Impacto financeiro das novas regras sobre partilha nos cofres dos Estados produtores deve levar o STF a apressar o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade
- Por Felipe Recondo e Eduardo Bresciani, de O Estado de S. Paulo - BRASÍLIA - O impacto financeiro das novas regras de divisão dos royalties nos cofres dos Estados produtores de petróleo deve levar o Supremo Tribunal Federal (STF) a acelerar o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade (Adin) contra a lei. Ministros consultados pelo Estado disseram nesta quinta-feira que a Corte deve adotar um tratamento "célere" para a questão.
A confirmação da derrubada dos vetos foi divulgada pelo Congresso Nacional nesta quinta e a decisão deve ser publicada nesta sexta. Dos 63 senadores que votaram, 54 optaram pela derrubada de todos os vetos.
Na Câmara, o placar teve diferença de acordo com o dispositivo vetado, mas todos foram derrubados, com placares de 349 a 354 votos nessa direção entre os 405 deputados que votaram.Com a publicação, abre-se o prazo de 48 horas para que a presidente Dilma Rousseff promulgue a decisão. Somente após este ato, os governos de Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo deverão acionar o STF.
Na Corte, o entendimento é que devido à gravidade da decisão é preciso definir com brevidade qual dos lados em disputa tem razão. Principal Estado produtor, o Rio de Janeiro estima em R$ 5 bilhões anuais suas perdas. A celeridade, segundo os magistrados consultados, pode ser dada avaliando o mérito da ação ou julgando a liminar da ação em plenário. O ministro Luiz Fux, que já havia no ano passado suspendido a votação dos vetos por meio de medida liminar, verbalizou a intenção.
"Se efetivamente tiver influência sobre o pacto federativo, se for algo que possa acarretar desorganização institucional de alguns Estados, a própria lei que regula as ações diretas de inconstitucionalidade prevê rito mais célere", afirmou.
Em caso excepcional, o tribunal poderá julgar o caso imediatamente, sem sequer ouvir o Congresso, a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Ministério Público.
Cenários Dois outros cenários, porém, são os mais prováveis. Caso o tribunal opte por julgar a liminar que será pedida pelos governos dos Estados produtores, o relator do processo no STF terá de ouvir previamente o Congresso. Se optar por julgar definitivamente o caso - sem avaliar a liminar - o tribunal terá de pedir informações ao Congresso e a manifestação da AGU e do MP.
Nestas duas hipóteses, no entanto, a decisão demoraria algumas semanas, o que ainda seria breve para a média de tramitação de processos judiciais. O tumulto que marcou a sessão de votação prosseguiu nas movimentações das bancadas de Estados produtores ao longo do dia de ontem.
Eles reclamaram da forma como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), conduziu a votação e prepararam um novo mandado de segurança, que seria encaminhado de forma eletrônica ao STF até o final da noite de ontem, pedindo a anulação da sessão.
Entre as reclamações está a limitação do tempo destinado a discursos e contestações durante a sessão, entre outros procedimentos regimentais.
Também será feito adendo ao mandado que aguarda o julgamento de mérito sobre a possibilidade de votação do veto dos royalties antes dos outros 3 mil que aguardam votação.
O relator dos processos, Luiz Fux, adiantou que pedirá informações ao Congresso antes de julgar. Mas, se concordar com os pedidos, poderá anular a sessão e, por consequência, a derrubada dos vetos.
Suspeita de fraudeO líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), tenta ainda anular a sessão por suspeita de fraude. Ele afirma que o nome do deputado Zoinho (PR-RJ) estaria na lista de votação mesmo com o parlamentar estando em viagem na hora da votação. Garotinho deseja obter uma cópia da lista para confirmar a informação e fala em procurar a polícia para investigar eventual falsificação de assinatura.