiros dados apurados, no momento da abordagem, visualizaram Ricardo com um objeto na mão e atiraram, pensando se tratar de uma arma. Socorrido ao Hospital das Clínicas, Ricardo faleceu. No veículo não foi encontrada arma. Apura-se se os Policiais, devido às circunstâncias, teriam confundido o aparelho de celular com uma arma. Por esse motivo foram presos em flagrante no Presídio da Polícia Militar Romão Gomes.Ressalta-se que os Policiais Militares do estado de São Paulo são submetidos a treinamentos constantes quanto aos procedimentos operacionais adrão e que tal atitude será apurada com rigor pois dão indícios de falhas de procedimento inaceitáveis. Dessa forma a Polícia Militar pede desculpas à família, à Sociedade e esclarece que, após as apurações, os envolvidos pagarão pelos seus erros na medida de suas atitudes"