Ministério Público vai investigar uso de recursos públicos na compra de combustível para a aeronave e para o pagamento do piloto Rogério Almeida Antunes, preso com 443 quilos de cocaína.
Por Marcelo Portela - O Estado de S. PauloBELO HORIZONTE - O deputado estadual
Gustavo Perrella (SDD) usou verbas indenizatórias da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais para abastecer o helicóptero apreendido no último fim de semana com 443 quilos de cocaína.
Polícia Militar apreendeu o helicóptero no fim de semana - Divulgação
O Ministério Público Estadual instaurou procedimento para investigar o uso de recursos públicos na compra de combustível para a aeronave - que pertence à empresa de familiares do pai dele, o
senador Zezé Perrella (PDT) - e para o pagamento do piloto Rogério Almeida Antunes, que foi preso com a droga.
Nesta quinta-feira, 28, a Mesa Diretora da Assembleia mineira decidiu proibir o reembolso de abastecimento de aeronaves. De acordo com os dados de prestação de contas da Assembleia Legislativa relativos à verba indenizatória,
Gustavo Perrella gastou, apenas em 2013, pouco mais de R$ 40 mil com combustível.
Deste total, R$ 14 mil são referentes a notas para reembolso de gastos com querosene para abastecimento do helicóptero Robinson R-66, de propriedade da Limeira Agropecuária e Participações Ltda., fundada pelo pai do deputado. Atualmente, a empresa tem como sócios Gustavo, sua irmã Carolina Perrella e um primo deles, André Almeida Costa.
A assessoria do parlamentar alegou que o regimento do Legislativo "permite a todos os deputados estaduais" usar até R$ 5 mil por mês para abastecimento "de veículos e aeronaves". "Conforme pode ser verificado pelas notas fiscais arquivadas na ALMG, o deputado utilizou a verba para abastecimento de seus veículos e aeronave somente para fins parlamentares em visitas às bases eleitorais, distribuídas em cerca de 150 cidades em várias regiões do Estado", diz a nota.
O texto afirma ainda que, em novembro, "não foi pago com verba pública nenhum abastecimento da aeronave do deputado". O parlamentar, no entanto, tem 90 dias para apresentar as notas para reembolso.
O uso de verba indenizatória para abastecer a aeronave particular já levou o Ministério Público a instaurar investigação também contra Zezé Perrella relativa ao período em que o atual senador ocupava cargo de deputado estadual em Minas, na legislatura anterior.
Segundo o promotor Eduardo Nepomuceno, o procedimento está "bem adiantado" e
o senador pedetista e ex-presidente do Cruzeiro deverá ser alvo de ação por improbidade administrativa.
Gustavo Perrella, além de utilizar a verba indenizatória para abastecer o helicóptero, indicou Rogério Antunes para um cargo na 3.ª Secretaria da Mesa, ocupada pelo deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT).
O piloto só foi exonerado após a divulgação de que ele era funcionário da Casa, dois dias depois de ser preso em flagrante com mais três pessoas no município de Afonso Cláudio (ES).‘Farinhaço’.
Nesta quinta, dezenas de pessoas promoveram um "farinhaço" na Assembleia. Eles espalharam farinha de trigo nas escadarias e na entrada da Casa, em referência à cocaína apreendida no helicóptero.
Após o protesto, a Assembleia divulgou nota informando que a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar do Legislativo mineiro vai realizar "todas as apurações necessárias" sobre o caso.
ENTENDA O CASOMandatário do
Cruzeiro Esporte Clube, do qual foi presidente por mais de um mandato, o
senador Zezé Perrela (PDT-MG) está com mais um grande problema para administrar.
Dono de trajetória polêmica na política mineira, ele viu na tarde desta segunda-feira 25/11 seu filho, o
deputado Gustavo Perrela (SDD-MG) ser envolvido na
apreensão de 450 quilos de cocaína, que estavam sendo transportadas no helicóptero da
Limeira Empresa de Pesquisa Agropecuária, que funciona em nome de Gustavo e seus irmãos.
A apreensão ocorreu na cidade de Afonso Cláudio, no interior do Espírito Santo. O piloto foi preso com mais três pessoas, cujas identidades ainda não foram reveladas.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, contratado pelos Perrela, afirmou que o piloto pegou o helicóptero sem autorização da companhia.
"Ele usou fora do ambiente de trabalho, sem autorização, e ainda para fim absolutamente ilegal", afirma Almeida Castro, conhecido como Kakay. De acordo com ele,
Gustavo Perrella estava em Brasília no momento da operação. O helicóptero costuma ficar estacionado em um restaurante em Belo Horizonte, segundo o advogado. Kakay afirmou que a família procurou a Polícia Civil para registrar uma ocorrência por apropriação indébita.