PF desmonta quadrilha que roubou 120 milhões do INSS no Rio
Fantasmas recebiam benefícios do INSS e até brigavam na Justiça. Fraude durou 28 anos.
Rio - A Delegacia de Polícia Federal em Niterói e a Assessoria de Planejamento (APE) do INSS desmantelaram ontem quadrilha que agia há quase 30 anos e que desviou mais de R$ 120 milhões. O crime envolvia nomes de aposentados já mortos ou fictícios. Eram 400 benefícios entre R$ 1.500 e R$ 2 mil — emitidos pela agência da Previdência em São Gonçalo. O bando fazia recadastramento, empréstimo consignado, declaração de Imposto de Renda e até entrava na Justiça (e ganhava) contra o INSS. O custo mensal desses benefícios era de R$ 600 mil.
A Operação Highlander prendeu nove pessoas (duas estão foragidas), entre elas, ex-servidor do instituto. A investigação começou com denúncia anônima em 2009, explica o superintendente do INSS no Rio, Manoel Lessa. “A APE foi procurada por uma pessoa que denunciou a existência de uma mulher que recebia três benefícios”, explicou.
A força-tarefa identificou que os 400 benefícios foram concedidos entre 1983 e 1994. “Antes da informatização do INSS. Hoje, não seria possível. Temos mecanismos para prevenir fraudes”, comentou Lessa. Segundo ele, a mulher que recebia benefícios foi ao banco sacar. Flagrada pela PF, acabou presa e denunciou outro integrante, um ex-servidor.
Lessa explicou que auditoria interna do INSS já havia identificado mais de 100 benefícios falsos e mandou suspender. Quase sempre iam à Justiça para reaver o dinheiro, com sucesso. “Uma só pessoa tinha até 15 cartões”, revelou o superintendente. “Eles alteravam datas de nascimento dos fantasmas para rejuvenescê-los. Isso deu o nome da operação”, descreveu o delegado Wanderson Pinheiro, responsável pela Highlander. Há suspeita de que alguém tenha facilitado a emissão de CPFs no extinto Banerj. “Havia séries inteiras de CPFs falsos. Na apreensão, muito material de falsificação foi recolhido, com identidades falsas e cartões magnéticos, além de R$ 73 mil em dinheiro”, acrescentou.
Dos três “fundadores” do esquema, só um está vivo e foi preso. Como os anteriores, era servidor, mas aderiu a Programa de Demissão Voluntária em 1998. Homem chamado Benjamim, filho de servidor e vereador em São Gonçalo, herdou cartões do pai. Foi assassinado à porta de casa ano passado.
BENS DE FRAUDADORA VENDIDOSApós primeira tentativa fracassada há duas semanas, os imóveis sequestrados judicialmente da ex-advogada Jorgina de Freitas — que cumpriu 14 anos de prisão por fraudar o INSS em R$ 200 milhões — foram ofertados em um segundo leilão ontem. Segundo a Advocacia-Geral da União (AGU), o resultado foi considerado um sucesso: todos foram arrematados por R$ 1,811 milhão.
Em entrevista à revista Istoé, a ex-advogada alertou que os leilões subvalorizavam os imóveis, levantando suspeitas para outro tipo de fraude na venda do patrimônio. Segundo ela, os primeiros leilões só serviriam como fachada, sem oferta de lances, para que os seguintes permitissem que as unidades fossem arrematadas por preços inferiores aos de mercado. O INSS divulgou nota negando que os valores fossem estipulados pela Previdência.Fonte http://odia.terra.com.br/portal/economia - LUCIENE BRAGA