BRASIL - GUERRA RETÓRICA E MULTIPLICIDADE DE VERSÕES OFICIAIS
1 de fev. de 2011
Gênios e imbecis
- Do Blog do Alon - Os médicos não se entendem, cada um tem uma receita, estão todos ciosos da necessidade de proteger a reputação, estapeiam-se para brilhar diante das câmeras, falam mal dos colegas de fora. Mas, infelizmente, o paciente continua com febreO "debate" entre as autoridades brasileiras e os números do Fundo Monetário Internacional é típico. Como o FMI passou do elogio à crítica, trata-se de desqualificá-lo. A desqualificação da crítica era norma no governo anterior e a retomada do método talvez seja sintoma de dificuldades.Tem sido assim nos últimos anos. Quando o Brasil é elogiado "lá fora", inclusive pelo Banco Mundial, FMI e outros ex-demônios, é um ativo político aqui dentro. Quando é criticado, em vez de contra-atacar no mérito prefere a desqualificação. Os gênios que nos elogiam transformam-se nos imbecis que nos criticam.
Cansado da retórica? Deseja saber onde, afinal, está a verdade? Concentre-se nos fatos.A pressão da inflação é um fato. Tanto é que o Banco Central retomou a alta do juro básico. E o BC é um órgão do governo brasileiro, não do FMI.A acusação é que as contas públicas afrouxaram em 2010. O governo diz que foi um mecanismo anticíclico. Os críticos refutam, afirmam que a economia ano passado já estava bem e que o expansionismo fiscal teve motivação política. Para empurrar o crescimento a um patamar eleitoral, não sustentável.Um debate instigante. Entrementes, o paciente continua febril.
Nos últimos tempos o Brasil é acusado de recorrer a maquiagens na contabilidade para fingir que está tudo bem, quando talvez não esteja. O superávit primário é suspeito de ter virado peça de ficção. As autoridades econômicas parecem magoar-se com as críticas. Compreensível e humano. Para além da mágoa, porém, há um detalhe. A inflação mudou de patamar na reta final do governo anterior.A guerra retórica e a multiplicidade de versões oficiais são uma marca dos dias recentes.
Parece haver certo consenso sobre a necessidade de um corte orçamentário na casa das muitas dezenas de bilhões. Ele pode ser feito virtualmente com facilidade, amputando-se da peça tudo que é sonho, tudo que não seria mesmo executado. Especialmente no capítulo das emendas parlamentares. Resolveria o problema no papel. Mas só no papel.E os cortes reais? Aqui o governo desfila desencontros diários. Vai cortar do PAC ou não vai? A cada dia uma receita. E o custeio? Fora o desejo de não deixar o salário mínimo desgarrar, até agora ninguém disse nada de prático a respeito. Há um cheiro de enrolação no ambiente.
Os médicos não se entendem, cada um tem uma receita, estão todos ciosos da necessidade de proteger a reputação, estapeiam-se para brilhar diante das câmeras, falam mal dos colegas de fora. Mas, infelizmente, o paciente continua com febre. Esse é um fato.Falta alguém para por ordem na casa.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (30) no Correio Braziliense.twitter.com/AlonFeyoutube.com/blogdoalon
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