- Por Alana Rizzo e Fábio Fabrini, do Estadão -
Governador de Goiás tinha no fim de 2010 R$ 1.548.227 em bens e direitos; valor saltou para R$ 3.182.549 no fim de 2011
No ano em que assumiu o governo de Goiás e, segundo investigações da Polícia Federal, vendeu uma casa ao contraventor
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
o governador Marconi Perillo (PSDB) dobrou seu patrimônio com a compra de imóveis e cotas de participação numa empresa.
Suspeito de negociar a mansão no Condomínio Alphaville diretamente com o contraventor e por valor maior que o declarado, o tucano omitiu as transações realizadas em 2011 em depoimento à CPI do Cachoeira.
Ano após ano, ele justifica a entrada de capital em suas contas graças a débitos contraídos com um de seus secretários.Os dados constam das declarações de Imposto de Renda (IR) de Perillo, remetidas à comissão, às quais o Estado teve acesso. Segundo os documentos, o governador tinha em 31 de dezembro de 2010 R$ 1.548.227 em bens e direitos, valor que salta para R$ 3.182.549 em 31 de dezembro de 2011, após a venda da casa, no Condomínio Alphaville.
Nota técnica enviada pela Receita à CPI pondera que não há indícios, pelas declarações, de variação "patrimonial a descoberto", o que será aprofundado nas apurações solicitadas pelo Ministério Público Federal (MPF) e da comissão parlamentar.
As dívidas e ônus declarados somam R$ 2,2 milhões, sendo R$ 1,7 milhão de duas empresas em nome do secretário de Estado de Planejamento, Giuseppe Cecci. Uma delas, a Galula Empreendimentos e Participações, forneceu R$ 700 mil ao tucano em 2007, valor que vem sendo repetido pelo governador nas declarações ao Fisco.
A Diluca Hotelaria e Turismo emprestou mais R$ 570 mil a Perillo em 2008, cifra inalterada no IR referente a 2011. Não consta, no período, nenhum abatimento nos débitos.
Imóvel paulistano.
Concluída a operação de venda investigada pela PF, o governador obteve R$ 800 mil em ações da empresa SCP Boa Esperança. Também
comprou um apartamento de R$ 1,16 milhão para a filha, Isabella Jaime Perillo, no bairro Cerqueira César, área nobre da zona sul de São Paulo, próxima aos Jardins e à Avenida Paulista.
O governador usou um recurso comum para ocultar negócios: registrou o imóvel num cartório de Trindade, nos arredores de Goiânia, em vez de fazê-lo na capital de seu Estado, onde mora, ou na cidade em que ocorreu a compra.
A declaração ainda registra a aquisição de uma gleba de terras em Três Ranchos (GO) por R$ 14 mil, um investimento de R$ 101 mil na construção de uma casa em Palmeira de Goiás e outro, de R$ 32,8 mil, em melhorias na Fazenda Mateus Machado.
Em 2011, Perillo aumentou suas dívidas em R$ 839,7 mil. O grosso desse valor (R$ 580 mil) refere-se a pendência com o proprietário do apartamento vendido ao governador na capital paulista, André Luiz de Oliveira. Nesta sexta-feira, 29, o Estado não conseguiu contatá-lo.
As escutas da Operação Monte Carlo indicam que Perillo recebeu, em vez de R$ 1,4 milhão, como foi declarado à Receita, R$ 2,2 milhões pela venda da casa a Cachoeira. Além dos cheques emitidos por uma cunhada de Cachoeira, ele teria recebido R$ 500 mil em bois. Perillo nega. Em 2011, o governador declarou um rebanho de 1.488 cabeças. Segundo a Receita, ele vendeu 377.
Os dados da Receita mostram que o patrimônio do governador praticamente quintuplicou desde 2001, saltando de R$ 684 mil para os atuais R$ 3,1 milhões. Em 2011, ele recebeu R$ 240,5 mil de remuneração do governo de Goiás, o equivalente a R$ 20 mil mensais. Além disso, constam R$ 284 mil da atividade rural, R$ 158 mil de doação da mulher, Valéria Perillo, e R$ 552 mil de lucro pela suposta venda da casa a Cachoeira.
‘Caráter pessoal’.
Em nota, o governador afirmou que sua evolução patrimonial é compatível com os rendimentos. O tucano negou ainda que tenha omitido informações à CPI. "Ele afirmou que seu patrimônio está declarado à Receita Federal", diz a nota do governo de Goiás. Sobre os empréstimos obtidos com o secretário Vecci, o texto afirma que todas essas operações têm "caráter pessoal".
Embora tenha adquirido vários bens no último ano, Perillo disse que não quitou os débitos porque não tinha como pagá-los.
"É um assunto pessoal, que não diz respeito a suas atividades como governador", alegou o tucano, por meio da assessoria de imprensa do governo de Goiás. Perillo também se negou a informar as atividades da empresa SCP Boa Esperança e quem são seus sócios alegando questões pessoais.